quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Os nós da corda

Nesta corda que dá pelo nome de Portugal começa a ser cada vez mais difícil identificarmos uma ponta através da qual possamos começar a desatar os nós que a enleiam e condicionam. Ela está de tal forma enleada que parece não haver ponta por onde lhe pegar.

Por muito que se diga o contrário, a sociedade portuguesa está doente e recusa-se a admiti-lo. A doença de que padecemos já dura há muitos anos e a única terapia que nos têm dado são placebos com efeitos terapêuticos inertes. E a culpa é de quem? NOSSA!

Começámos por acreditar que, com a democracia instituída em Abril de 1974, o Céu era o nosso limite e o inferno deixava de existir. Que bom passarmos a ser todos Doutores e Engenheiros e atirarmos para um canto a roupa impregnada com o suor do trabalho! Se ser-se Doutor ou Engenheiro era sinónimo de estatuto social e boa vida para quê eleger o trabalho duro como opção de vida, quando o mesmo não é acompanhado das “contrapartidas” colhidas pelos Doutores e Engenheiros?

E se era isso que TODOS NÓS queríamos, nada como elegermos aqueles que melhor se prestavam a conferir-nos tais direitos. Não importava se o caminho que eles seguiam eram os melhores, o que importava era o EU. Ano após ano as nossas atenções sempre se centraram na vida fácil que podíamos ter e assim corremos atrás dos vendedores da banha (da cobra) que melhor prometiam. Entre alguém que prometia o impossível e um outro que recusava prometê-lo estava bom de ver sobre quem os nossos olhos focavam.

Nunca nos importámos de mentir a nós próprios porque sempre acreditámos que um dia tal mentira poderia ser remediada por alguém. Hoje começamos a acordar para a dura realidade de que esse alguém não existe e nunca existiu. Aqueles que juraram prestar-se a esse papel e em quem depositávamos todas as nossas esperanças, também padeciam dos mesmos males. O que fizeram? Simples! Serviram o seu EU! E o que fizemos nós? Nada! "Desculpámo-los de tal conduta" e fomos à procura de outros que os substituíssem! E os ciclos repetiram-se uns atrás dos outros.

Quantos de nós, na hora de exercermos o nosso voto na eleição de alguém, o fizemos (e continuamos a fazer) com a plena consciência dos benefícios reais desse nosso acto? Por incrível que pareça até conseguimos arranjar argumentos para votarmos em alguém que tem boa figura, que é um “tipo porreiro”, independentemente de ser vazio de ideias. São tantos os exemplos que poderíamos invocar sobre este pensamento que precisaríamos de várias vidas para os descrever.

Hoje, muitos dos nós que a corda possui estão de tal forma apertados que não é possível desatá-los e a única solução que resta será cortá-los e, para que a corda continue uma só, voltar a atá-la com outros nós.

Não existe um único sector da nossa sociedade que não dê sinais de doença.

Na abertura do ano judicial foi ver quão doente está a nossa Justiça. Enquanto uns acusavam os outros de serem os responsáveis pelo mal do problema, outros apelavam ao diálogo (ainda mais?) não faltando quem se preocupasse pelo estado menos digno das nossas prisões (será que é uma premonição do que poderá estar para vir?). Todos foram unânimes em gritar bem alto: “ Da Justiça o que é da Justiça! Da Política o que é da Política!”. Alguém tem dúvidas que tais “gritos” não passam de circunstancialismos de ocasião e que depois tudo volta ao mesmo? Alguém tem dúvidas que o exercício da Justiça se faz na estrita dependência das leis que os Políticos criam? E se são eles que as criam não custa perceber, ainda, o espírito dos legisladores na hora de as conceberem.

São tantos os exemplos que diariamente assistimos que não nos custa perceber que a Justiça é um parente pobre da nossa sociedade da qual só nos lembramos quando age de um modo diferente daquele que julgamos ser o mais correcto. E, para aqueles que pensam o contrário, o que dizer das responsabilidades profissionais atribuídas a um Juiz e a um motorista de um Ministro ou Secretário de Estado (o salário anual de um juiz português em início de carreira é de, aproximadamente, 35.000 € enquanto que um motorista do Ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, em 3 anos de contrato, irá receber cerca de 73.000€)?. Quanto ao facto de errarem, são humanos como nós e relativamente quanto ao facto de trabalharem pouco, quantos de nós estão em posição de lhes atirarmos pedras?

Nunca precisámos tanto da Justiça como agora! Mas uma Justiça que seja verdadeiramente cega e incapaz de encontrar diferenças entre a cara do rico e a do pobre e com isso privilegiar a do rico.

Já ultrapassámos a barreira da razão e a intolerância começa a invadir-nos. Faltam-nos líderes em quem possamos confiar e esse vazio tende a agravar a nossa doença.

Quando nem com o exemplo dos outros conseguimos aprender, está tudo dito! A experiência da Grécia é tudo aquilo que não queremos, mas nada fazemos para evitar!


Portugal precisa de uma nova ordem! Uma nova ordem capaz de acabar com uns reinos que uns poucos criaram e que se recusam a extinguir ou a abandonar.

Se os partidos em democracia são um mal necessário, aqueles que tudo fazem para se perpetuarem à sua sombra (e são sempre os mesmos) são um mal que deve ser erradicado. (Como? Aceitam-se sugestões).


CARA ou COROA

No passado domingo visitei a Barragem da Lapa, inaugurada há 9 anos (!!!) por um Ministro de nome Isaltino Morais e… não gostei!

Lembrei-me de uma notícia publicada no passado dia 15 de Novembro pelo Jornal “O Mirante”:

“ A quantidade de precipitação ocorrida nos últimos dias levou a Câmara de Sardoal a proceder a descargas controladas da quantidade de água armazenada na barragem da Lapa, que ultrapassou o limite máximo permitido.
Com uma altura de 21 metros e um nível pleno de armazenamento previsto correspondente a uma cota de 170 metros, os defeitos de construção da barragem da Lapa, infraestrutura inaugurada em Dezembro de 2002, fazem com que ainda hoje a autarquia não tenha procedido à recepção definitiva da obra.
"A deficiente construção originou uma fissura junto à parede do descarregador e, por outro lado, falta tela de isolamento no paredão junto à fonte de captação, deficiências que condicionam o total aproveitamento da barragem e respectivo enchimento", disse esta segunda-feira à agência Lusa o vice presidente da autarquia.
Segundo Miguel Borges, os problemas de construção "não representam perigo" para a população, uma convicção "assente em pareceres técnicos" do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) que procede a análises e registos de inspecções de rotina semanais, nomeadamente a fim de se detectarem sinais ou evidências de deteriorações e anomalias, no corpo da barragem, nos sistemas de drenagem e impermeabilização, bem como nos sistemas de observação.
"O problema é que as deficiências condicionam a utilização plena da barragem e a sua missão", um investimento de 2,5 milhões de euros e que visava o abastecimento de água potável a grande parte do concelho de Sardoal, a partir da Barragem da Lapa.
Com um volume total ao nível do pleno armazenamento de 640 000 metros cúbicos, a infraestrutura tem hoje uma imposição de cota máxima permitida de 164 metros, valor a partir do qual obriga a descargas controladas à razão de 10 centímetros por dia.
"Estamos a proceder à reposição do nível de descargas e este é um assunto que queremos ver resolvido pela construtora durante os próximos meses, não tanto pela segurança mas para que a barragem cumpra a sua missão a 100 por cento em prol das populações", vincou.


Quando um Concelho depende em exclusivo daquele “Reservatório” para que a água corra nas torneiras da sua população e, passados 9 anos se continua a erguer as mãos aos Céus para que vá chovendo o suficiente para se garantir uma reserva mínima de água, algo não está bem.

Se não se está diante de um elefante branco pouco falta, porém, mais do que saber-se se existem cabeças escondidas na areia, na expectativa que o tempo passe e que a outros seja sacada a responsabilidade de uma população poder ficar privada sem água enquanto decorrerem os trabalhos de reabilitação, é saber-se para quando a resolução do problema. Em 9 anos muita promessa se fez e... nada!

Há quem, diante do grande endividamento de algumas instituições, seja capaz de defender que o endividamento é resultante da obra realizada, o pior, é quando se questiona o valor dessa obra. Enquanto a Barragem da Lapa não puder armazenar toda a água para a qual foi construída, ela fará parte de um vasto conjunto de obras que proliferam por este país em que, diante dos seus resultados práticos, se pode inferir que se deram passos maiores que as pernas. Para quando o dia em que valorizaremos o investimento realizado na sua construção e para o qual contribuímos através dos nossos impostos?

Quando, não é possível controlar o comportamento do tempo e, a falta de chuva neste Inverno não profetiza nada de bom, é de se ficar apreensivo diante da possibilidade de um cenário de uma barragem vazia.


Cara ou Coroa? COROA!




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