sábado, 17 de agosto de 2013

O sistema de informação e a punição dos "desalinhados"

Um sistema de informações eficiente, capaz de saber o que cada um dos eleitores do Concelho pensa sobre quem o governa e qual a melhor forma de “compensar” um alinhado ou “punir” um desalinhado é outro dos ingredientes imprescindíveis para a manutenção do poder de alguém diante da comunidade que governa.

Como tudo isto se pode fazer numa grande comunidade não sei, mas numa pequena comunidade, como é o caso do Concelho do Sardoal, com menos de 4.000 eleitores inscritos (nas últimas eleições autárquicas de 2009 o número exacto era 3.677 e agora em Dezembro de 2012 o número já se aproximava “perigosamente” dos 3.500) não existe segredo. Para tanto, basta “controlar” quem vota e castigar quem ouse colocar em causa a sua autoridade. Então como se faz?

Controla-se o poder nas Juntas de Freguesias, nos Bombeiros e nas duas associações com mais prestígio no Concelho e… “fritam-se” os desalinhados.

Olhemos então para as 4 Juntas de Freguesia do Concelho e para o que têm em comum. Para além dos seus membros pertencerem ao partido do Presidente (por acaso dá pelo nome de PSD, mas poderia ter outro nome qualquer, como ABC ou XYZ, porque a filosofia do partido que está por detrás das siglas que as suportam nada valem ante os propósitos pessoais pretendidos) nos seus executivos existem funcionários camarários da confiança do Presidente da Câmara (por exemplo, um dos presidentes de uma Junta de Freguesia, de acordo com o mapa de pessoal publicado no site da CMS, é funcionário da Autarquia em situação de contrato a prazo desde 02/12/2010  e cuja 2ª renovação contractual em curso terminará em 01/12/2013) que tudo fazem para “agradar” ao chefe. Se percebermos ainda que as Juntas de Freguesia trabalhando próximas das populações são detentoras de conhecimentos muito “úteis” para quem governa, desde logo, quem é quem, quem vota, quantos votos poderão representar uma determinada “benesse” a uma determinada família, etc., talvez não seja difícil de se entender a lógica de tal estratégia. Além do mais é uma forma prática de impedir e calar reivindicações justas das Juntas de Freguesia sobre compromissos em falta por parte da Autarquia.

Olhemos para os Bombeiros! O seu estatuto de municipais faz com que, desde logo, o comandante só faça o que o Presidente determinar e a forma de se garantirem melhores retribuições e benesses é seguir “cegamente” a vontade de quem manda. Ali, todos aqueles que pretendam “subir na escada” têm de tapar os olhos e os ouvidos ante tudo aquilo que eventualmente possam ver ou ouvir e não concordar, não vá o “diabo tecê-las”.

Quanto às duas associações com maior prestígio, a elas estão ligados dois ingredientes que já eram muito “caros” ao Estado Novo: Fado, Fátima e Futebol.

Independentemente de não pôr em causa todo o apoio que possa e deva ser dado à Filarmónica União Sardoalense e ao Grupo Desportivo “os Lagartos” do Sardoal, não é difícil perceber que, por detrás de todos esses apoios sempre existiu uma “mão interessada”. O que seria uma procissão sem música ou uma FUS em “mãos” não controláveis? O que seria se um Grupo Desportivo, existindo, estivesse a ser governado por gente “desalinhada”?

Deste modo há que financiar estas duas Associações e garantir que gente “indesejada” as não “controle”, nem que para o efeito se tenham de arranjar “voluntários à força” para as dirigirem. Garantida a “fidelidade á causa” de uma delas, a “compensação” encontrada é dotá-la de um financiamento “generoso” (comparativamente aos demais), enquanto que a outra, dadas as especificidades próprias que possui, nada como “meter” na Direcção a “tal gente” que não pode dizer não, por mais invulgar que seja o pedido proveniente do poder máximo do Concelho. Para que a escolha resulte em pleno nada melhor que “convidar” alguns funcionários da Câmara para os quais só resta aceitar ou... aceitar.  

Vamos a factos. Tomando apenas por base os documentos das prestações de contas publicadas no site da Câmara Municipal de Sardoal (desde os anos de 2007 a 2012) com alguma facilidade se percebe que a FUS ao longo destes últimos 6 anos recebeu da Câmara Municipal de Sardoal mais do que todas as 4 Juntas de Freguesia juntas e independentemente destas terem desempenhado tarefas que eram da exclusiva responsabilidade da autarquia, mas que por força da inexistência de pessoal (?) ou verbas para as executar, foram as Freguesias que assumiram a responsabilidade de as realizar. A FUS recebeu da CMS ± 98.000 € enquanto que as quatro Juntas de Freguesia (transferências correntes + transferências de capital) receberam ±89.000 €. Se ainda nos debruçarmos nos restantes números, poderá observar-se que, durante estes 6 anos, o Grupo Desportivo "os Lagartos" recebeu ±59.000 €, os Getas ± 18.000 € e as restantes Associações do Concelho juntas ± 36.000€.

E assim, se garantiu música nas procissões, música na Praça das Tílias e bola a rolar no campo.

Quando o poder não se conquista e se impõe, o mais natural é que haja sempre alguém que resiste.
E ao longo deste tempo também tal aconteceu, quer por parte de alguém que se posicionava para além dos limites do edifício da Câmara Municipal quer por parte de outros que sendo funcionários da Autarquia se sentiam no direito de pensar diferente e concorrer em listas adversárias aos órgãos das Juntas de Freguesia aquando das eleições autárquicas.

Para quem ousava dizer NÃO e não era funcionário da Autarquia a estratégia passava primeiro por uma tentativa de “compra da consciência” adversária. Quando a consciência se deixava “vender” o “caso” encerrava-se aí. Se por outro lado a consciência se mantivesse “intratável” o rancor e o ressentimento tratavam de se revelar da forma mais “refinada” possível. (Eu fui dos poucos que soube dizer “não” e por isso conheço como poucos as dimensões desses ressentimentos que embora não se esqueçam, o espírito de cristão já perdoou).   

Já para o funcionário da Autarquia que ousasse fazer parte de uma lista concorrente à lista proposta pelo "senhor Presidente" e nas quais figuravam alguns colegas seus, por mais diligente, esforçado e dedicado que fosse esse funcionário, o seu destino estaria traçado: o exílio num canto qualquer de um edifício da Câmara Municipal fazendo na maior parte do tempo .. simplesmente NADA. E para que o “atrevido” não se esquecesse da afronta que cometera e servisse de exemplo a outros, que viessem a ter idênticas "tentações", o exílio teria de ser o mais longo possível e, de preferência, poder até ser "eterno". E alguns “exílios” houve, os seus nomes são conhecidos e não há funcionário da CMS que os desconheça.

Será que alguém me poderá explicar o que é que este tipo de comportamentos anti-democráticos têm a ver com o Partido Social Democrata que deu (e ao que parece... continua a dar) cobertura a tudo isto?  (- Ai Sá Carneiro tantas voltas já deste na tumba, ao assistires do além que o PPD que criaste foi capaz de gerar um PSD desta jaez, onde a luta pelo poder e pela sua posse tudo consente e tudo valida. Alguma vez imaginaste ver "soldados" dos "exércitos mais radicais" contra os quais tu "lutaste" assumirem agora o posto de "general" dos teus "exércitos"? Coitado de ti! É como se um adepto, há alguns anos confesso do FCP fosse agora presidente do SLB ou vice-versa. Para os adeptos de "goelas largas" que têm tal presidente a liderar o seu clube isso não é problema conquanto ganhem, mas para aqueles que têm goela estreita é que o caso se "complica" porque é sabido que há estados de alma que nunca se apagam. Deixa lá! O nome PSD é a fingir, porque na prática, o verdadeiro nome do  teu(?) partido cá pelas "bandas do Sardoal" dá pelo nome de: ABC ou XYZ. Descansa em paz!)    


(No Próximo artigo: “A Mocidade Sardoalense”)

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