domingo, 10 de outubro de 2010

Tão "cloro" como a água

Uma reportagem da SIC, esta semana, veio agitar as águas lá para as bandas da ERSAR (Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos). Com o apoio técnico da QUERCUS foi divulgada uma reportagem ("Desta água beberei?") que provou não ser de tão boa qualidade a água que corre nas nossas torneiras, especialmente no que diz respeito ao deficiente uso do cloro no seu tratamento.

Diante de tamanha evidência, veio de seguida a ERSAR, através de um comunicado de imprensa, desvalorizar os resultados obtidos durante a reportagem, uma vez que ”…o estudo focalizou-se em locais potencialmente mais problemáticos, aliás baseado nos nossos dados… que o Relatório da ERSAR abrangeu todo o País sem excepção… que importa ainda esclarecer devidamente os consumidores de algumas deficiências de base do Estudo SIC/Expresso/Quercus: Ao contrário do afirmado, uma consulta à Directiva Europeia e à legislação nacional permitiria constatar que não são fixados valores limite para o desinfectante residual… que Portugal, na mais recente revisão da legislação, entendeu seguir a recomendação da Organização Mundial da Saúde relativa aos níveis de cloro residual livre (0,2 a 0,6 mg/l), sublinhando-se que é apenas uma recomendação, não constituindo incumprimento a ocorrência de valores fora do intervalo…etc…”

Quem tem razão? A Reportagem SIC/Expresso/Quercus que dá conta da deficiente qualidade da água que bebemos ou a ERSAR que nos seus relatórios não se cansa de elogiar os resultados obtidos e fornecidos pelas inúmeras entidades distribuidoras (Municípios e outras)?

Vamos a factos:

Pergunta: Quais as vantagens e desvantagens do uso do cloro no tratamento da água para consumo humano?

Resposta: O cloro é um desinfectante altamente eficiente utilizado nos abastecimentos públicos de água para atenuar e eliminar as cargas microbiológicas presentes na água e desse modo impedir o desenvolvimento de doenças causadas por bactérias que possam existir na água ou nas paredes interiores da tubagem. Se a sua presença nas redes públicas de abastecimento de água é capaz de eliminar e prevenir doenças tão críticas como a cólera ou outras, uma elevada concentração do mesmo na água poderá originar doenças tão diversas que podem ir desde a asma a eczemas, passando pelo cancro do fígado, da bexiga e doenças coronárias.

Pergunta: É possível substituir o cloro no tratamento da água?

Resposta: Independentemente de haver outras alternativas que poderiam ser utilizadas na desinfecção da água para consumo humano (gás ozono e raios ultravioleta) os seus custos sendo incomensuravelmente superiores, fazem do cloro um elemento imprescindível para o tratamento da água para consumo humano.

Pergunta: Como é que eu posso saber se a água da rede pública que sai na minha torneira não me provoca qualquer mal à minha saúde?

Resposta: Não sei. Em matéria de desinfecção tudo depende da concentração de cloro residual livre que apresente: se for inexistente ou muito baixa posso estar sujeito a uma diarreia, se for muito elevada o seu consumo continuado pode-me provocar doenças muito graves.

Pergunta: Que obrigações têm as entidades de distribuição da água diante dos seus consumidores?

Resposta: Existem directivas comunitárias que obrigam a adopção de medidas que garantam a qualidade da água e o seu conhecimento público. De entre as medidas ressalto a necessidade de se publicitarem, trimestralmente, no caso de água fornecida a partir de uma rede de distribuição, por meio de editais afixados nos lugares próprios ou por publicação na imprensa regional, os resultados obtidos nas análises de demonstração de conformidade, acompanhados de elementos informativos que permitam avaliar do grau de cumprimento das normas de qualidade previstos. Em matéria de desinfecção, sempre que a desinfecção faça parte do esquema de tratamento da água para consumo humano, compete à entidade gestora assegurar a respectiva eficácia e garantir, sem comprometer a desinfecção, que a contaminação por subprodutos da mesma seja mantida a um nível tão baixo quanto possível e não ponha em causa a sua qualidade para consumo humano.

Pergunta: Posso confiar nos resultados das análises à água que corre na minha própria casa e que trimestralmente são publicitados pela entidade gestora (Município do Sardoal)?

Resposta: Não.

Pergunta: Que razões poderão então estar na base da minha desconfiança sobre a sua qualidade quando no site da ERSAR se pode ver que, desde 2006 são efectuadas todas as análises regulamentares à qualidade da água e que em apenas 5% delas se detectou desconformidade em relação ao incumprimento de alguns valores definidos na legislação em vigor?

Resposta: A informação contida nos editais publicitados é tal modo vaga e imprecisa que não reflecte de modo algum a verdadeira qualidade da água que corre nas minhas torneiras.

Pergunta: Porquê?

Resposta: Sabendo-se que existem 15 (?) depósitos disseminados por todo o Concelho, que são vários os sistemas públicos de distribuição, que são várias as origens da água tratada (subterrânea e de superfície), que dentro do mesmo sistema de distribuição se misturam tubagens novas com tubagens antigas, será que o número de amostras colhidas, analisadas e publicitadas são suficientes? No ano de 2008 que a ERSAR refere que 95,54% das análises efectuadas à água cumpriam com a legislação em vigor, podemos ver que das 90 amostras colhidas, os níveis de cloro residual se colocaram entre menos de 0,05 mg/l e 1,9 mg/l (para os tais 0,2 e os 0,6 mg/litro adoptados pela ERSAR e OMS) e onde nada se sabe quanto aos locais onde as amostras foram colhidas e em que data tal ocorreram. Será que nos editais que publicitam os resultados das análises efectuadas à qualidade da água distribuída não deveria figurar o local onde as amostras foram colhidas bem como o seu dia de recolha? (Que tal uma visita ao site da Câmara Municipal de Ílhavo, onde a informação prestada inclui todos os pontos de recolha das amostras, a data da colheita e os resultados? Que diferença!)

Muito mais poderia ser dito sobre quem tem razão sobre a qualidade da água que bebemos, se a reportagem da SIC/Expresso/Quercus se a ERSAR. A ERSAR não tem razão nesta disputa, ao afirmar que 98% da água distribuída em Portugal é de boa qualidade. Apenas divulga os resultados fornecidos pelas entidades gestoras dos sistemas. Quanto às inspecções que diz que faz, será que são assim tão isentas sobre as quais poderemos confiar?

Já agora…

- Porque é que quando existem reuniões dos Executivos Municipais, Assembleias Municipais, Concelhos de Ministros e toda a espécie de reuniões, se distribui água engarrafada?
- Será que é só por comodidade e medidas de higiene?
- Se a água que corre nas nossas torneiras é assim tão boa, a sua utilização em tais reuniões não seria uma medida de poupança do governo, uma vez que o litro da água engarrafada comercializada se encontra ao preço da gasolina super?


Conclusão: ÁGUA DA TORNEIRA É BOA PARA TOMAR BANHO, POR VEZES SERVE PARA CONFECCIONAR E RARAMENTE PRESTA PARA BEBER.


P.S. Continua o jogo em torno do Orçamento de Estado para o ano de 2011. Todos querem jogar sem ir a jogo. O bluff e as cartas marcadas dominam a partida. Pena é que em vez de fichas são os nossos destinos que estão em cima da mesa de poker.

O anedotário político vai engrossando dia a dia:

- O presidente do PS (Almeida Santos) considera que o esforço pedido pelo Executivo com novas medidas de austeridade "não são sacrifícios incomportáveis" e que "o povo tem que sofrer as crises como o Governo as sofre". (29 de Setembro de 2010). - Coitado do PS! Se o governo lhe está a infligir um grande sofrimento, por mim está dispensado. Dê o lugar a outros!

- Um deputado socialista, que aufere cerca de 3700 euros mensais, reagiu assim ao corte de 5% que será aplicado de forma progressiva na Função Pública a quem recebe mais de 1500 euros. "Tenho 60 euros de ajudas de custos por dia. Temos de pagar viagens, alojamento e comer fora. Acha que dá para tudo? Não dá", referiu Ricardo Gonçalves para argumentar a sugestão que fez de a Assembleia da República abrir a cantina à hora do jantar. O socialista Ricardo Gonçalves admite que lançou um repto irónico aos colegas de bancada, mas afirma que o assunto é sério, e que a classe política também é muito atingida pelas medidas de austeridade. "Estamos todos a apertar o cinto, e os deputados são de longe os mais atingidos na carteira". Coitados dos deputados! - Por mim, enquanto português, estão dispensados de assentar os seus “reais rabinhos” na Assembleia da República” e dêem os seus lugares a outros. (E que tal uma leitura atenta ao Diário da República nº 28 - I série- datado de 10 de Fevereiro de 2010 - RESOLUÇÃO da Assembleia da República nº 11/2010, que trata o Orçamento da Assembleia da República para o ano de 2010? Eram só (!!!) 100 Milhões de Euros. Se a isto somarmos as subvenções aos Partidos com assento na A.R. e as subvenções pelas campanhas eleitorais, o número eleva-se até aos 191 Milhões de Euros. Pouca coisa para tão grande trabalho!)

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