sábado, 31 de agosto de 2013

A "Oposição"

Para quem conquista um poder ante outro que o perdeu, não é fácil ser-se oposição quando antes se foi poder. E foi isso que aconteceu no Sardoal durante o mandato de 1993-1997. De um lado havia um "estado de graça" e do outro um "estado de desgraça". Tudo o que pudesse ser dito em desabono de quem vivia o "estado de graça" era “remar” contra a corrente, por mais razões objectivas que tivesse. A “moda” era “bater” no legado deixado pelo anterior executivo, logo… “coitada” da oposição no Sardoal.

Só a partir de 1997 é que algumas “vozes” se começaram a ouvir pela "calada da noite", mas que o medo as logo emudecia quando o Sol nascia no dia seguinte.

Pode-se disfarçar uma vez, mas não se podendo disfarçar sempre, a solução encontrada por FCM foi criar um sistema de propaganda que pudesse elogiar as vestes do rei mesmo que ele estivesse nu. E o sistema funcionou em pleno! Basta desfolhar os boletins municipais desde 1999:

http://www.cm-sardoal.pt/pt/conteudos/publicacoes/Boletim+Municipal/

e, porque não, reler um artigo que um Jornal Regional publicou em 30 de Abril de 2003 que até hoje (porque ámanhã é "outo dia")  me conseguiu levar ás lágrimas, não sabendo contudo se por rir ou se por chorar:

http://dossiers.omirante.pt/noticia_dos.asp?idgrupo=79&IdEdicao=73&idSeccao=700&id=3745&Action=noticia

Por outro lado, se a oposição pode “atrapalhar”, nada como inventarem-se histórias em torno de quem a lidera. Desde serem gente que ou têm um passado “cinzento” ou têm sede de poder, ou são uma “cambada de incompetentes”, etc., tudo vale para infligir medo na população sobre o que poderá representar o poder mudar para "mãos" de outros.

A este propósito não resisto a contar um episódio: Nas eleições autárquicas de 2005 em que eu concorria á presidência da câmara, enquanto independente nas listas do PS, no dia denominado de “reflexão” (as eleições iam ter lugar no dia seguinte e de acordo com a lei é proibida qualquer acção de campanha) estando eu em “tarefas de jardinagem”, o meu telemóvel nunca parou de tocar durante todo o dia recebendo informações dando conta que o meu adversário continuava no“terreno” a apelar ao voto e que estava a circular pelo Concelho o boato de que, caso o Fernando Morais "ganhasse" a câmara, a sua primeira medida seria retirar os transportes escolares dos alunos residentes nas aldeias. (Sem comentários!)

Na relação entre o poder e a oposição não interessa quem é o portador da verdade. Por mais absurda que seja a decisão tomada o que realmente conta é o peso de quem a defende. "Não faltava mais nada que alguém que detém 3 ou 4 votos num executivo de 5, possa aceitar de “ânimo leve” que outros que detêm apenas 1 ou 2 votos lhes digam que estão errados". Ao longo destes 20 anos muitas foram as decisões tomadas que se tornaram (e muitas delas ainda se tornam) lesivas para os interesses de todos os habitantes do Concelho do Sardoal pese todo o esforço desenvolvido pela oposição em as contrariar.

Durante os 3 anos em que “liderei” a oposição no Executivo Municipal não tive qualquer problema em aprovar propostas que julgava positivas e reprovar outras, mesmo sabendo que neste caso, independentemente de todos os argumentos por mim invocados sobre o erro que seria a aprovação dessas propostas, a sua aprovação era irreversível. De entre os vários casos, lembro-me como o Tribunal de Contas me deu razão por ter reprovado as prestações de contas de 2006, 2007 e 2008 (aprovadas pela Câmara e Assembleia Municipal); lembro-me de um caso em que a Câmara queria colocar funcionários da autarquia ao serviço de particulares (embora a proposta tivesse sido aprovada em reunião de câmara o movimento popular que se criou posteriormente impediu a sua aplicação) e, por fim, aquela que se está a  confirmar naquilo que na altura eu próprio já designava por “o pior negócio da vida dos quase 500 anos do Concelho do Sardoal” e que tem a ver com a adesão do Município ao Sistema Multimunicipal das Águas do Centro (AdC).

Para se ter uma ideia muito ligeira do negócio em presença (o tal "Negócio da China" que há uns anos aqui escrevi no "Trêsbicas"), imaginemos que durante 30 anos a população se mantinha inalterada (para alguém que "sai", existe logo outro alguém que "entra") só pelo sistema em alta do abastecimento de água ao concelho, a Câmara comprometeu-se a pagar à AdC, no mínimo, o equivalente a 8,3 m3 de água por cada habitante (do Concelho do Sardoal) e por mês. Se não consumiu, consumisse. Se consumiu a mais, paga o que consumiu. Pois bem, isto quer dizer que só da minha casa a CMS comprometeu-se a pagar à AdC 24,9 m3 de água, por mês e durante 30 anos. Se a média mensal de consumo de água da minha casa ronda os 6 e os 8 m3 e a população do Concelho do Sardoal cada vez é menor e que todo o sistema em baixa (redes de distribuição) é da responsabilidade exclusiva da Autarquia, dá para imaginar os danos que este negócio irá provocar (já provoca) aos débeis cofres da Autarquia Sardoalense ao longo da duração deste contrato. E a história não se circunscreve apenas à água, já que quando chove, a entrada das águas da chuva no sistema de rede de colectores doméstica é tratada como se de esgoto doméstico se tratasse e por cada metro cúbico que entre numa ETAR deverá ser pago como tal. Ora sabendo-se que quando chove, as ETAR´s são capazes de receber mais águas pluviais do que domésticas, é só fazer-se as contas. Etc... Etc... Etc...

E no conhecimento de todos os erros grosseiros o que é que foi feito? NADA! Aprovou-se e depois logo se vê, porque ”… o senhor presidente não mente e se ele diz que este negócio é bom para o Concelho é porque é!”

Muitas são as histórias que se poderiam contar (e que no futuro por certo se contarão) sobre o que foram os 20 anos do governo de alguém que para alimentar o apetite voraz do seu ego próprio foi capaz de deixar um Concelho pobre e sem esperança para todos aqueles que pretendam conquistar o seu futuro no interior das suas fronteiras.

Falar-se-á por exemplo que a "cultura permanente de se contradizer" foi a sua melhor arma e que poucos foram os que a conseguiram denunciar e rebater. (Quando um dia alguém tiver a "paciência" de ler com muita atenção todas as actas das reuniões, da Câmara e Assembleia Municipal, que se realizaram ao longo destes últimos 20 anos, vai descobrir incontáveis ditos e "desditos" que reforçam o meu pensamento. Quando "apertado" por um facto que o incomodava, o importante era "salvar-se" o momento nem que para o efeito se tivesse de inventar "qualquer coisa". O pior era quando esse facto se renovava e já se haviam esquecidos os "argumentos" que antes se haviam formulado.)

Falar-se-á também porque é que falhou a oposição institucional. (Porque estudar os dossiers dava muito trabalho e "consumia" muito tempo, a oposição optava por "jogar o seu jogo", esquecendo-se que na hora de se saber qual a cor mais bonita, se o branco se o preto, ela recairia sempre para o lado de quem detinha efectivamente o poder. Recordo como fui acusado pelos "meus (?) pares" durante os 3 anos que fui Vereador que eu era demasiado "matemático" e pouco ou nada "político". Uma vez que o "rigor" era o campo que FCM mais detestava (fugia dele como o diabo da cruz, porque estudar os dossiers nunca foi o seu forte) era para aí que FCM deveria ser trazido para o debate político. Depois de mim, a "oposição institucional" voltou a "jogar no seu campo" dando-se ao "luxo" de envolver no debate político local as fraquezas dos governos da Nação, num claro diálogo entre rotos e nús. Moral da história:, no confronto entre FCM e o PS poderá dizer-se que o primeiro ganhou por Dez a Zero. (Para os que contestam esta minha tese pergunto: - O que é que a Oposição Institucional do Concelho do Sardoal (PS), depois de eu "bater com a porta" em Outubro de 2008, fez de relevante nestes últimos anos que possamos evidenciar? Sinceramente? Porque nada me ocorre, a resposta é: NADA!)

Para fechar definitivamente este ciclo político que agora termina, convém lembrarmo-nos que quando a história se repete é sinal de que não evoluímos. A filosofia política adoptada durante os 41 anos do Estado Novo apenas trouxe riqueza a alguns poucos e pobreza para todos os outros. FCM ao adoptá-la de novo durante os últimos 20 anos os seus resultados não poderiam ser diferentes: riqueza a alguns (muito poucos) e pobreza para todos os outros.

E assim, se justifica que agora não haja qualquer espécie de comoção na hora da despedida do político FCM, a não ser por parte de alguns (muito poucos) e apenas no caso destes não conseguirem "apanhar o próximo comboio". Caso se concretizem algumas promessas de quem sentem que lhes pode agora continuar a valer, poderá ser grande a sua decepção ao perceberem que o ar da bóia já se "escapou" e que é tempo de darem aos braços e às pernas para não se "afundarem".

É muita a vontade em "fazer esquecer" o político de quem se recebe o "testemunho", porque ele é a razão única (?) do "mal que se carrega". (Quando vivemos numa comunidade pequena, como é o caso do Sardoal, e o amigo tem um amigo, o que fica entre uns, passado pouco tempo, ficará também entre outros.)

Para concluir, resta-me acrescentar que, se pelo muito conhecimento que possuo sobre o político FCM a minha avaliação é, seguramente, a mais BAIXA POSSÍVEL, pelo pouco conhecimento que possuo sobre o homem FCM, manda a minha consciência que, no benefício da dúvida, ela seja também, seguramente, a mais ALTA POSSÍVEL. 

E agora que concluo definitivamente a minha apreciação ao político, aproveito a oportunidade para desejar ao homem FCM o que desejo a mim próprio: "QUE A LONGEVIDADE O ACOMPANHE E QUE O SEU FUTURO SEJA DITOSO". (HONESTELY? NO HARD FEELINGS!).



 
(No Próximo artigo do "Trêsbicas": “O Futuro - Parte 1”)

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