Penso que se fosse perguntado a todos os portugueses para traduzirem, em apenas duas palavras, sobre o que sentem ante o estado a que o seu País chegou, talvez o “apetece fugir” figurasse no topo das preferências.
Para onde quer que olhemos, seja ele Palácio de Belém, Palácio de São Bento, Praça do Comércio ou para o nosso “quintal” (o meu dá pelo nome de "Praça da República")
e ante a nossa incapacidade de compreendermos o incompreensível, penso que, a única coisa que nos resta é mesmo fugirmos para muito… muito longe.
Quando há mais de um ano escrevia que Portugal havia entrado num “salve-se quem puder”, estava muito longe de imaginar que tal pudesse vir a ser tão determinante para a nossa própria sobrevivência. Sem nos darmos conta, de repente, até a nossa capacidade de sonhar nos tem sido cerceada.
Do tal povo heróico e sonhador que a pena de Luís de Camões nunca se cansou de elogiar, apenas resta um povo moribundo que ordeiramente se posiciona numa fila esperando a hora de se entregar nas mãos do algoz.
Como chegámos aqui, todos o sabemos.
Na ânsia de uma vida fácil, premiámos (e vá lá saber-se porquê continuamos a premiar)
aqueles que, com “apurados” dotes oratórios a conquistaram da noite para o dia, independentemente de serem verdadeiros vendedores da banha da cobra ou de ilusões baratas. E eis-nos a eleger oportunistas, vigaristas e trafulhas para nos governarem, na esperança de que, um dia, algumas migalhas que sobrassem das suas bocas vorazes pudessem cair no “nosso colo”.
E essa gente, qual praga, foi-se proliferando à custa da divisão de todos nós acusando todos aqueles que possam, eventualmente, “fazer-lhes sombra” de terem "sede de poder" e serem o reflexo dos seus próprios defeitos. E assim foi engrossando o "bando" que, sob o manto protector de uma justiça que se fez de cega e surda, conseguiu (e ainda consegue) ver legalizados os seus desmandos e desvarios.
Agora, que a “comida” escasseia e mal dá para alimentar o "bando" e quando as migalhas já não caiem, eis-nos de repente “nus e de olhos vendados” vagueando num labirinto de dúvidas e incertezas procurando uma saída segura.
Nunca como agora foram tantos os ingredientes explosivos reunidos na "panela da desgraça". Os inquilinos-mor de Belém e da “minha” Praça da República são cidadãos que assumindo a sua condição de reformados, aparecem às suas janelas presidenciais apenas ao domingo, quando não chove e quando não fazem falta. Nos governos de São Bento e da “minha” Praça da República não se sabe quem manda, ninguém confia em ninguém, os culpados dos seus erros são sempre os outros e ambos esperam por novos milagres de Fátima. As oposições de São Bento e da “minha” Praça da República merecem tanta confiança como aquela que poderemos ter ao confiarmos a um incendiário a tarefa de levarem 10 litros de gasolina a um carro dos bombeiros paralisado numa frente de fogo.
Eis-me assim cidadão de um País em "frangalhos" residindo num Concelho em cacos!
Porque nós só temos uma vida, duas opções nos restam: ou a aproveitamos ou nos resignamos a que outros a aproveitem por nós:
- Que tal a aproveitarmos?
- Que tal recuperarmos de novo a capacidade de sonharmos?
- Que tal voltarmos a ser o Povo que outrora já fomos, valorizando o mérito conquistado através do trabalho e punindo severamente todos aqueles que o queiram conquistar á custa do seu ócio e do trabalho dos outros?
- Que tal escolhermos para lideres homens com H grande que pensem em nós antes deles?
- CONSCIÊNCIA! Porque tardas?
-
JUSTIÇA! Porque dormes?
POST SCRIPTUM
Porque poderá ser no passado que possamos encontrar energias para enfrentar o futuro, talvez seja altura de fazermos algumas "visitas" ao nosso próprio passado e buscar nele o alento que nos possa eventualmente agora faltar.
Permitam-me que partilhe instantâneos de uma certa viagem que realizei há cerca de um ano. Esta partilha tem uns destinatários muito especiais, uma vez que, só eles conseguem perceber o quanto elas são capazes de “acordar” sonhos adormecidos. Elas remetem-nos para um tempo no qual os tais oportunistas, vigaristas e trafulhas que agora nos governam, governando-se com a maior das impunidades, eram isso mesmo: oportunistas, vigaristas e trafulhas que rejeitávamos com todo o desprezo e vigor.
Eis o meu regresso 37 anos depois a um espaço que me conheceu durante sete anos como "sofrível" aluno, mas grande companheiro.
Que saudades!