terça-feira, 17 de agosto de 2010

A galinha dos ovos de ouro

A “mudança de ares” e a “fuga da rotina” permitem que olhemos para algumas coisas, que nos habituámos a ver, com outros olhos.

Durante o período de férias tive a oportunidade de observar o comportamento empresarial que alguns portugueses manifestam diante da crise económica que invadiu o espaço português. Quer no Sul, na componente Serviços (associados ao Comércio, Restauração e Hotelaria), quer no Norte, na componente Produção (associada à produção de Leite), em qualquer deles se observa um comportamento comum: se são sete os dias da semana, então são sete os dias de trabalho a cumprir em cada semana e as horas da noite misturam-se com as horas do dia. À indignação dos impostos pagos, que servem muitas vezes para pagar “monstruosidades” que não aceitam e repudiam, respondem com trabalho ainda que impelidos por uma vontade retaliatória de cruzamento dos braços. Quais as contrapartidas que poderiam obter caso entendessem cruzar os braços? No limite, esperar-lhes-ia a miséria e a fome, uma vez que o Estado Social depende deles e sem eles, sendo certa a falência do Estado Social, não há quem lhes possa valer e eles sabem-no. Deles invariavelmente se ouve que os proveitos do seu trabalho nunca foram tão escassos e que a sobrevivência das suas empresas, neste mundo globalizado, só se atinge à custa da substituição da mão-de-obra pela máquina e de muitas horas de trabalho.

A ânsia do poder associada à falta de oportunidades de trabalho faz com que uns se especializem a iludir outros proferindo que os seus direitos são sagrados e que, em matéria de deveres, nem tanto. E assim, porque ninguém gosta de más notícias, aquele que mais é capaz de iludir os outros é aquele que governa e que manda. E tem sido assim há dezenas de anos!...

Quando alguém acorda para a realidade não há como uma “prenda comprometida” para calar o seu descontentamento, não vá o mesmo contagiar outros.

E porque quem manda não manda sempre, a sociedade portuguesa está em cacos.


É neste “caldo social”, temperado por uma justiça da qual se desconfia, que os empresários são obrigados a gerir as suas empresas. São os seus impostos que alimentam a máquina insaciável do Estado gerida por “ilusionistas” que desprezam o valor do dinheiro que lhes é confiado, uma vez que pensam que ele provém de um poço sem fundo e inesgotável. Assim sendo, privilegiam os interesses pessoais que o seu uso lhes pode proporcionar, em detrimento dos interesses das comunidades a que pertencem.

Porque será que os nossos políticos na luta pela sua “sobrevivência” estão mais interessados em distribuir o peixe a quem tem fome do que ensinar a pescar? Será que o peixe não tem fim? Será que acabado o peixe e depois de alguém “tanto ser alimentado” existem condições para esse alguém aprender a pescar?

Olhando para o meu Concelho e conhecendo as suas fraquezas ao nível do emprego privado e ao nível do seu débil tecido empresarial, porque é que um empresário está inibido de instalar a sua empresa num espaço classificado no PDM, enquanto Reserva Ecológica Nacional ou Reserva Agrícola independentemente de poderem ser salvaguardados todos os interesses ecológicos do espaço envolvente?

Para alguns id(iotas)eólogos deste País é preferível que um espaço se apresente com balsas e estevas do que seja gerador de riqueza. E quando esse manto vegetal serve para alimentar fogos, não é que tais id(iotas)eólogos continuam a defender tal tese preferindo ver esse terreno classificado enquanto Reserva Ecológica ou Agrícola Nacional ficar transformado em cinzas? Se eles pertencessem ao exército dos actuais 590.000 desempregados possivelmente pensariam de outra forma, mas como fazem parte de um grupo de portugueses que não se preocupa em suar a camisola porque sabem que ao dia 25 de cada mês, quer façam muito ou pouco, têm sempre o seu vencimento na sua conta bancária, permitem-se a tamanhas teorias. (Exemplo: Quantas novas empresas não se poderiam criar ligadas à floresta e à produção animal dando preferência à pastorícia? Será que o concelho do Sardoal e outros Concelhos similares à sua dimensão, localização, características dos solos e desertificação humana não seriam beneficiados caso tal fosse possível? Os desempregados agradeciam e os bombeiros também.)

O dinheiro que o Estado gasta tem a sua origem naquilo que conseguimos produzir. Uns gerem aquilo que produzem enquanto outros gerem aquilo que outros produzem. Pelo meio jaz o tal “exército” de 590.000 pessoas que sofrem por desconhecerem o seu futuro (e dos seus familiares) face à sua condição de desempregados.

O que aconteceria se os empresários deixassem de produzir?

Com tanta asneira, será que alguém ainda duvida da necessidade das instituições internacionais (por exemplo: FMI) de nos visitarem até ao fim deste ano? As coisas estão negras e, por incrível que pareça, há quem olhe para a cor preta e a identifique enquanto cor-de-rosa.

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