sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Os Moinhos de Entrevinhas

A Rota do Pão

Corria o segundo mandato do actual Presidente da Câmara (1997-2001) quando este decidiu, uma vez mais, sonhar. Sonhou, e muito bem, em colocar o Município do Sardoal num circuito turístico Nacional. Vai daí, “arregaçou mangas” e dá início ao projecto denominado “Rota do Pão”.

O projecto era constituído por duas fases:
- A Fase 1 passava pela recuperação total de dois dos moinhos de vento existentes no alto de Entrevinhas (dos quatros ali existentes), com a criação de uma zona de lazer na área envolvente, aproveitando-se os outros dois moinhos para a instalação de algum equipamento de apoio.
- A Fase 2, concluída a Fase 1, passaria pela criação de um circuito turístico em torno do que se poderia chamar de “Rota do Pão” que incluiria, também, as azenhas ainda em funcionamento ou que poderiam ser facilmente recuperadas na Ribeira das Sarnadas (Vale do Cabril), para onde estava prevista a construção de uma praia fluvial e na Ribeira do Vale Formoso que confluía próximo da Lapa, constituindo a partir daí a Ribeira da Arcez, uma zona que ficaria submersa pela Albufeira da Lapa.

Com um orçamento a rondar os 29 mil contos dá-se início à Fase 1 depois de ter sido assegurado, para o efeito, um co-financiamento através do Programa de Iniciativa Comunitária Leader II, no âmbito da Tagus.

A apresentação do projecto ao público e à comunicação social, com demonstração do funcionamento de um moinho (a recuperação dos outros ficaria para outra altura) foi efectuada em 6 de Fevereiro de 1999 com a pompa e circunstância que o acto merecia.

De acordo com o espírito do presidente da Câmara “… o roteiro dos Moinhos de Vento abrangeria em princípio dois tipos diferentes de destinatários: as visitas organizadas e guiadas, para um público escolar no âmbito de programas escolares e para um público mais vasto através de circuitos pedestres e de circuitos automóvel com origem em qualquer ponto do País e não só” (Como todos poderemos perceber o sonho da “Rota do Pão” não era um simples sonho. A sua dimensão era tal que se assumia poder ser integrado em circuitos automóveis com origem em qualquer ponto do País e não só. Alguém me consegue traduzir este “…e não só”.).

E era ainda referido em Fevereiro de 2000 que “… A animação decorrente destes equipamentos pretende constituir-se como factor de promoção de paisagem rural do Concelho com objectivos de defesa do Ambiente e de preservação das Aldeias e aglomerados populacionais. È um museu vivo que tem sido objecto de muita visita e alvo de grande interesse.”
A Fase 1 mesmo não tendo sido concluída na sua totalidade, não deixava de merecer todos os elogios acreditando-se que era tudo uma questão de tempo para que tal fosse possível e a Rota do Pão seria uma realidade.

O tempo foi passando e nem a Fase 1 foi concluída nem a Fase 2 passou do papel. A “Rota do Pão” passou a ser um tema incomodativo para os responsáveis Autárquicos sempre que alguém tocava no tema.

Algum tempo depois, é votado ao abandono, puro e simples, o único Moinho de Vento recuperado. A madeira da sua cobertura começou a apodrecer, as águas da chuva começaram a "visitar" os engenhos localizados no seu interior, as velas romperam-se, o veio da vela começou a apodrecer e a sua degradação passou a ser uma realidade.

Os Moinhos de Entrevinhas passaram a ser então um espaço de visita de alguns naturais e/ou residentes de Entrevinhas (tentando recordar a actividade daquele espaço num tempo já longínquo) e por alguns visitantes mais curiosos.

Tentando esconder o Sol com uma peneira, durante o ano de 2007, o Portal InSitu edita um texto publicitário da responsabilidade da Autarquia Sardoalense sobre os Moinhos de Vento de Entrevinhas, convidando à sua visita. Eis o texto: “A aproximadamente três quilómetros do Sardoal, no alto do outeiro sobranceiro à povoação de Entrevinhas, situam-se os Moinhos de Vento. Detentores de características únicas no país, estes moinhos marcaram a vida de muitas gerações no Sardoal. A sua reabilitação representa uma mais valia para esta região em termos arqueológicos, culturais, pedagógicos, ambientais e turísticos. Se desejar visitar o interior destes moinhos deve contactar, previamente os Serviços de Cultura e Turismo da Câmara Municipal de Sardoal.”

Nas últimas semanas visitei por três vezes aquele espaço. Aqui vos faço um convite. Deixem o carro no largo das Festas de Entrevinhas e subam duzentos metros de um caminho adequado a um circuito de moto-cross ou todo-o-terreno. Chegando ao parque, desfrutam a paisagem que é deslumbrante e sentem-se num dos muitos bancos que por ali existem. Tentem imaginar o que era aquele espaço no início do século XX. Se tiverem sede não vale a pena pressionarem a torneira ali existente, porque não deita água. Se tiverem lixo tragam-no convosco não vá dar-se o caso do mesmo ter de permanecer, no caixote do lixo ali existente, por tempo indeterminado. Se passarem junto ao único moinho recuperado cuidado com os cabos de aço pendurados do veio em madeira já podre. Se, por fim, ao saírem do parque, virarem à esquerda aconselho-os a virarem sempre à esquerda não vá dar-se o caso de se perderem, é que sinalização, simplesmente não há.

Porque será que, ás vezes, a força de um certo líquido que armazenámos dentro do nosso corpo, durante o dia, nos interrompe alguns sonhos lindos que durante algum tempo experimentámos no vale dos lençóis e embalados nos braços de Morfeu, durante a noite?

É bonito sonhar. Tal como dizia o poeta, “… é o sonho que comanda a vida e sempre que o homem sonha o mundo pula e avança…”. Só que há sonhos possíveis e há sonhos impossíveis.

É imprescindível que os Autarcas tenham sonhos. Só que quando esses sonhos ultrapassam a razão e roçam a irresponsabilidade são as populações que herdam o fardo do pesadelo.

Assim, após 9 anos e depois de um investimento de 30 mil contos termina mais um sonho do Presidente da Autarquia Sardoalense. Hoje, não é difícil perceber que o Sonho da ROTA DO PÃO se transformou, na realidade, num ARROTA A NADA.

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