domingo, 26 de setembro de 2010

Banda Gástrica

A “guerrilha política” protagonizada esta semana pelos responsáveis dos dois maiores Partidos Políticos, há muito que era esperada e apenas foi surpresa para alguns mais distraídos.

Agora que o PEC 2 se revela um fracasso face aos objectivos pretendidos, basta-me recuperar dois artigos por mim aqui escritos (“A Barca do Inferno 2”, de 21 de Fevereiro de 2010 e “A solução é Cavar” de 18 de Abril), para se perceber quão céptico eu estava quanto ao seu sucesso.

A recordação destes artigos serve, também, para provar que todos estes incidentes políticos protagonizados pelos responsáveis dos dois maiores partidos portugueses já há muito era expectável e apenas se estranha que tivesse levado tanto tempo a revelar-se. E, como diz o Povo, “a Procissão ainda vai no Adro”, porque “Casa sem pão…”

Na guerra pelo Poder tudo vale e tudo tem valido. E se esse poder tem a sua origem na vontade de alguém expressa no tempo suficiente para ele desenhar um simples X numa pequena folha de papel, nada como saber gerir-lhe essa vontade. Antes do X dizendo-lhe o que ele gostaria de ouvir. Depois do X iludindo-o e apontando a outros a razão do seu insucesso.

Quando um País é pobre e a vida se alimenta de sonhos, só existem duas saídas ao cidadão comum: ou apostam na sorte do jogo (será que Portugal não é dos Países com maior número de apostas no euromilhões?) ou apostam num salário sem riscos. Sendo ínfimas as probabilidades de sucesso na aposta do jogo, depressa se viram para aposta do salário sem risco. E aqui, o patrão Estado evidencia-se em todo o seu esplendor, porque ele é o Patrão dos Patrões. Sem desprimor para a figura do Presidente da República, o limite é a cadeira do Primeiro-ministro e o caminho até ela que está ao alcance de qualquer um. Nesse caminho, existem muitas cadeiras apetecíveis e tudo vale para as ocupar, porque a procura é muito superior à oferta.

Porque será que a esmagadora maioria dos nossos políticos, em toda a sua vida, apenas conheceram o Patrão Estado? A que riscos pessoais alguma vez foram sujeitos, sem que para tal a garantia do Patrão Estado não estivesse sempre presente? E assim “cresceram” e foram “educados”.

Enquanto o erro do Empresário fica com ele, o erro dos assalariados do Patrão Estado é corrigido, obrigatoriamente, pelos contribuintes. Será que, assim, não é cómodo ser-se assalariado do Patrão Estado?

E porque na Lei da Sobrevivência de qualquer político apenas conta a tal cruz num pedaço de papel, nada como, criar um “monstro” que a irá desenhar. Habituado a farto alimento e pouco fazer para o merecer, quando falta comida, o “monstro” pragueja e inquieta quem o alimenta. Hoje, quando os seus “tratadores” começam a perceber que as prateleiras da despensa começam a ficar vazias e sem alternativas para as voltarem a encher sabem que só existe uma saída para debelar o apetite voraz do monstro: aplicar-lhe uma “banda gástrica”.

Na raiz da guerrilha política jaz o conhecimento segundo o qual, o “monstro” não irá perdoar a quem lhe coloque a “banda gástrica” e o tratador que o fizer perderá as regalias que ele lhe concede.

Esta é a realidade com que o PS e o PSD se debatem. Ambos têm conhecimento da necessidade de se proceder à redução das Despesas do Estado só que nenhum quer ficar com o ónus de tal “responsabilidade”, uma vez que nessa redução poderão ser incluídos cortes na máquina salarial do Estado. O que era uma batata quente que, até há pouco tempo, se poderia passar de mão para mão, sem queimar, tornou-se numa pedra incandescente que só a sua proximidade já queima.

Nesta contenda política, de um lado está Sócrates que percebe ter atingido o ponto a partir do qual, basta o seu respirar para granjear rejeições por parte de quem o elegeu, do outro lado está Passos Coelho que percebe que a fraqueza de Sócrates o fortalece, enquanto que, pelo meio, estamos todos nós, um povo sem esperança no futuro.

Sou dos que acreditam que o Orçamento de Estado para 2011 irá ser aprovado com a abstenção do PSD, porque Portugal não tendo o OE aprovado e “vivendo” de duodécimos não poderá contrair os empréstimos imprescindíveis para o equilíbrio das suas contas uma vez que as suas receitas são inferiores às suas despesas.

Só vislumbro uma possibilidade real do Orçamento de Estado não ser aprovado, que é a do Governo apresentar uma proposta irrealista e irresponsável, mesmo tida como tal aos olhos da Comunidade Europeia. Porque me recuso a acreditar que tal cenário venha a acontecer (os portugueses não perdoariam ao PS), uma vez que o OE tenha a concordância e o aval da CE, ao PSD só lhe restará abster-se, propalando aos 4 ventos que não tem qualquer responsabilidade naquele Orçamento e que a sua atitude deverá ser entendida, uma vez mais, enquanto patriótica, ao mesmo tempo que íntimamente vai contando os dias que o recolocarão, de novo, no governo.

O PSD sabe que a actual situação recomenda, como alguém dizia, que se “faça de morto” e não tenho dúvidas que é o que acontecerá até Cavaco Silva, já no seu segundo mandato de PR poder dissolver o Parlamento e marcar eleições antecipadas lá para o Verão de 2011. E do mesmo modo que o PSD o sabe, também o PS não o desconhece, tudo fazendo para “reanimar” quem se quer passar por morto.

E ainda há quem não acredite que o FMI venha "aterrar" no Aeroporto da Portela, mesmo quando os responsáveis máximos deste País tudo fazem para que a passadeira vermelha que lhes irá ser estendida esteja o mais limpa possível...

(P.S. A visita que o nosso Presidente da República, em boa hora, efectuou esta semana ao Sardoal, promoveu em todos nós um orgulho que há muito não sentíamos. Para ele o nosso obrigado e... venha mais vezes! Apenas uma questão: “Será que era necessário tanta segurança, que até para um paraplégico passar com o seu carro em frente do parque de estacionamento do Centro Cultural, quando Cavaco Silva se encontrava no seu interior, os agentes de serviços junto à rotunda que o conheciam e sabiam que era o único caminho que tinha para ir para sua casa, tiveram de questionar previamente os seus superiores, uma vez que as ordens recebidas os impediam de deixar passar qualquer viatura?”



Em matéria do Concelho apenas duas notas muito breves: as Festas do Concelho e a política local.
Quanto ás Festas, tirando um ou outro percalço (a doença súbita de uma artista convidada e o voltar de costas do público às manifestações musicais de 5º feira à noite), estiveram bem, pelo que é justo felicitar os seus organizadores. Acredito que se fizeram as omeletas para os ovos disponíveis, se calhar, até se excederam um pouco.
Já quanto à política autárquica que venho acompanhando através da leitura das actas das reuniões de câmara publicadas no sítio da Internet, foi com surpresa, que li que, a duração conjunta das duas reuniões do Executivo Municipal do Sardoal realizadas durante o passado mês de Agosto, foi de apenas (!!!) uma hora e trinta e cinco minutos (no dia 8, entre as 9:40 e as 10:15 e no dia 20, entre as 9:45 e 10:45). Será que, à imagem do que acontece no cenário político nacional, a oposição local também quer passar “por morta”?)

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