domingo, 14 de fevereiro de 2010

A Barca do Inferno


(Painel localizado na Praça da República em Sardoal. Foto 13/02/2010)
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Se eram muitos os que esperavam por uma pandemia gripal neste Inverno, possivelmente ninguém esperaria por um "terramoto político" que teve o seu “epicentro” numa qualquer sucata deste País, lá para as bandas de Aveiro, e cujas ondas “sísmicas” têm provocado na sociedade portuguesa alguns “sentimentos de desconfiança” nas três das figuras mais importantes da Nação (P.M., P.G.R. e P.S.T.J.), no vértice do qual está o nosso P.M.

Porque penso que a grande maioria das pessoas, que “visitam” este meu canto, leram as duas últimas edições do semanário “Sol” ou têm acompanhado os últimos acontecimentos ligados ao “Processo Face Oculta” e os tráficos de influências que o mesmo sugere, formulo hoje aqui algumas interrogações que todo este processo me suscita.

… Se não fosse a “gula empresarial” de alguém ligado ao comércio das sucatas e o sentido de responsabilidade de quem detinha o dever de julgar, será que alguma vez todo este enredo se conheceria?

… Se não fosse a coragem de uns quantos jornalistas em quererem “desenterrar” uma história já “enterrada”, será que todo este enredo conheceria a luz do dia?

… Será que não existem outras “faces ocultas” que nunca chegarão a ver a luz do dia?

… Será que é moralmente justo que alguém sem curriculum empresarial, com uma licenciatura em Marketing e com escassa experiência de vida, seja administrador de uma das maiores empresas do País, com um vencimento anual principesco (confirma-se os 2,5 milhões de euros anuais?), apenas e só porque o Estado detém uma “golden share” nessa empresa e o Governo pretende “pagar-lhe” um favor político?

… Será que o fracasso do nosso País não se deve em grande medida à política do “jobs for the boys”, cuja única competência desse autêntico exército, é a fidelização e obediência cega ao líder?


Algumas notícias vindas a lume no âmbito do Processo “Face Oculta” lembram-me a razão de alguns pensamentos célebres que pertencem à história:

- Sobre o pensamento de José Sócrates, antes de ser P.M. (Caso Marcelo Rebelo de Sousa em 2004) e depois de ser P.M. (Caso Manuela Moura Guedes em 2009) sobre a resposta do Governo ante uma Comunicação Social “antipática”, lembro:

“Nada é tão admirável em política, quanto uma memória curta” (John Kenneth Galbaith)

“Toda a política de um governo é cercar-se de garantias para se manter no poder” (Adão Myszak)

- Sobre a forma como o partido no poder considerou a acção da justiça nos primórdios do Processo “Face oculta” (espionagem política a favor do PSD) e agora com a revelação de algumas escutas no âmbito do mesmo Processo (confiança absoluta na justiça), lembro:

“A justiça nada mais é do que a conveniência do mais forte” (Platão).

- Sobre a forma como alguns “boys” se revelaram na ânsia de agradarem ao Chefe, lembro:

“Na política não há amigos, apenas conspiradores que se unem” (Victor Lasky)

“Que Deus me proteja dos meus amigos. Dos inimigos cuido eu.” (Voltaire)

- Sobre os esclarecimentos que o P.M. deu ao longo de todo este tempo acerca dos conhecimentos que possuía quanto ao negócio que envolvia a PT e a TVI, lembro:

“ Todos os segredos da política consistem em mentir a propósito” (Jeanne Pompadour)

- Sobre a pressão social de que está a ser alvo o nosso P.M. depois de no passado lhe terem sido tecidos rasgados elogios, lembro:

“A Política é como um "show business": começa-se por uma estreia fantástica, desliza-se por algum tempo e acaba-se no Inferno” (Ronald Reagan)

- Sobre a forma como os Portugueses competentes continuam a afastar-se da política, entregando a outros, sem competência, tal tarefa, lembro:

“Todas as Nações têm o governo que merecem” (Joseph Maistre”

“ A punição que os Homens Bons sofrem, quando se recusam a fazer parte de um Governo, é viverem sob o Governo de Homens Maus” (Platão)

E assim, no extremo ocidental da Europa vai navegando uma Barca em direcção ao Inferno, metendo água por todos os buracos, enquanto que o seu comandante e tripulantes estão mais preocupados em negar a sua existência do que propriamente em tapá-los. Para os passageiros só lhes resta saber se, na hora da barca se afundar, ainda existe alguma bóia disponível onde se possam agarrar, uma vez que elas são escassas e mal chegam para o comandante e seus tripulantes.

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Post Scriptum - As eleições no PSD já aquecem. Já são quatro, os candidatos “laranjas” ao cargo de Presidente do PSD e, consequentemente, ao cargo de P. M. de Portugal. Ainda não conheço as suas linhas programáticas, porém, de entre todos, aquele a quem, presentemente, mais confiaria o meu voto para P.M. seria o Passos Coelho.

- Que resultados práticos obteve, até ao momento, o PSD no mandato de MFL?
-Nenhuns. (Não consigo perceber as palavras da MFL quando esta semana afirmou à Comunicação Social que havia cumprido com todos os objectivos a que se havia proposto. Se assim foi, porque mentiu aos seus militantes afirmando que a sua candidatura tinha como propósito ganhar as eleições legislativas e ser P.M.?)
- A “vitória” das Europeias deveu-se apenas ao demérito do seu adversário mais directo (Vital Moreira).
- Mesmo com tantos dissabores e revezes políticos e sociais e onde o desemprego vai atingido proporções alarmantes, os Portugueses preferem continuar a confiar os seus destinos nas mãos do PS, conforme atestam as sondagens (mal, por mal…).
- Será que não vai sendo tempo do PSD deixar de dar tiros em si mesmo?
- Alguém que obteve 31,1% dos votos dos militantes para Presidente do PSD (contra os 37,9% do eleito) deveria ter merecido mais respeito e consideração, em vez de ter sido votado ao ostracismo político por parte de quem não soube ganhar. (A uma outra dimensão, foi a ausência desse respeito e consideração o motivo pelo qual, há já alguns anos, me fez desvincular de militante do PSD. Talvez estas recordações me influenciem, contudo, alguém tem dúvidas quanto à necessidade que há em “Mudar”?)
- Será que Paulo Rangel e Aguiar Branco não têm também uma quota-parte no insucesso actual do PSD? Será que não representam a continuidade de uma política falhada e desfazada no tempo? (Se eles aceitaram fazer parte da estratégia de MFL é porque acreditaram nela. Ou será que não acreditaram e o apego ao poder, ainda que ténue, chamou mais alto?

O sucesso de um governo só poderá ser atingido à custa de uma oposição forte e responsável. Infelizmente para todos nós, o PSD, sendo um partido alternativo de governo, não tem contribuído com a parte que lhe cabe.

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