domingo, 11 de dezembro de 2011

O Cardápio (2)

Com a devida vénia do jornal “Correio da Manhã” da passada 5ª Feira passo a transcrever um artigo do jornalista Paulo Pinto Mascarenhas publicado na página 30 (Política):

“Encher bem a barriga no Parlamento”

Há dois restaurantes de luxo na Assembleia da República reservados a deputados e respectivos convidados. Por cerca de 10 euros por pessoa podem experimentar no almoço buffet, do restaurante do edifício novo do Parlamento, um belo arroz de tamboril com gambas e umas salsichas em couve lombarda. Mas tem também direito a uma mesa de fritos, a outra vegetariana, mais uma de doces e frutas ou de queijos. Tudo isto antecedido, se assim o entender, de uma bela sopa de cebola. Este é um menu normal, não é dia de festa, mas sabendo que nem todos os deputados almoçam como deve ser, fomos ver os preços nos bares a que têm acesso e também na cantina, onde vão sobretudo os funcionários da casa.
Começando pela cantina, por apenas 3,80€ têm acesso a uma refeição completa, incluindo iguarias como um arroz de polvo – “malandrinho”, como convém – ou à dieta de vitela simples, mais sonhos de peixe. Sopa de ervilhas ou Juliana de legumes também constam da variada ementa.
Já nos bares de serviço, para uma refeição ligeira, o Correio Indiscreto aconselha o belo prego, a bifana ou o hambúrguer da casa a apenas 1,01€. Os croquetes também são em conta: 0,40 cêntimos cada um. Pode optar, é claro, por uma sandes mista a 0,66 ou em forma de tosta a 0,76. Tudo isto pode ser regado com uma cerveja a 0,55 ou a uma mini a 0,40. Já percebeu porque é que eles engordam?”
(sic)

Nem a propósito a oportunidade deste artigo quando, uns dias antes da sua publicação eu já havia feito referência ao “cardápio” à disposição dos nossos 230 deputados instalados na Assembleia da República.

Agora, diante desta nova informação tentei ir um pouco mais longe para perceber quanto contribuímos nós, através dos nossos impostos, para o equilíbrio entre as despesas e as receitas de tais acepipes. E o que descobri? Que o Orçamento da Assembleia da República para o ano de 2012 prevê em matéria de Despesas Correntes para os Serviços de Restaurante, Refeitório e Cafetaria o montante de 743.665€ e que em matéria de Receitas Correntes na Venda de Senhas de Refeição o montante é de 216.100€. Bem procurei nas outras rubricas das Receitas Correntes sinais de outras receitas afectas ao serviço de Restauração, mas apenas encontrei Outras Receitas Correntes no valor de 14.200€.

Sabendo todos nós que o ano de 2012 nos espera um ano terrível e que, por exemplo, em matéria de Serviços de Restauração o IVA de 23% nos irá assustar sempre que tivermos de puxar pelas nossas carteiras nesses locais, esta notícia não passa indiferente a qualquer um. Com que então os sacrifícios são para todos! Quais todos?

“Não basta dizermos quão salgado é o suor que nos corre na testa. É preciso prová-lo e bebê-lo!”


Cara ou Coroa

No Cara ou Coroa de hoje gostaria de destacar a reunião que a Comissão Municipal do Sardoal, criada para analisar e discutir os possíveis efeitos que o Livro Verde para a Reforma Administrativa irá provocar no Concelho do Sardoal, levou a efeito na passada 6ª feira no Centro Cultural do Sardoal. A reunião pública para a qual se encontravam convidados, por Edital emitido pela junta de Freguesia de Sardoal, todos os residentes na Freguesia de Sardoal, teve por objectivo auscultar as mais diversas opiniões sobre a possibilidade da Freguesia de Sardoal poder vir a agregar as actuais Freguesias de Valhascos e Santiago de Montalegre.

À hora marcada para o início da Reunião (21:00 horas), para além do Vice-presidente da Câmara Municipal, do representante da Junta de Freguesia e de uma funcionária da Autarquia a quem era incumbida a responsabilidade de secretariar a referida reunião, eram 3 e só 3, os fregueses que ocupavam as cadeiras disponibilizadas para o público convidado. Independentemente da Freguesia de Sardoal apresentar, de acordo com o último Censos, 2.414 habitantes, foi com esses 3 que a reunião se iniciou 15 minutos depois da hora estabelecida. No decurso da reunião, a esses 3 fregueses ainda foi possível juntar outros 3 (sendo um deles o Presidente da Assembleia Municipal e uma Deputada Municipal).

É certo que a forma como foi divulgada a reunião talvez não tenha sido a mais eficiente (nem no site da Junta de Freguesia de Sardoal, nem da Câmara Municipal existe qualquer referência à sua existência), mas que diabo, apenas 6 interessados em manifestar a sua opinião, não será um número demasiado escasso para o assunto em análise? Da população em geral até se pode compreender o seu afastamento a este tipo de iniciativas (os nossos políticos tudo têm feito para a manter afastada dos “assuntos que só a eles lhes diz respeito”), mas que dizer dos nossos eleitos locais? Será que a sua ausência se deveu ao facto da reunião não poder ser acompanhada do “normal pagamento” das senhas de presença?

Pela pertinência do assunto e iniciativa da Comissão: CARA!!!

Pelo desinteresse manifestado pelo público e, em especial, pelos nossos eleitos que primaram pela ausência (Executivo Municipal, Assembleia Municipal e Assembleia de Freguesia de Sardoal): COROA!!!

A propósito sobre a reunião em particular, apenas posso aqui manifestar as minhas conclusões:

1º Enquanto Freguês da Freguesia de Sardoal não vejo qualquer inconveniência na possibilidade da minha Freguesia poder agregar as Freguesias vizinhas de Valhascos e Santiago de Montalegre.

2º Se cada um de nós for capaz de se questionar, de uma forma desapaixonada, a razão da existência das Juntas de Freguesia (os tempos mudaram e as comunicações já não são uma barreira difícil de transpor como o eram há alguns anos), e pensar nas vezes que recorreu aos serviços da sua Junta de Freguesia (este ano “visitei” a minha por duas vezes: emissão de um certificado de residência e licença do meu “canito”) possivelmente concluirá que a sua existência não é assim tão indispensável como alguns fazem crer.

3º Será que alguns serviços que algumas Juntas de Freguesia executam não poderão ser efectuados facilmente pelas Câmaras Municipais?

4º Será que são assim tão poucos os casos em que depois de se tirar para um lado as verbas necessárias ao pagamento dos Autarcas eleitos nas Assembleias de Freguesia (Presidente, Tesoureiro, Secretário e Deputados da Assembleia de Freguesia) o que sobra para o outro lado quase que nem dá para mandar “cantar um cego”, quanto mais fazer obra reclamada pela população?

5º Alguém dirá que se perde um factor de proximidade entre a população e os seus autarcas. Não penso assim. Será que o papel desempenhado actualmente pelos Deputados Municipais, que na maioria dos casos se resume a “corpo presente” durante as reuniões da Assembleia Municipal não deveria ser revisto? Será que em muitos casos as Associações não prestam um serviço social, à comunidade onde se inserem, superior ao desempenhado pelos autarcas locais eleitos?


6º Hoje das 4.259 Freguesias existentes estão prestes a “desaparecer” cerca de 2.493. Amanhã desaparecerão as restantes. Será que a sua eliminação poderá representar, para todos nós, um sentimento de abandono relativamente aos órgãos do poder? Eu penso que mais abandonados do que hoje já nos encontramos não deverá ser possível, por isso…

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