sábado, 11 de abril de 2009

FELIZ PÁSCOA

Anualmente, a comunidade católica do mundo celebra duas datas religiosas em memória da vinda de Jesus Cristo à terra dos homens: o Seu nascimento e a Sua morte. Enquanto católico tais datas representam para mim, suplementos de esperança. A Sua “morte”(?) contudo, é aquela que mais me faz reflectir sobre a Sua grandeza, como se ela fosse a chancela de todo o bem que gratuitamente distribuiu, enquanto viveu a vida dos homens.

Os anos passaram e pese todas as “distracções” que a evolução da humanidade foi sujeita, o Seu exemplo mantém-se vivo e, de uma forma mais ou menos activa, continua a “tocar” milhões de consciências dispersas pelos quatro cantos do mundo. E já lá vão dois mil anos!!!

Para que possamos perceber a dimensão das “distracções” que atrás refiro, basta fazermos um pequeno exercício: perguntemos a uma pessoa qualquer para traduzir numa única palavra o que representa para ela o Natal e a Páscoa. Não estarei longe se as palavras mais proferidas forem “férias” e “descanso”.

Isto é, as etapas principais da vida do nosso amado Profeta têm vindo a transformar-se em “tempos obrigatórios” para o cultivo do ócio.

Se no tempo que medeia as duas datas, as Suas Palavras e os Seus Exemplos fossem cultivados, julgo que Ele não se importaria, contudo, infelizmente, tal não se passa. Alguns dias antes da comemoração da Páscoa ou do Natal, lá voltamos nós a desejarmos uns aos outros uma Feliz Páscoa ou um Feliz Natal, com muita saúde, com muita paz, sempre na companhia da família, blá… blá… blá…

Proponho-vos um outro exercício: Será que aquele que formula a outrem votos de Feliz Natal ou Feliz Páscoa o faz pensando nas Palavras do Profeta que lhe deram a origem, ou, simplesmente, porque fica bem cumprir-se com a tradição?

Não é estranho que um Homem, por amor a todos os homens que viriam depois da Sua morte(?), foi capaz de se sujeitar às mais duras provações desde a humilhação extrema até ao suplício da própria morte, veja o Seu “gesto” final transformar-se numa troca de cumprimentos entre os homens, acompanhados, ou não, por amêndoas doces ou ovos de chocolate?

Esse Homem apenas queria que os outros homens percebessem que deveriam viver em paz e sentirem que tinham um Deus bom que os protegiam e iluminavam lembrando, ainda, que o facto de nascerem e morrerem da mesma forma os tornava iguais entre si.

Felizmente ainda existem comunidades que evocam a Paixão e os últimos momentos da “vida humana” de Jesus Cristo. A Vila do Sardoal é uma delas. De entre as várias manifestações que anualmente a comunidade dá corpo, existe um evento que mais me “toca”: A procissão do Senhor da Misericórdia ou dos fogaréus.

Talvez de todas as procissões seja aquela que, por se realizar durante a noite, com as luzes da vila apagadas, nos “conduza” à meditação. O facto do negrume da noite ser apenas salpicado pelas luzes dos fachos ou das lamparinas colocadas nas fachadas das casas ou muros que ladeiam o caminho por onde a procissão passa, fazem com que mal percebamos quem segue connosco a nosso lado e com isso nos convide à reflexão.

Este ano repetiu-se o evento. Apenas por motivos de saúde só pude cumprir metade do caminho, todavia, foi o bastante para meditar no mundo em que vivemos, pese todo legado que aquele Homem bom nos deixou há 2000 anos.

- Pensei em como o homem se tornou insensível à dor do outro homem.

- Pensei em como o homem se tornou num animal que se “alimenta” de poder e do qual tem um apetite voraz.

- Pensei em como os desprotegidos e os mais fracos são ignorados, por aqueles sobre quem recai o dever e a responsabilidade de proteger e apoiar, e a sua impotência os leva a aceitarem o destino que lhes traçam quais “mártires cristãos” atirados às feras nos coliseus romanos.

- Pensei no que poderia estar a pensar aquele Homem bom no que se transformou, o Seu exemplo de vida, as Suas Palavras, a Sua Paixão e o Seu sofrimento na Morte (?). Simplesmente não merece o nosso comportamento. Todos os pedidos de perdão que Lhe fizermos serão poucos para compensar a dor que O atormenta.

Que todos vós tenhais uma Feliz Páscoa e que cada um, dentro das responsabilidades que a comunidade lhes delegou, seja capaz de contribuir para que o homem (ou mulher) no fim dos seus dias, neste mundo, seja capaz de afirmar que valeu a pena viver, que amou e foi amado, que ajudou e foi ajudado, que foi justo e que premeditadamente não comprometeu a vida de outrem. Será que não é isso que Deus a todos nos pede?

Para todos uma FELIZ PÁSCOA, que dure até à próxima Páscoa e a todas as outras que lhe seguirão.

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