quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Eleições (3)

Se bem se recordam, dizia eu no passado dia 5 de Setembro que, já naquela altura, a prestação dos candidatos dos Partidos que concorrem nestas Eleições Legislativas era tal, que não só cansava quem os ouvia, mas também os cansava a eles próprios.

Era previsível, então, que o passar dos dias nos iria reservar um sem número de “surpresas” quanto à capacidade inventiva dos partidos para captar os votos dos indecisos (por exemplo, como eu).

Uma delas, que é recorrente nestas alturas, assenta na divisão dos portugueses em duas classes: os de esquerda e os de direita. Cada um, à sua maneira, tenta elevar os seus ideais e reduzir os ideais dos outros. Em consciência, não sei se tenho ideais de esquerda, de direita, dos dois ou de nenhum dos dois.

Enquanto adolescente, os ideais de esquerda acompanhavam-me permanentemente na hora de reivindicar a “liberdade” que uma “classe dominadora” (os meus pais) se recusava a conceder-me. O seu argumento (imagine-se!!!) era de que aquela “feria os princípios da educação que pretendiam para mim”. Como eu não os compreendia e como só mais tarde os compreendi quando passei do ciclo de filho, para o ciclo de pai! Tudo isto vale por dizer que todos nós, sem excepção, crescemos com o espírito reivindicativo de esquerda. Contudo, as vivências que a vida nos vai legando, vão moldando um ideal de vida em cada um de nós. Será que o meu ideal de vida é o mais puro e perfeito de todos? Para mim é, independentemente de outros o poderem “classificar” de esquerda ou de direita.

Assim, quando ouço uns partidos a apelarem à unidade da esquerda contra a direita ou vice-versa, acreditem que mesmo que quisesse identificar o meu campo, não conseguiria. Senão, vejamos:

- Defendo que todos nós deveríamos ter os mesmos cuidados de saúde e as mesmas oportunidades no ensino. Isso faz de mim um homem de esquerda? OK. Sou de esquerda.

- Defendo que os sindicatos deveriam ser substituídos por tribunais de trabalho especiais que defendessem não só os interesses dos trabalhadores, mas também os interesses dos seus empregadores. Isso faz de mim um homem de direita? OK. Sou de direita.

- Defendo que uma percentagem dos lucros de qualquer empresa deveria ser fortemente taxada caso a mesma não fosse distribuída de uma forma proporcional por todos aqueles que foram responsáveis pelos mesmos: os seus trabalhadores. Isso faz de mim um homem de esquerda? OK. Sou de esquerda.

- Defendo que os presos, quando no cumprimento das suas penas, deverão prestar serviços à comunidade em vez de estarem confinados ao espaço da prisão, nem que seja a limpar as nossas matas e florestas. Isso faz de mim um homem de direita? OK. Sou de direita.

- Sou católico confesso e acredito em Deus. Isso faz de mim um homem de direita? OK. Sou de direita.

- Defendo que todo aquele que pretenda trilhar os caminhos da governação política tenha de experimentar primeiro o que é ter de acordar todos os dias e buscar o seu sustento no trabalho que tiver de desenvolver nesse dia e não sustentado num vencimento de empregado (na esmagadora maioria das vezes são funcionários públicos que sabem que aconteça o que acontecer, no dia 22 ou no dia 25 o seu salário será depositado na sua conta bancária e que os caminhos da política lhes trarão benefícios económicos e uma prática de vida que de outro modo jamais o conseguiriam). Isto, pelos vistos, não faz de mim ser de esquerda, nem de direita.

Poderia continuar aqui a dissertar sobre o que defendo e não chegaria a qualquer conclusão quanto ao facto de poder ser de esquerda ou de direita. Aquilo que sei é que sou um português que se vai cansando de assistir a tanta incompetência e irresponsabilidade.

Há uns tempos atrás, todos nós assistimos às críticas que proeminentes militantes dos dois partidos "mais destacados" do cenário político nacional faziam contra os dirigentes dos seus próprios partidos. Hoje, tudo é diferente. A troco de uma eventual perda de protagonismo e poder, dão o dito por não dito, atirando para as urtigas coerências e ideais. Quem os poderá levar a sério?
Agora já só faltava atirarem para a “fogueira” a asfixia democrática de uns (e dos outros?) e a evocação de tempos de má memória que alguns viveram há mais de 35 anos!!!

Eu, tal como a esmagadora maioria dos portugueses, quero que quem me governe possa responder às minhas perguntas:

- Porque é que eu quando vivi em espaço de guerra, aquando da guerra colonial, me sentia mais em segurança que hoje, entre os meus e no meu próprio País?

- Porque é que eu continuo a ver o dinheiro dos meus impostos ser esbanjado em submarinos, em projectos de aeroportos e comboios de alta velocidade, para pagarem subsídios de integração a quem não se quer integrar e “alimentar” um conjunto enorme de pessoas que vive à custa de ideologias que gostariam que outros seguissem, qual esquema de ganhos em pirâmide?

- Porque é que existem portugueses que ainda muito antes do nascer do Sol vão ganhando vez à porta dos centros de saúde, para que lhes seja passada, por um médico, uma receita para dar continuidade ao tratamento de uma doença que os afecta ou afecta algum dos seus familiares? E se tem o “azar” de se atrasar, porque existem limites no número de actos a passar pelo médico, ou este por ventura falte, no dia seguinte lá se volta outra vez para a fila. Porquê?

- Porque é que quando alguns “poderosos” decidem errar, os tribunais que os vão julgar param no tempo? E se o erro envolve uma eventual violação de menores, porque será que essa paragem no tempo dá tempo a essas próprias crianças poderem estudar, formarem-se em direito e tornarem-se os juízes que vão julgar, finalmente, todos aqueles que atentaram contra a sua honra?

- Porque é que a nossa agricultura se encontra de “rastos” e conhecemos por estes dias um relatório da Comunidade Europeia o qual dava conta que Portugal foi o país da Comunidade que menos aproveitou os fundos destinados à agricultura (64 milhões de Euros?

- Porque é que Portugal é dos países que mais legisla? Quanto custam aos cofres do Estado as leis que, todos os dias, são feitas por batalhões de juristas pertencentes a Gabinetes de Advogados particulares?

- Porque é que o Director do Banco de Portugal, ao tempo, auferia um vencimento superior ao Director do Tesouro Norte-americano?

- Porque é que eu sinto serem cada vez mais escassas as probabilidades de eu, aos 70 anos, poder receber uma reforma que me permita encarar o fim dos meus dias com a dignidade que qualquer ser humano merece?

- Porquê?...

Acho que vou começando a ganhar consciência do que fazer do meu voto no próximo domingo!

(Post Script um: Porque será que as secções concelhias do PSD e do PS do Sardoal, que possuem blogs próprios não apelam ao voto nos seus partidos no próximo dia 27? De visita aos mesmos nada se lê sobre as Eleições do próximo domingo. Será que tal ausência se deve a uma “estratégia envergonhada” para não comprometer os resultados eleitorais nas eleições autárquicas de 11 de Outubro ou será que os seus responsáveis têm as mesmas dúvidas que eu? Se as têm, que “raio” de militantes são eles? Qual é a causa que defendem? Vou-me convencendo que as causas nada têm a ver com os outros. A causa é a própria.)

(Continuo para a semana!)

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