quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A última reunião da Assembleia

No passado dia 15, depois de um longo dia de trabalho em torno da projecção de uma estrutura metálica para o Concelho de Arruda dos Vinhos, sentindo a necessidade de “limpar” a mente, entendi efectuar o meu passeio nocturno.

Quando passava em frente do Centro Cultural Gil Vicente e vendo alguma actividade no seu interior, a curiosidade foi mais forte que eu. Aproximando-me da Sala Multiusos logo percebi que estava para acontecer a última reunião da Assembleia Municipal do Sardoal do mandato Autárquico de 2005-2009 e eu não sabia.

Não tendo faltado a nenhuma das outras reuniões, quer enquanto Vereador, quer depois como simples Munícipe, também não iria faltar a esta última reunião de um ciclo para o qual me havia candidatado ao cargo de Presidente da Câmara, em Outubro de 2005.

A reunião que eu pensava ser mais uma, igual a tantas outras que a antecederam, veio a revelar-se a pior de todas a que assisti.

O meu juízo não advém da intervenção dos deputados municipais, nem tão pouco da intervenção de alguém do público que entendeu, uma vez mais, pronunciar o meu nome, mas tão-somente de uma intervenção do Senhor Presidente da Câmara.

Vamos por partes:

É "natural" que os deputados municipais eleitos da maioria aceitem e aprovem as propostas do Executivo Municipal ao mesmo tempo que rejeitam e reprovam as propostas da oposição.

É "natural" que os deputados municipais eleitos para serem oposição sejam incómodos na hora de validarem propostas da Executivo Municipal que estes lhes suscitem algumas reservas e sejam ainda mais incómodos quando entendem pôr em causa actos praticados pelo Executivo por si julgados como actos deficientes.

Tais comportamentos são "naturais" porque, em muitos casos, tais intervenções não passam de um simples jogo em que nenhum quer perder, independentemente dos seus actos resultarem na vitória ou na derrota do Concelho que juraram servir. Ao longo desta "nossa legislatura" foram vários os casos em que tal aconteceu. Será que a verdade esteve sempre de um lado e o erro do outro?

Todos serão capazes de admitir que a verdade e o erro estiveram sempre presentes nas duas bancadas opositoras. Eu próprio não tenho problema em admitir que, pese todo o empenho que tive em reduzir a probabilidade do erro na minha prestação, enquanto Vereador, terei por ventura cometido alguns erros. Não seremos nós humanos e o erro fazer parte do nosso caminho?

Por isso quando os representantes das duas bancadas decidiram intervir para justificarem que o comportamento político que verdadeiramente defendeu os interesses dos seus eleitos foram os protagonizados pela sua bancada, não tive qualquer reacção.

Também não tive qualquer reacção quando um Sardoalense, que gosta de se caracterizar na personagem que na altura melhor serve os seus interesses (naquela altura não sei se era munícipe ou pseudo-político), utilizou o meu nome e cantou loas pelo facto do Ministério Público ter entendido que os insultos que ele havia proferido ao meu bom nome “eram normais em política” e “entre políticos” escusando-se, desse modo, ele próprio avançar com um processo crime contra o autor de tais insultos conferindo-me todavia a possibilidade de ser eu a avançar com o processo de difamação para os tribunais num prazo temporal por si definido, caso eu assim o entendesse.

O momento pior da reunião foi quando o Presidente da Câmara Municipal entendeu fazer uma retrospectiva sobre o comportamento dos membros dos Autarcas eleitos,durante estes últimos quatro anos, quer eles pertencessem à posição em exercício ou à oposição.

Munindo-se de um texto previamente escrito, dirigiu aos autarcas da oposição e ao seu líder um conjunto de palavras carregadas de desprezo que me indignaram profundamente.

Pese o facto de me ter retirado do Grupo da Oposição há cerca de um ano, senti que as suas palavras também eram dirigidas à minha pessoa e, sinceramente, em circunstância alguma as merecia. Só não intervim porque havia estabelecido comigo próprio um compromisso que até ao fim do mandato não faria qualquer intervenção durante as Reuniões da Assembleia Municipal.

Aqui, neste meu “cantinho” nunca formulei tal compromisso e, desse modo, julgo ser meu dever fazer alguns comentários sobre o teor da declaração proferida pelo Presidente da Câmara:

1º Enquanto Vereador poderei ter cometido alguns erros por força da limitação temporal a que estava sujeito na hora de tomar uma decisão, contudo sempre me pautei pela defesa da ética e da responsabilidade. Nunca acusei ou denunciei sem que antes tivesse dado o direito de resposta às dúvidas que me assolavam. Fui incómodo? Acredito que sim. As actas das reuniões são a prova de que do mesmo modo que elogiei um bom acto exercido pelo Presidente da Câmara fui capaz de reprovar e denunciar um mau acto. Mas esse não era o meu papel enquanto Vereador da Oposição? Nunca temi o presente porque ele é efémero. Eu temo o futuro porque será ele que me julgará.

2º Tiro o meu chapéu aos Deputados Municipais do Partido Socialista, Dr. Fernando Vasco e Dr. Manuel Paulo da Silva pela polidez usada na resposta a tanta agressividade política(?). Segundo um será importante que toda aquela declaração seja transcrita para a Acta daquela reunião para memória futura. Segundo outro, não existem Sardoalenses de primeira ou de segunda. Será que ele: que escolheu esta terra para viver há mais de 17 anos (como eu); aqui construiu a sua casa (como eu); que aqui educa e educou os seus filhos (como eu); que aqui sempre pagou os seus impostos (como eu) e que aqui criou a sua empresa e a registou a sua sede neste Concelho (como eu), é menos Sardoalense por ter uma visão diferente de como deveria ser governado o seu Concelho?

3º Se ao princípio me foi difícil perceber o pensamento do Presidente da Câmara (porque com toda a sinceridade, não o vejo a pensar em muito que disse, quanto mais a dizê-lo da forma que o fez), a “marca de água” do texto cedo revelou o seu autor. O seu autor não foi o Presidente da Câmara. Então se o autor do texto foi o seu Chefe de Gabinete que aproveitou a oportunidade para lançar toda a sua “acidez” contra aqueles que sempre “ousaram” colocar em causa a sua competência, ao mesmo tempo que se “auto-elogiava”, porque é que o Presidente da Câmara se prestou a tão degradante acto? Talvez um dia o saberemos.

4º Sou daqueles que pensa que os resultados menos conseguidos da governação do Presidente da Câmara do Sardoal ao longo destes anos, se deveram (e devem) em grande medida, à incompetência profissional de muitos colaboradores que o rodeavam (e rodeiam). Não é difícil perceber que um desses colaboradores é o seu próprio chefe de gabinete que não olha a meios para atingir os seus próprios fins. E os seus fins são claros: a sua própria sobrevivência. A sua história fala por si, desde o dia em que saiu da Casa da Moeda (em que circunstâncias?) e depois decide percorrer o caminho da vida inicialmente qual Dom Quixote comunista e, mais tarde, porque derrubar moinhos de vento não enche a barriga, “alugar-se” a quem lhe pague para fazer aquilo que melhor sabe: dizer mal dos outros. Talvez um dia saberemos porque o Presidente da Câmara o escolheu para seu Chefe de Gabinete quando aquele não esconde o orgulho ao afirmar que não tem carta de condução, não usa telemóveis e abomina computadores. Simplesmente admirável, nos tempos que correm e ocupando tão distinto cargo. E foi vê-lo na festa do PSD local na apresentação dos seus candidatos às próximas eleições autárquicas. A propósito, já é militante?
Claramente é uma “figura” que tem de ser descartada da cena política local. Contrariamente ao que vem afirmando que eu em devido tempo exigi a sua demissão de Chefe de Gabinete, quando apenas pretendi uma retractação de um erro, hoje peço ao meu Presidente da Câmara que o encaminhe para a porta da rua, que é a serventia da casa. Se o seu futuro depois passa por “arrumar carros” numa qualquer esquina deste país é um problema seu. RUA!!!

5º O futuro do Sardoal afigura-se muito difícil. Todos seremos poucos para enfrentarmos os ventos que aí vêm. Espero sinceramente que a próxima legislatura seja diferente daquela que agora termina. Os interesses da nossa comunidade deverão sobrepor-se aos interesses individuais de cada um de nós. Sejamos um exemplo para os outros!

(Post Script Um: No próximo artigo espero voltar ao tema das eleições)

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