sábado, 11 de setembro de 2010

Roleta Russa

Foi com alguma apreensão que acompanhei os recentes tumultos sociais que eclodiram num maravilhoso País que dá pelo nome de Moçambique. O que terá levado um Povo pouco dado à violência e muito tolerante a manifestar-se da forma como o fez?

As notícias que nos chegaram deram conta que a semente que gerou tamanha ira foi a possibilidade dos aumentos promovidos pelo Governo Moçambicano sobre os bens de consumos essenciais, poderem agravar a já débil “saúde financeira” da esmagadora maioria das famílias que compõem o tecido populacional Moçambicano, em que dia após dia tudo fazem para afastar o espectro da fome. Sem uma estrutura social de apoio é cada um por si.

Desconheço as razões que levaram o Governo Moçambicano a aumentar os bens de consumo (a imprensa aponta o dedo ao FMI) porém o facto de ter dado um passo atrás em alguns dos aumentos previstos revela alguma responsabilidade.

Quando a barriga está vazia, a cabeça não pensa e as forças não abundam. Que futuro poderá ter um País quando a sua população tem fome?

Aqui chegado dou por mim a pensar:

- Será que em Portugal estamos livres de tais tumultos sociais?

Alguém dirá que tal é impensável, não só porque somos um povo de brandos costumes (e os Moçambicanos não o são?), que estamos na Comunidade Europeia (que tudo faria para que tal não acontecesse), blá blá… blá blá…

Eu não tenho tanta certeza assim. Observemos de uma forma neutral o nosso País:

- Cerca de 5 Milhões de portugueses vivem do Estado (3,5 milhões de reformados + 675 mil funcionários públicos + 390 mil com Rendimento Mínimo de Inserção Social + 352 mil com subsídio de Desemprego + 105 mil com subsídio de doença);

- De acordo com algumas estimativas a população portuguesa actualmente é de 10,674 milhões, dividindo-se por uma estrutura etária tal (com menos de 15 anos = 15,6%; dos 15 aos 24 anos = 12,6%; dos 25 aos 49 anos = 37,2%; dos 50 aos 64 anos = 17,5%; dos 65 aos 79 anos = 13,2% e com mais de 80 anos = 3,8%) que permite perceber que são poucos, muito poucos, os que “alimentam a máquina devoradora do Estado”.

- Depois de pagos os salários e as prestações sociais, ao Estado, pouco sobra para investir. Assim, o investimento só se consegue à custa de endividamentos ao estrangeiro, com custos cada vez maiores ao nível dos juros a cobrar.

- No meio destas águas turbulentas navegam alguns Portugueses que envergando a capa da política tudo fazem para que, em caso da nau se afundar, a sua sobrevivência esteja garantida. E é vê-los a “jogar” o jogo da “roleta russa”. Nesse jogo apenas se preocupam em apontar a pistola a uma cabeça (que nunca a sua), rodar o tambor da pistola e premir o gatilho. Quando se cansam, nada mais conveniente do que “emprestar”, temporariamente, a pistola a outro “camarada de armas”. O maior gozo que esse “jogo” lhes dá é saberem que os esperam reformas milionárias pelos excelentes “resultados desportivos”. Quanto aos outros… bem… a barca é pequena e nem todos cabem. Por isso…

Será que este povo de tão brandos costumes irá permanecer, por muito mais tempo, indiferente ao facto de ver a sua cabeça servir de alvo (ou troféu de caça) de um qualquer “jogo de roleta russa”?


(P.S. – Para nos “distrairmos”, esta semana tivemos o já aguardado despedimento do seleccionador nacional de futebol e mais um episódio do folhetim “Casa Pia”.

Quanto ao despedimento de Carlos Queirós, que já previa no meu último artigo, conhecido o conteúdo do Acórdão do ADoP há qualquer coisa que não bate certo. Se os factos que envolveram o seleccionador nacional e os médicos da ADoP ocorreram no dia 16 de Maio porque é que só agora se entendeu accionar o processo? Será que quem mandou suspender todo o processo (porque possivelmente era “chato” a selecção chegar à África do Sul com um novo seleccionador) não deveria assumir as suas responsabilidades e demitir-se automaticamente do cargo? Quem quer que tenha sido (nem que seja o Presidente da República ou o Primeiro Ministro) que se demita já!

Quanto aos “doutos” conselheiros da Disciplina da FPF também deveriam ir dar uma curva ao bilhar grande. O Conselho deu como provado o seguinte: “«18. E depois o arguido (Carlos Queirós) disse ainda pelo menos: “Porque é que estes gajos não vão, a esta hora, fazer o controlo na c--- da mãe do Luís Horta?» 19. O arguido não conhecia pessoalmente o Dr. Luís Horta nem a mãe dele. 20. Estas palavras foram ouvidas pelo menos pelos três médicos da ADoP e pelo Dr Nuno Campos”.

Quando confrontado sobre tamanha ordinarice, CQ “defendeu-se” (no seu depoimento de 01.08.2010) argumentando que “… de acordo com a sua cultura e raízes africanas, há um vernáculo, um calão, «vai para a conamaim», ou foste colocado em c--- da mãe» que significa ir para longe, estar longe… sem que com isso se queira com ela ofender essa pessoa…”.

Nascidos no mesmo ano e tendo crescido juntos em Moçambique (ainda que afastados algumas centenas de quilómetros um do outro e sem nunca nos termos cruzado) confirmo que Carlos Queirós tem razão ao descrever o verdadeiro significado de “conamaim”, mas não tem razão ao querer “colar” o termo à injúria por si produzida. Nesse País imenso era a comunidade branca que utilizava esse calão sempre que se queria referir a um local muito longínquo e difícil de descrever. Quanto à comunidade negra, conamaim nada significava, todavia, "mandar" alguém, numa forma baixa e ordinária, para a “porta que abriu o outro ao mundo” (em chissena é “conguamaco”) é a maior ofensa que alguém pode fazer a outrem. É aqui que considero que diante de tamanha ordinarice os doutos conselheiros foram ingénuos e não são merecedores das cadeiras que ocupam. Será que C.Q. ao invocar alguém perfeitamente identificado, independentemente de não a conhecer, poderá atribuir o mesmo significado a um local longínquo?

Se para um “burro” isso seria impensável, o que dizer de quem é professor.

Relativamente ao Processo da Casa Pia a única coisa de bom que o mesmo produziu é que, para os que não acreditavam, não é nenhum estatuto social alguém molestar sexualmente uma criança, antes pelo contrário, é CRIME e merecedor de PRISÃO.

Quanto ao mais, alguém de bom senso acredita que “aquela gente” que o tribunal agora julgou e condenou, voltará a ver o Sol, aos quadradinhos? Eu não acredito!)

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