domingo, 8 de maio de 2011

Trapaças

Esta semana deverá ficar para a História de Portugal não como aquela a quem outros aceitaram o nosso pedido de auxílio para nos tirarem a corda que voluntariamente enrolámos em torno do nosso pescoço, mas aquela em que aprendemos que a trapaça também pode ser premiada e elogiada.

A participação pública de José Sócrates na passada 3ª feira à noite, em horário nobre e no intervalo do jogo entre o Cristiano Ronaldo e o Leonel Messi e a participação pública de Teixeira dos Santos na 5ª feira às 11 da manhã revelam a baixa dimensão de alguém que foi o principal responsável por nos enrolar a corda à volta do pescoço (sozinho e em apenas 6 anos foi capaz de hipotecar tanto as finanças do Estado que todos os outros primeiros-ministros nos outros 31 anos anteriores, e já para não falar nos outros anos de Salazar e Marcelo Caetano).

Ao longo do tempo, aqui no “Três Bicas”, e sobre Teixeira dos Santos, foram vários os elogios que fiz, numa primeira fase, e várias as críticas que não me coibi de lhe fazer nos últimos tempos. Hoje, depois de assistir à sua última prestação, enquanto Ministro das Finanças tiro-lhe o chapéu pela grandeza que foi capaz de evidenciar quando em vez de pensar em si e mandar às urtigas o seu chefe, pensou no seu País mesmo que para tanto tivesse servido de marionete a alguém para quem a trapaça e a intrujice são aliados inseparáveis no caminho do poder.

Hoje, sou capaz de desculpar o último Ministro das Finanças deste governo por não ter dado o grito do Ipiranga quando a sua consciência de técnico já o incitava à rebelião, deixando subjugar-se (?) pelo poder político do seu Primeiro-Ministro. E sou capaz de desculpar porque ninguém, a não ser ele, será capaz de revelar se o que aconteceu, entre ambos, foi uma subjugação ou uma participação na redução de males maiores para o seu e meu País. A forma como foi ostracizado e ridicularizado são sinais de que preferiu servir o País a servir o poder de outros. Obrigado Professor Fernando Teixeira dos Santos!

Por mais que tente identificar uma razão lógica não consigo perceber como é que o PS de José Sócrates (não confundo com o Partido Socialista Português) depois de tantas trapaças que lesaram fortemente os interesses de todos os Portugueses (todos não, apenas os interesses dos outros, dado que os deles são, sempre foram e sempre serão salvaguardados), que sempre diabolizou o FMI e agora tece loas às suas virtudes, que foi capaz de lançar um Programa de Governo antes de todos os outros Partidos e disso fazendo alarde mesmo sabendo que seria o Programa da Troika que prevaleceria e não deixaria margem de manobra a outras pretensos programas partidários e que o seu programa não passaria de mais um embuste cujo destino seria um campo de urtigas, é capaz de reunir à sua volta os entusiasmos que as sondagens deixam antever.

Será que não andamos a dormir há tempo demais? Será que quando acordamos, o pesadelo real que teremos de enfrentar não será superior ao pesadelo que presentemente os nossos sonhos deixam perceber?

Nas próximas eleições legislativas não iremos escolher quem melhor nos consegue iludir com as propostas que gostamos de ouvir, mas apenas quem tem a capacidade de gerir, com responsabilidade, o programa que o FMI, Banco Central e Comunidade Europeia nos impôs, e que aceitámos, como contrapartida dos 78.000M € que nos acabaram de emprestar para que possamos tirar a corda que José Sócrates e “sus muchachos” nos enrolaram à volta do pescoço.

Só por puro masoquismo e ou interesse directo se compreende a decisão de alguém continuar a confiar de novo o destino do seu País a quem tão mal tratou dele.


Cara ou Coroa

No rol de contrapartidas que Portugal deverá cumprir, e no âmbito dos empréstimos que a Troika decidiu conceder a Portugal e por entre um mar de aflições existem algumas a que não consigo ficar indiferente. O memorando prevê que o governo desenvolva, até Julho de 2012, um plano de consolidação para reduzir de forma significativa o número de Concelhos e Freguesias, para além destes organismos verem reduzidas as verbas do Orçamento do Estado em 2012 e 2013. Ainda sobre a redução dos Concelhos e Freguesias, a conclusão desse trabalho deverá ficar pronta o mais rapidamente possível para que nas próximas eleições autárquicas tal revisão já produza os efeitos desejados.

Será que alguma das quatro Freguesias do meu Concelho será “apagada”? Será que o meu Concelho com a proveta idade de 478 anos será um dos que irá ser “apagado”?

Por mais que possamos recusar a admitir tal possibilidade os sinais que existem são de preocupação e enquanto não virmos afixados o nome dos “condenados” não teremos descanso.

Os sinais são os mais diversos, desde a baixa população (no anuário financeiro dos municípios portugueses de 2008 o Concelho de Sardoal ocupava o lugar 287 em 308) até à ausência de riqueza produzida no interior das suas fronteiras, que apenas é compensada com o peso do patrão Estado, passando por um cem número de problemas estruturais difíceis de corrigir.

Um dos maiores problemas estruturais que o Concelho enfrenta jaz na dificuldade que os nossos políticos têm tido em separar o essencial do acessório na hora de decidir o que fazer dos parcos proveitos financeiros que são colocados à sua disposição.

Os resultados financeiros publicados esta semana no site da Câmara Municipal de Sardoal e relativos à Prestação de Contas de 2010 fazem arrepiar o mais insensível a números. Numa leitura muito rápida é possível perceber que o que sobra depois de se pagar os salários do pessoal e os empréstimos bancários é igual à dívida que existe a terceiros.

Quantos anos serão necessários para que se possa atingir a dívida Zero ou que se atinja a credibilidade de bom pagador? Cara ou Coroa? COROA!

A dificuldade financeira é tanta que só assim se compreende os contornos que têm envolvido a compra do tal autocarro Volvo XPTO que a Autarquia Sardoalense decidiu adquirir no dia 21 de Fevereiro do corrente ano. As várias publicações em Diário da República (24 de Fevereiro, 15 de Abril e 27 de Abril) relativas à abertura de propostas para o financiamento por locação financeira (leasing) de 192.990 €, não revelam nada de bom. Cara ou Coroa? COROA!

Por último, o que ressalta também da Prestação de Contas de 2010 agora publicada, nem é o pagamento efectuado à Águas do Centro (não é surpresa para mim, que sempre identifiquei tal negócio ruinoso) mas tão só as despesas que a Autarquia teve com um Vereador da oposição. Contabilizando o tempo que esteve presente nas 24 reuniões do Executivo Municipal e as 5 reuniões da Assembleia Municipal (para o efeito considerou-se a hora de abertura e hora de fecho registado nas actas respectivas), contabilizando o que foi pago em 2010 e as dívidas pendentes registadas em 31 de Dezembro de 2009 e 31 de Dezembro de 2010) o seu preço hora foi de 112,41€(!!!). (Comparativamente, o preço hora do outro seu colega Vereador foi 1/3 do seu).

Para quem tanto prega quanto à irresponsabilidade do actual governo na hora de gerir os dinheiros da Autarquia Sardoalense, quando toca os seus próprios interesses, tal pregação é atirada para o tal campo de urtigas. Se a esse pagamento juntarmos o facto de, na qualidade de funcionário público ter, ainda, todos os benefícios que tais reuniões lhe concedem (dispensa do serviço sem qualquer corte nos seus direitos salariais) e os seus contributos políticos (sem ser as normais críticas aos passeios dos jovens e dos menos jovens não consigo lembrar-me um só. Alguém é capaz?) durante o ano de 2010, só me ocorre lembrar que bem pregava Frei Tomás. COROA!

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