quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Oposição (?)

Em 1867, escreveu Eça de Queirós em “Distrito de Évora”

“Em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de organizar oposição. Falta igualmente a aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois factos que constituem o movimento político das nações.

A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse.

A política é uma arma, em todos os pontos revolta pelas vontades contraditórias; ali dominam as más paixões; ali luta-se pela avidez do ganho ou pelo gozo da vaidade; ali há a postergação dos princípios e o desprezo dos sentimentos; ali há a abdicação de tudo o que o homem tem na alma de nobre, de generoso, de grande, de racional e de justo; em volta daquela arena enxameiam os aventureiros inteligentes, os grandes vaidosos, os especuladores ásperos; há a tristeza e a miséria; dentro há a corrupção, o patrono, o privilégio.

A refrega é dura; combate-se, atraiçoa-se, brada-se, foge-se, destrói-se, corrompe-se. Todos os desperdícios, todas as violências, todas as indignidades se entrechocam ali com dor e com raiva.

À escalada sobem todos os homens inteligentes, nervosos, ambiciosos (...) todos querem penetrar na arena, ambiciosos dos espectáculos cortesãos, ávidos de consideração e de dinheiro, insaciáveis dos gozos da vaidade.

… É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente.

País governado ao acaso, governado por vaidades e interesses por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?...”


Este pensamento de Eça, e passados que são, quase, 150 anos, continua actual e a pergunta que o mesmo suscita é quanto tempo mais o mesmo poderá durar e até quando Portugal poderá conservar a sua independência (será que ainda a temos?).

Quem governa usa as armas que tem à mão (porque outras armas não tem), quem quer governar, usa as armas da utopia e da irresponsabilidade.

Vem isto a propósito do comportamento de quem ontem era oposição e hoje é poder em contraponto com quem ontem era poder e hoje é oposição. Tudo vale quando se é oposição e não se tem a responsabilidade de governar. A força de um governo alicerça-se na força da oposição e quando a oposição é fraca o que dizer da força do Governo.

Arrisco-me a afirmar que, no pós 25 de Abril de 1974, Portugal nunca conseguiu ter um governo forte e que as mudanças que assistimos ao longo de todo este tempo nunca resultaram do mérito daqueles que na oposição lutaram pelo poder, mas no demérito de quem o detinha.

Portugal precisa, com urgência, de uma oposição política responsável voltada para os interesses de toda a comunidade, em detrimento da oposição política existente cuja carga de demagogia que enverga apenas serve os interesses de alguns, para além dos próprios.

Continua a vir isto a propósito, de uma proposta apresentada por parte de quem se senta nos lugares da oposição ao governo do meu Concelho.

No seu sítio da internet pode-se ler a sua última proposta:

“… Proposta apresentada, em Declaração Política, pelos vereadores do PS/Sardoal, em sessão de Câmara de 8 de Fevereiro de 2012, relativa à subsidiação de pagamento de Medicamentos aos idosos Sardoalenses, com mais de 80 anos de idade, por parte da Câmara Municipal.

Esta proposta será agendada para votação, no executivo, no próximo dia 7 de Março , por proposta dos vereadores do PS/ Sardoal, para que a mesma ser objeto de informação por parte dos Serviços da edilidade.

Perante as evidencias que estamos presenciando, perante este quadro negro, compete às Câmaras Municipais, mais do que nunca, desenvolver políticas sociais de proximidade, capazes de promover a coesão social municipal, de modo a colmatar as ações negativas levadas a cabo pela Administração Central.
Cada euro dos contribuintes, que sustentam o Orçamento da Câmara, deve ser gasto com rigor, em ações concretas que ajudem todos os nossos munícipes que se encontram em situação mais debilitada como sejam os idosos, os desempregados e os jovens.
Quando defendemos ações concretas estamos a referir-nos a atos concretos que irão melhorar a vida de pessoas concretas. Aqui deixamos, três propostas concretas:

- Subsidiação de 100% do valor dos medicamentos a pagar pelos eleitores inscritos no Sardoal que tenham mais de 90 anos de idade;
- Subsidiação de 75% do valor dos medicamentos a pagar pelos eleitores inscritos no Sardoal que tenham mais de 85 anos de idade;
- Subsidiação de 50% do valor dos medicamentos a pagar pelos eleitores inscritos no Sardoal que tenham mais de 80 anos de idade.

Estas propostas consubstanciam a solidariedade e a fraternidade social que entendemos que a Câmara deve promover junto deste grupo de Sardoalenses neste momento difícil das suas vidas.

Sardoal, 7 de Fevereiro de 2012
Os Vereadores


Será que esta proposta, tal qual se apresenta, não poderá ser enquadrada na tal carga de demagogia de quem sendo oposição quer ser poder, custe o que custar? Se não, vejamos…

- Quais poderão ser os custos reais anuais resultantes da atribuição destes subsídios e quais os seus impactos nas finanças da Autarquia Sardoalense?

- Qual o número exacto das pessoas elegíveis a tais subsídios e os montantes financeiros a afectar a cada um?

- Esta proposta tem carácter provisório ou definitivo ou a sua eventual carga de direitos depende do caso de amanhã o proponente poder vir a ser poder?

E já que estamos a falar de solidariedade, qual a diferença entre alguém que, tendo mais de 80 anos, tem bens e pode pagar um medicamento na sua totalidade, e outro alguém que sendo mais novo em idade não levanta os seus medicamentos na farmácia porque simplesmente não tem dinheiro para os adquirir? Para qual deles deverão os nossos olhos incidir?

Diante desta proposta, e enquanto Sardoalense, oferece-me apresentar uma contraproposta:

E se os proponentes, prescindissem de receber o valor das senhas de presença que recebem por cada reunião do Executivo Municipal em que participam e tal verba fosse utilizada para o fim que propõem? (É que, enquanto funcionários públicos, sempre que participam nessas reuniões estão dispensados do trabalho durante esse dia e não vêm afectados as seus vencimentos. Para além disso, o tempo “gasto” nessas reuniões, até nem é muito (Conforme as duas actas publicadas no site da Autarquia Sardoalense e relativas ao último mês de Janeiro, a reunião de 10 de Janeiro durou 30 minutos (!!!) e a de 24 de Janeiro, durou 45 minutos (!!!) quando comparado com o valor das senhas pagas.)

Pobre País o meu que tem gente que ainda leva a sério gente desta!

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