domingo, 3 de outubro de 2010

Pensamentos

Pensamento 1: Em 24 de Setembro de 2009, antes das eleições legislativas, escrevia aqui, no “Três Bicas”:

«… Eu, tal como a esmagadora maioria dos portugueses, quero que quem me governe possa responder às minhas perguntas:

- Porque é que eu quando vivi em espaço de guerra, aquando da guerra colonial, me sentia mais em segurança que hoje, entre os meus e no meu próprio País?
- Porque é que eu continuo a ver o dinheiro dos meus impostos ser esbanjado em submarinos, em projectos de aeroportos e comboios de alta velocidade, para pagarem subsídios de integração a quem não se quer integrar e “alimentar” um conjunto enorme de pessoas que vive à custa de ideologias que gostariam que outros seguissem, qual esquema de ganhos em pirâmide?
- Porque é que existem portugueses que ainda muito antes do nascer do Sol vão ganhando vez à porta dos centros de saúde, para que lhes seja passada, por um médico, uma receita para dar continuidade ao tratamento de uma doença que os afecta ou afecta algum dos seus familiares? E se tem o “azar” de se atrasar, porque existem limites no número de actos a passar pelo médico, ou este por ventura falte, no dia seguinte lá se volta outra vez para a fila. Porquê?
- Porque é que quando alguns “poderosos” decidem errar, os tribunais que os vão julgar param no tempo? E se o erro envolve uma eventual violação de menores, porque será que essa paragem no tempo dá tempo a essas próprias crianças poderem estudar, formarem-se em direito e tornarem-se os juízes que vão julgar, finalmente, todos aqueles que atentaram contra a sua honra?
- Porque é que a nossa agricultura se encontra de “rastos” e conhecemos por estes dias um relatório da Comunidade Europeia o qual dava conta que Portugal foi o país da Comunidade que menos aproveitou os fundos destinados à agricultura (64 milhões de Euros?
- Porque é que Portugal é dos países que mais legisla? Quanto custam aos cofres do Estado as leis que, todos os dias, são feitas por batalhões de juristas pertencentes a Gabinetes de Advogados particulares?
- Porque é que o Director do Banco de Portugal, ao tempo, auferia um vencimento superior ao Director do Tesouro Norte-americano?
- Porque é que eu sinto serem cada vez mais escassas as probabilidades de eu, aos 70 anos, poder receber uma reforma que me permita encarar o fim dos meus dias com a dignidade que qualquer ser humano merece?
- Porquê?...
Acho que vou começando a ganhar consciência do que fazer do meu voto no próximo domingo!...»


Pensamento 2: Mais tarde, quando se revelou que os números do défice eram substancialmente superiores àqueles que o governo tinha utilizado na campanha eleitoral, porque a ânsia do poder assim exigia, em 22 de Novembro de 2009, escrevia eu aqui no “Três Bicas”:

«… A MINHA VAIA DA SEMANA: A forma como o Ministro das Finanças do governo anterior projectou em finais de Janeiro a projecção do défice a que Portugal chegaria no fim do ano de 2009 (por volta dos 3%) justificando que tal se deveria ao facto de se projectar um forte investimento do governo no apoio às empresas para fazer face ao elevado índice de desemprego verificado. O mesmo Ministro das Finanças, agora no novo governo, vem projectar esse mesmo défice em cerca de 8% (?), alguns meses depois, sem quaisquer resultados práticos no desemprego (e de que maneira subiu!) e sem perspectivas lógicas de inversão (será que a conjuntura económica mundial é a única culpada de tais desastrosos resultados?), ao mesmo tempo que é mantida a vontade de se investirem milhões (que não temos e precisamos pedir emprestado ao estrangeiro) para se construírem linhas de TGV e novos aeroportos, já para não falar da rocambolesca “novela do BPN”, deixa-me profundamente preocupado sobre o meu e o futuro de todos nós.
Alguém é capaz de duvidar que não estamos às portas de novos impostos e aumento dos existentes já para o início do próximo ano?
Com excepção dos políticos que nos governam (fazendo fé nas informações que os Media relatam diariamente, nunca tais figuras viveram tão bem), está a ser está cada vez mais difícil viver em Portugal!!!...»


Pensamento 3: Em 27 de Dezembro de 2009, voltava a escrever:

«…É cada vez mais nebuloso o futuro da minha comunidade e do meu País.
Os “sinais” que temos vindo a receber ano após ano, e em particular durante o ano que agora termina, são claros e inequívocos: aqueles que nós incumbimos de nos mostrarem o caminho que deveremos trilhar têm-nos conduzido para um precipício impossível de evitar. Esta “condução” é de tal forma brutal e ultrajante que nos enfeitiça quais cordeiros a caminho do matadouro. Todos o sabemos, incluindo eles próprios, e nada fazemos para evitar este “suicídio colectivo”…»


Pensamento 4: Em 16 de Maio de 2010, antes do PEC 2, escrevia:

«… Há meses que os portugueses têm sido “entretidos” com um cardápio de mentiras e falsas promessas. Existe alguém que se encarrega a si próprio de as criar e a outros de as transformar em verdades, depois de tanto as repetirem. Basta!
Quando um povo deixa de acreditar em quem o governa, só existe um caminho: substitui-se o governante porque não é possível substituir-se o Povo. Ninguém acredita na verdade de um mentiroso.
Porque o prazo de validade de José Sócrates enquanto PM chegou ao fim, está na hora de haver mudanças no nosso Governo. Que não haja lugar a eleições antecipadas, que o PS convide Teixeira dos Santos a assumir a pasta de PM e que este se veja livre de algumas “caricaturas” governamentais…»


Pensamento 5: Em 6 de Junho, depois do PEC 2, escrevia:

«…José Sócrates, enquanto P.M., garantiu na passada 6ª feira na Assembleia da República que não haverá aumento dos impostos até 2012.
Porque será que diante desta promessa todos os Portugueses se riram, para logo de seguida começarem a chorar?...»


Depois de recordar estes meus pensamentos e após ouvir as novas medidas de austeridade propostas por Teixeira dos Santos (se alguém tinha dúvidas, o desmentido em directo ao Primeiro Ministro sobre o tempo em que decorreriam as reduções na massa salarial dos funcionários públicos, foi suficiente para perceber que em matéria de finanças é T.S. quem manda) e as justificações dadas pelo “actor principal”, quer na conferência de imprensa dada no dia 29 de Setembro, quer no dia seguinte durante o debate quinzenal na Assembleia da República, porque é que eu não acredito que ainda não é desta que vamos superar a crise?

Os dramaturgos que têm dirigido a prestação do actor principal são realmente muito bons. Senão, vejamos:

1º À data das eleições legislativas, a troco do “interesse partidário” conseguiram camuflar tão bem os números do défice que ninguém teve argumentos válidos para os contestar. (Bem se esforçou Manuela Ferreira Leite!)

2º Após ganhas as eleições começaram a divulgar aos poucos tais números, para que o número final de 9,2 não criasse tanto “barulho”.

3º Identificado o número mágico, perante a pressão dos mercados internacionais e a possibilidade do Presidente da República comprometer os “interesses instalados” derivados das eleições de Setembro, nada como partilhar o odioso com o adversário mais directo. A troco do chamado “interesse nacional” e sob juramentos envenenados pariram o PEC 2. Muito fraquinho não vá o diabo tecê-las e o mesmo ficar comprometido.

4º Até ao dia em que o PR poderia dissolver o Parlamento e marcar novas eleições legislativas, mandaram o “actor principal” cantar loas ao estado do País. Enquanto os outros viviam com problemas sociais e económicos, nós já os havíamos deixado para trás. O desemprego embora subindo, descia. A economia embora descendo, subia.

5º Passado o prazo de validade do acto presidencial e porque o garrote já sufocava, nada como arranjar, de novo, parceiros para partilhar o peso da desgraça. Com uma precisão cirúrgica, marca-se uma reunião que só será secreta se não for favorável, cria-se a confusão, o actor principal sai de cena deixando a outros actores secundários o papel de desenharem o clima do drama e o seu regresso faz-se quando a confusão já reina.

6º Criado o clima tudo pode ser feito, porque a inimputabilidade do artista jaz na representação do papel que tem de desempenhar. E assim, presta-se a nascer o PEC3 a que se seguirá, por certo novos argumentos à nascença do PEC4 e por aí adiante.


Diante tudo isto há que reconhecer a enorme capacidade dos dramaturgos que têm desenhado o drama social e económico para o qual todos estamos a ser atirados. Todos? Não!!! Os actores são intocáveis. A sua inimputabilidade protege-os de serem responsabilizados criminalmente pelas desgraças que provocam junto do público para o qual actuam. Até quando? (Na sequência da tragédia financeira que invadiu recentemente a Islândia, o primeiro-ministro vai sentar-se no banco dos réus. Olha se a moda pega!)

Se ainda há quem queira saber o que correu mal nos últimos 4 meses após a aprovação do PEC 2, julgo que o que acabo de escrever esclarece a dúvida. Olhando para a sequência das cenas do drama, nada correu mal. Tudo correu bem. Muito bem, por sinal. Mesmo que dentro de algum tempo possamos saber as verdadeiras razões que “obrigaram” os Fundos de Pensões do Grupo PT a passarem para o domínio do estado (pagos os 2 submarinos ainda sobra muito dinheiro), nada como um bom enredo para justificar que sem o dinheiro que sobrou dos submarinos, os 7,3% seriam impossíveis de atingir, mesmo que, para tal, se utilizasse o 13º mês dos funcionários e o aumento do IVA para os 23%.

Com os Fundos de Pensão da PT, os novos cortes nas despesas e os novos aumentos de impostos, são duas as opções que estão em cima da mesa: ou existem buracos que se desconhecem (BPN e outros) que urge tapar, ou alguém pretende fazer uns "floriados" baixando os 7,3% previstos para alemão pasmar. Dentro de alguns meses saberemos.

A propósito dos Fundos de Pensão da PT, alguém consegue imaginar o que seria se os espanhóis da Telefónica, após a Golden Share apresentada pelo Governo Português, tivessem abandonado a ideia de adquirirem a participação que a PT detinha na Vivo brasileira?

Apague-se a luz, e feche-se a cortina do palco! Já chega de tanto drama!

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