sexta-feira, 31 de julho de 2009

Uma pescaria em África (1)

Comprometi-me no último artigo que hoje contaria uma história sobre uma pescaria em Moçambique, a qual poderia de alguma forma provar porque é que África é uma terra mística e porque é que todos aqueles que nela viveram não conseguem esquecê-la. Pese todo o querer que possuo para escrever tal história que vivi nas férias escolares do longínquo ano de 1969, as limitações temporais que tenho vivido nestes últimos dias, não me dão a margem de manobra que necessito para poder aqui contar essa história.

Fica para o próximo fim-de-semana. Até lá gostaria de deixar a seguinte questão:

- Será possível que numa valeta de uma estrada, que não tem qualquer ligação a um riacho ou lago, que durante 6 meses está completamente seca, com a queda das águas das chuvas em um mês apenas, essas valetas, então cheias de água, já possuem peixes sem que para tal tenha havido a intervenção do homem?

Levantando um pouco o véu, a história que pretendo contar trata uma pescaria numa valeta da Estrada Nacional que liga a Beira ao Zimbabué.

Post Script Um: Embora não seja grande a disponibilidade temporal não posso deixar passar a oportunidade de transcrever um texto que o meu amigo Carlos G. me enviou por e:mail, para além da conclusão sobre a fotografia que publiquei no meu último artigo.

LAPIDAR!!!

a) Vais ter relações sexuais? … O GOVERNO dá-te um preservativo.
b) Já tiveste? … O GOVERNO dá-te a pílula do dia seguinte.
c) Engravidaste? … O GOVERNO dá o aborto.
d) Tiveste um filho? … O GOVERNO dá o abono de família.
e) És viciado e não gostas de trabalhar? … O GOVERNO dá o Rendimento Mínimo Garantido.
f) Cabulaste e não fizeste o 9º ano ou o 12º ano? … O GOVERNO dá-to em 3 meses nas Novas Oportunidades.

Agora… Experimenta ESTUDAR, PRODUZIR e ANDAR NA LINHA para ver o que te acontece!!!... O GOVERNO dá-te uma bolsa de impostos para pagar as alíneas anteriores.


Que lindo Pinheiro de Natal!!!

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Mia Couto

Na semana passada ao perceber que o escritor Mia Couto iria à Biblioteca Municipal de Abrantes, no dia 21 de Julho, apresentar a sua última obra “Jesusalém”, entendi efectuar uma anotação na minha agenda para não faltar. O motivo era óbvio, para além do escritor retratar nas suas obras a vida das gentes e da terra Moçambicana (que me são muito caros), havíamos estudado juntos no mesmo Liceu.

Quando o escritor entrou no átrio da Biblioteca António Botto, pelas 21:30 já tinha à sua espera umas largas dezenas de pessoas que, de pé ou sentadas nas cadeiras disponíveis e nos degraus do hall, apresentavam alguma curiosidade e expectativa sobre a última obra do autor e o que ele tinha a dizer sobre ela.

Sentada ao meu lado a Gina perguntava-me que obra já havia lido de Mia Couto. Nenhuma, respondi eu. Foram várias as vezes que desfolhei alguns dos seus livros e li alguns parágrafos isolados, contudo ler uma obra completa, nunca o fizera. Porquê? Não sei. Falta de tempo. Falta de oportunidade. Nostalgia. Certo, certo é que realmente nunca lera qualquer obra completa daquele autor.

Iniciado o encontro, coube ao Director da Biblioteca abrir a sessão. Munindo-se de duas folhas A4, procedeu à leitura das notas que havia redigido as quais tratavam do “corpo e da alma” da obra que o escritor apresentava: “Jesusalém”. Para um leigo, como eu, das artes literárias, confesso terem sido várias as apreciações técnicas abordadas que não percebi. Não sendo o momento o mais indicado para interpelar o seu autor sobre o significado de algumas palavras por si utilizadas, não tive outra alternativa que não fosse remeter-me ao natural silêncio que esse momento impunha, não me esquecendo porém de bater as palmas no final da sua intervenção, acompanhando os outros (ou será que eram os outros que me acompanhavam?).

Chegada a vez do escritor, este, de uma forma simples e clara, fez uma abordagem da obra e do que esteve na génese da mesma. A mim, pelo menos, não me deixou “pendurado” nas dissertações literárias que entendeu proferir.

À medida que o diálogo se foi estabelecendo entre o escritor e a assistência, comecei a admirar a “verdade” daquele que um dia havia sido meu colega. Essa admiração ganhou relevo quando alguns dos assistentes fizeram conjecturas sobre a possibilidade do escritor ter utilizado na sua obra referências histórico-filosóficas, cantando-lhe loas por isso, enquanto que da parte do escritor a sua resposta a tais hipóteses era de que nunca havia pensado em tal e que a história e a escrita apareceram de uma forma espontânea. Mesmo quando o escritor foi elogiado pela sua audácia em criar novas palavras, com uma humildade do tamanho do mundo, rejeitou tal elogio afirmando que tais palavras derivavam da transposição das palavras dos dialectos locais moçambicanos para o português. Como eu o percebia! Se dúvidas houvessem sobre as tais palavras que o escritor rejeitava como sendo da sua autoria, recordei-me de uma anedota que contávamos em Moçambique:

- Um dia um “mezungo” (homem branco) andava à caça e perdeu-se no mato com o seu jipe. Viu um rapaz preto ao longe e gritou-lhe:
- “Ei Mwana, bueracuno (ó rapaz anda cá)!”
- “Diga Patrão!”
- “ O acampamento de caça é longe?”- perguntou o caçador.
- “ Chi, Patrão. A botear é longe, mas de carro é perto! - respondeu o rapaz preto de pronto.


Onde é que a palavra "botear" entra no acordo ortográfico?

Se intimamente já apresentava alguma vontade de o interpelar, ao perceber o humanismo e a grandeza daquele homem, que a terra moçambicana havia gerado e polido, não me coibi e pedi para intervir.

Sendo aceite o meu pedido, olhei para o escritor e disse:

- “ Gostava de lhe fazer um desafio e uma pergunta.”

- “O desafio é simples: Faça uma viagem no tempo e para muito longe daqui. Recue 40 anos e veja-se a entrar num portão de uma escola. Contorne o edifício da escola pela esquerda (a frente estava reservada aos professores e a direita às raparigas), passe atrás do ginásio dos rapazes, suba uns degraus, passe em frente da entrada para o ginásio vire à direita, suba mais dois lanços de escadas, não entre na 1ª sala, mas pode entrar na 2ª ou na 3ª sala, sente-se virado para o quadro e veja entrar o Fifas (lembram-se do tal professor de português que eu tive e que já aqui escrevi?)”.

- “A pergunta é esta: Nesta altura o clic de escritor já despontava?”


Bem à medida que eu ia falando, um brilhozinho nos seus olhos revelava uma alegria por reencontrar muito longe da sua terra (Moçambique) um antigo colega de liceu. O diálogo que a seguir estabelecemos foi como se estivéssemos apenas os dois naquele espaço. Sendo mais velho que ele alguns meses, não nos lembrámos se de facto chegámos a ser colegas de sala. Talvez sim. Talvez não. Que durante muitos anos partilhámos o mesmo espaço escolar. Inequivocamente.

No fim um forte abraço e uma dedicatória sua no seu primeiro romance TERRA SONÂMBULA que não resisto em partilhar (“Ao Fernando regressando ao Liceu onde fomos meninos. Mia Couto”) foi o que restou antes de cada um continuar a seguir o seu próprio caminho.

Este reencontro veio agitar o álbum de recordações do meu passado. De um passado rico e frutuoso que um dia pegou numa criança com 8 anos e a levou até aos 21 anos, moldando-a em muitos aspectos para o resto da sua vida.

Em homenagem ao Mia, durante algum tempo vou contar algumas histórias que vivi há 40 anos e que irão provar seguramente porque é que a terra africana é mística. O misticismo não radica apenas no exotismo das suas gentes, mas também na própria terra.

No próximo artigo: Uma pescaria.

...

Post Script um: Não concluo o meu artigo de hoje sem que antes aborde um assunto triste e partilhe uma curiosidade da natureza que tive a oportunidade de observar.

No passado sábado o Ilídio “do Pouchão”, como vulgarmente era tratado, “deixou-nos”. Nos últimos meses tive a oportunidade de o conhecer melhor, quando depois de um dia de trabalho bebíamos uma cervejinha na companhia de uns outros amigos e conversávamos sobre tudo e até sobre nada. Admirava a sua força interior e o seu espírito empresarial, característico do homem português, que já escasseia, e que vulgarmente designamos de “antes quebrar que torcer”.

Nesse dia fatídico, estávamos juntos com outros amigos na Lapa participando numa sardinhada na qual ele era um dos seus organizadores. Sabendo que eu não era (e não sou) fã de sardinhas foi o primeiro a prometer-me umas costeletas de javali e cumpriu.

Logo após o almoço uma sucessão de informações que davam conta que alguns seus trabalhadores se encontravam em perigo de vida, não hesitou em atirar às urtigas o pic-nic e ir em busca do salvamento dos seus homens.

A notícia que todos nós não queríamos ouvir veio algumas horas depois: - O Ilídio faleceu.

Durante longos minutos (fala-se em 40 minutos) pediu ajuda no fundo de um poço, do mesmo poço onde se encontravam os seus homens que felizmente se salvaram. Ninguém lhe respondeu.

- Ilídio. Onde quer que estejas, descansa em paz!

...

Curiosidades da natureza: O que será isto?

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Os "estrangeiros" (Parte 2)

Quando escrevi o último artigo, estava longe de imaginar que o mesmo poderia “agitar” algumas consciências. E porque algumas dessas consciências fizeram o favor de partilhar comigo os motivos que jaziam na base da sua “agitação”, entendo dever voltar ao tema, porque se alguma coisa escrevi, muito mais ficou por escrever.

Ao evocar o dirimir de argumentos que se estabeleceu ultimamente entre as duas candidaturas mais bem posicionadas para dirigir os destinos do Concelho que me viu nascer, relativamente ao facto de uma delas apresentar nas suas fileiras, e em lugar elegível, pessoas de outro Concelho, quis mostrar que não é o “berço” que poderá determinar se em matéria de eleições autárquicas alguém pode ser classificado de “estrangeiro” (ou estranho) à causa pela qual pretende ser sufragado.

Mais referi que pese todo o meu “curriculum” de vida que me liga à cidade de Abrantes, caso hoje incorporasse um projecto de candidatura às próximas eleições autárquicas ao Município Abrantino e fizesse parte de uma lista, teria que ser forçosamente identificado como alguém “estrangeiro” ou alguém “fora de jogo” (não gosto da palavra “pára-quedista”). Porquê?

Só quem desconhece o que é ser-se autarca num Concelho é que pode afirmar que quem desempenha tal função é alguém cujo poder pelo qual é investido lhe proporciona uma qualidade de vida superior aos demais.

Um verdadeiro Autarca (também os há falsos, mas felizmente que esses já vão rareando) é aquele cujo relógio já não condiciona o seu tempo de trabalho, o seu tempo de descanso e o seu tempo de atenção à sua própria família.

Um verdadeiro autarca é aquele que, pese toda a determinação que possa evidenciar na tomada de algumas decisões, carrega consigo dúvidas sobre qual o melhor caminho através do qual deverá conduzir a sua comunidade. Estando o seu sucesso intimamente ligado ao sucesso da comunidade da qual é responsável, ele sabe quão injusto pode ser o julgamento que lhe possam fazer e, para além disso, ter de viver com esse julgamento. Será que não é regra a comunidade julgá-lo pelo que não fez
(porque o deveria ter feito!) ao mesmo tempo que se torna insensível diante do que fez (porque era o seu dever!)?

E porque a tarefa é exigente, custa-me perceber como é que alguém que pertence a uma determinada comunidade (na qual reside e tem o seu domicílio; na qual paga os seus impostos; na qual possui interesses particulares nos mais variados domínios e na qual exerce o seu direito de voto) se disponibiliza para gerir e liderar os destinos de uma outra comunidade apenas pelo facto de aí ter nascido e/ou de aí ter uns amigos ocasionais e/ou de aí por vezes desenvolver uma actividade profissional. Se é tanto o amor que evidencia por essa comunidade qual a razão por não a adoptar enquanto verdadeiramente sua?

Sabendo-se que os Autarcas que possuem domicílio num Concelho têm ajudas de custo pelas deslocações que têm de realizar para exercer a sua função de Autarcas noutro Concelho onde foram eleitos, porque será que nunca os ouvi prometer durante as suas campanhas eleitorais que, caso fossem eleitos, renunciavam a tais suplementos financeiros? Não seria normal que o fizessem?

Digam-me então se tais “estrangeiros” têm alguma coisa a perder:

- Se as coisas correm bem. ÓPTIMO!

- Se as coisas não correm bem. PACIÊNCIA! “EU ATÉ SÓ CÁ VIM VER A BOLA". VOLTO AO LUGAR A QUE PERTENÇO!


Será que diante de tais "estrangeiros" não deveremos adoptar uma atitude de desconfiança? Porque raio não vêm eles viver connosco, não contribuem através dos seus impostos para o nosso bem-estar, não vêm partilhar connosco activamente os nossos sucessos e os nossos insucessos?

À parte que me toca, lamento! Não consigo dar o meu voto por um determinado fim a alguém que, para o mesmo fim, não pode exercer o seu.

(Post Script Um : Uma breve referência aos comentários que por vezes recebo e em análise aos textos que aqui vou publicando semanalmente neste blog. Reafirmo a intenção de não os publicar. Porém, continuo disponível para responder a todos aqueles que o fazem sem se esconderem atrás de um anonimato difícil de perceber. Por toda a simpatia ou antipatia que eu possa merecer a alguém prefiro que esse alguém não se manifeste a fazê-lo a coberto de um anonimato. Já que somos tão pequenos em tantas coisas, que sejamos grandes em estatura moral. Será que o anonimato não nos reduz?)

sábado, 11 de julho de 2009

Os "estrangeiros"

Tenho acompanhado com algum interesse as “movimentações” políticas lá para as bandas da terra que me viu nascer.

Nos últimos tempos tive a oportunidade de perceber que uma das candidaturas acusava uma outra de ter na sua lista duas pessoas de um outro Concelho, que nada tinham a ver com o Concelho pelo qual concorriam, enquanto que por parte da outra candidatura visada era justificada a sua presença pelo facto dessas pessoas desenvolverem a sua actividade profissional no Concelho há já alguns anos e serem portadores de mais valias que deveriam ser aproveitadas.

Não sendo já a primeira vez que tal sucede nesta campanha eleitoral (o líder de uma outra candidatura teve que se esforçar para desenvolver uma tese segundo a qual embora não tenha nascido no Concelho era como se tal tivesse acontecido) implicou que eu sentisse a necessidade de escrever algo sobre os “estrangeiros da política local”.

- O que é ser-se “estrangeiro” (estranho) na política de um Concelho? Importa o berço?

Será que eu, tendo nascido na Rua D. João IV na cidade de Abrantes no longínquo ano de 1954, que tendo aprendido as primeiras letras e as primeiras contas na Escola dos Quinchosos até 1963, que tendo vivido ininterruptamente entre 1976 e 1987, onde casei e nasceu a minha filha, onde a minha esposa trabalha desde 1992, onde a minha filha estudou até rumar à universidade, onde a minha árvore genealógica paterna possui 3 gerações e a materna se perde na bruma dos tempos, caso hoje fosse candidato por uma das listas concorrentes na minha terra Natal não deveria ser considerado “estrangeiro”?

Não basta conhecer-se a matéria, é imprescindível conhecer-se o espírito. É o conhecimento do espírito de uma comunidade que determina se alguém, politicamente é ou não “estrangeiro”. Esse conhecimento não se adquire estudando. Adquire-se praticando.

Não tenho dúvidas que pese todo o meu curriculum de vida que possuo com a minha terra Natal, não passaria de um simples “estrangeiro” caso entendesse incorporar uma das listas candidatas às próximas eleições Autárquicas.

Será que não é o espaço onde vivemos, onde estabelecemos os nossos interesses profissionais e cultivamos as nossas pontes com os outros pertencentes à nossa comunidade, que nos impulsiona e motiva a trilharmos caminhos que visem melhorar o índice de satisfação dessa mesma comunidade?

Como é que alguém, vivendo afastado da realidade de um Concelho onde não reside, onde não trabalha nem tem interesses de qualquer ordem, onde não possui um círculo de amigos consistente com quem possa manter contactos regulares e permanentes, onde nem sequer tem direito de voto, consegue convencer uma comunidade a segui-lo?

Pese todo o capital de conhecimentos que essa pessoa possa ter, para mim, enquanto “estrangeiro”, não merece o meu voto, porque tal pessoa tem tudo a ganhar e nada a perder.

Se as coisas correm bem: “ÓPTIMO!”

Se as coisas correm mal: “TENHAM PACIÊNCIA E DESENRASQUEM-SE! VOLTO AO LUGAR A QUE PERTENÇO.”

Post Script Um
: Não concluo o artigo de hoje sem que antes aborde alguns assuntos de uma forma muito ligeira.

Tiro o chapéu a José Sócrates por ter determinado que quem fosse candidato pelo PS às próximas eleições autárquicas não poderia ser, em simultâneo, candidato a deputado da Assembleia da Republica. Para aqueles que estavam a arranjar curriculum político para tais fins convenhamos que foi um sério revés. Ganhou a Democracia e ganhamos todos nós. Já chega de candidaturas do faz-de-conta.

2º Um estudo divulgado no passado dia 7 e desenvolvido pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra revelou que “… Em países como a Inglaterra ou Austrália, a transformação de um cruzamento prioritário numa rotunda, traduz-se numa redução de 40 a 60 por cento na frequência dos acidentes e em mais de 95 por cento nos com vítimas mortais. Também o aumento de capacidade ultrapassa os 40 por cento…”. O estudo refere ainda que “… é uma óptima solução, desde que concebida correctamente. O investimento inicial é extremamente reduzido e são de fácil manutenção…” Quando há duas semanas propus que os três cruzamentos da EN2 no Concelho do Sardoal, no artigo “os cruzamentos da morte” deveriam ter uma intervenção no sentido de se transformarem em rotundas, não posso deixar de sentir alguma satisfação ao conhecer estes estudos agora divulgados. Quanto ao estado dos cruzamentos, continuam na mesma. O Instituto de Estradas nada faz e do facto serve-se a oposição para culpar outros.

3º Esta semana o “três bicas” atingiu o número mágico das 10.000 visitas, no pouco mais de um ano de vida que tem. O número não me deixa indiferente tanto mais que nos meus artigos faço o possível por emitir o meu pensamento fugindo ao conflito e respeitando sempre os outros. Na cadeira de Efective Technical of Comunication que tirei no ano de 1989 no Canadá e que fazia parte do meu curso de Engenharia Civil aprendi que: “Notícia não é o cão morder no homem. Notícia é o homem morder no cão”. Da minha parte não cedo nos meus princípios quanto à não publicação de notícias sobre homens que mordem em cães. Não é a audiência que me motiva a escrever, mas apenas a vontade de pensar com outros. A todos aqueles que por vezes buscam este cantinho: OBRIGADO PELA VISITA!

sábado, 4 de julho de 2009

O abandono da NOSSA Floresta

O facto de, por motivos profissionais ligados à certificação energética, estar ligado à Internet diariamente, faz com que diariamente perceba o que vai no "nosso quintal" e no "quintal dos outros" sem sair da minha secretária. De entre os “portos” que visito está o “site” da Câmara Municipal do Sardoal.

A visita ao site www.cm-sardoal.pt há muito que se tornou obrigatória, pese a fraca qualidade que revela, apenas “salpicada”, uma vez por outra, com um artigo mais interessante.

Há alguns dias atrás, na sua página inicial, publicitava uma reunião sobre o PRODER, a ter lugar no dia 2 de Julho, pelas 18:00 horas, no Centro Cultural Gil Vicente, promovida pela TAGUS, para a qual eram convidadas as Juntas de Freguesia, Associações e toda a população em geral.

Englobando o PRODER (Programa de Desenvolvimento Rural do Continente) várias acções, entendi de uma forma muito transversal, tentar perceber aquelas que poderiam ter aplicabilidade no nosso Concelho, valorizando-o.

Foi assim que depois de uma breve “visita” pelo Google, pude constatar que a floresta e o meio rural eram a alma do programa. Debruçando-me um pouco mais sobre a floresta percebi que em Diário da República de 12 de Agosto de 2008 já havia sido publicado o Regulamento para aplicação dos apoios comunitários à floresta, os quais tinham como objectivo: Promover a modernização das empresas florestais; Adaptar as empresas às exigências ambientais, de segurança e prevenção de riscos; Criar e modernizar as unidades de primeira transformação; Modernizar e racionalizar as operações de exploração e pós-colheita dos produtos; Promover uma maior participação dos produtos florestais nas vantagens económicas decorrentes do processo de transformação e comercialização dos produtos; Desenvolver novos produtos, processos e tecnologias; Promover a integração no mercado. Para estas acções o Programa previa um financiamento a fundo perdido entre 30% e 50%.

A minha surpresa foi maior ao ler no site do PRODER que o prazo para a apresentação dos pedidos de apoio à Modernização e Capacitação das Empresas Florestais iria decorrer entre 19 de Junho e 30 de Setembro de 2009. E o dia 19 de Junho surgia um dia após o governo publicar, em Diário da República, uma Portaria que continha as alterações ao tal Diário da República de 12 de Agosto de 2008 que atrás descrevi.

Vivendo eu num Concelho onde uma fortíssima percentagem do seu território está classificada no seu Plano Director Municipal como Espaço Florestal e no qual a floresta já escasseia e a que escasseia se encontra abandonada esperando por um incêndio que a reduza a um monte de cinzas, tais incentivos poderiam fazer todo o sentido, desde logo, enquanto alavanca para a recuperação e regeneração da floresta àqual seria associada a criação de uns quantos postos de trabalho que o Concelho do Sardoal fortemente carece.

Assim, marquei na minha agenda a data da reunião a promover pela TAGUS e na passada 5ª feira, lá rumei à reunião, independentemente de saber que o assunto em análise apenas me interessava enquanto munícipe de um Concelho rural e florestal, dado o CAE da minha empresa (está por dias MDE - Consultores, Lda) nada ter a ver com a floresta ou demais acções do PRODER.

Reunião que se preze tem de começar após a hora marcada para que os retardatários também possam assistir a ela. (- Quando é que passamos a respeitar os horários?)

Ás 18:30 o representante da TAGUS deu início à reunião. Na sala, 8 participantes (disse bem, apenas foram 8, incluindo eu e a minha esposa e sócia) ouvimos as intenções estratégicas da TAGUS quanto à implementação de acções que visem responder aos desafios que o PRODER propõe e cujos objectivos se centram na fixação da população no território do Ribatejo Interior, mais especificamente nos Concelhos de Sardoal, Abrantes, Constância e Vila Nova da Barquinha.

Foram vários os aspectos positivos e negativos que essa reunião me provocou:

- Tiro o meu chapéu ao Presidente da Assembleia Municipal (Américo Falcão) e ao representante da Junta de Freguesia de Sardoal (Guilherme Martins) por terem sido os únicos autarcas presentes na reunião. Quanto aos demais responsáveis políticos em exercício (quer sejam governo, quer se posicionem na oposição) dois pensamentos me ocorrem: ou já sabem a “missa” toda e não estão interessados ou desconhecem o que o programa trata e também não estão interessados. Bem sei que o horário para alguns talvez não tenha sido o melhor, mas que diabo, tratando-se do interesse dos seus munícipes e fregueses, sendo tantos os eleitos em exercício, será que a presença na reunião, de apenas dois, não configura um total desinteresse sobre um assunto no qual o seu Concelho ou Freguesia pode tirar alguns dividendos reais? Nem a própria Câmara Municipal se fez representar, independentemente de ter promovido a divulgação do evento.

Em termos práticos, deu para perceber que a TAGUS tem ideias, que existem financiamentos disponíveis para certos projectos e que apenas falta quem os queira levar à prática. Da floresta em si, pouco ou nada se abordou porque essa área é da competência exclusiva de alguns, muito poucos, que ano após ano, têm vindo a cavar a sepultura da agricultura portuguesa (os altos quadros do Ministério da Agricultura e os ministros que os vêm titulando). Será que toda a trapalhada que está implantada nesse departamento do estado, em que se continuam a analisar processos de candidatura que já deveriam ter sido analisados há anos, em que se definem prazos de candidatura em que só alguns eleitos (será que não são sempre os mesmos?) têm acesso (porque será?) e em que os interesses reais da agricultura são positivamente determinados por quem dela apenas tem conhecimento à mesa de um restaurante ou como suporte para um negócio privado?

Sei que são muitas as perguntas que formulo e que são as mesmas que qualquer português formula. Julgo que seria muito interessante que, on-line, pudéssemos todos saber quem são os responsáveis pelos projectos apresentados e aprovados pelo Ministério da Agricultura (será que não iríamos descobrir juízes em causa própria?) bem como os seus beneficiários e respectivos apoios financeiros. Numa Política de Verdade aqui está uma proposta que deixo aos Partidos do Poder: Legislem para que seja obrigatório que os portugueses sejam informados sobre quem são os responsáveis pelos projectos de candidatura apresentados e aprovados no Ministério da Agricultura; quem os aprova; quem os beneficia e qual o seu montante; e por último, quem fiscaliza a sua implementação.

Num último assomo final, olho para a “paisagem florestal” do meu Concelho e penso no dia em que o seu abandono, por parte não só dos seus proprietários mas também de todos os decisores políticos que dela perceberam não poder obter os dividendos que gostariam, dê lugar a um conjunto de montes áridos e inóspitos, convidando o abandono final de todo aquele que ainda resida no seu interior ou em seu redor.

Porque é que teimamos em abandonar a NOSSA floresta?