domingo, 8 de março de 2009

A MULHER

Sinto-me um afortunado por ter vivido já uns "anitos" e ter tido a possibilidade de acompanhar a maior evolução que a humanidade já experimentou em apenas algumas dezenas de anos.

Tenho para mim que essa evolução não foi só possível pelo avanço meteórico da informática, mas fundamentalmente pela consciência que muitas sociedades adquiriram ao perceberem sobre qual deveria ser o verdadeiro papel da mulher dentro dessas mesmas sociedades. O egoísmo dos homens e a passividade das mulheres, atiraram (e infelizmente sociedades há que ainda atiram) estas últimas, para o último degrau da escada de valores da sociedade a que pertenciam (ou pertencem).

Ainda há algumas dezenas de anos o papel da mulher na sociedade portuguesa estava perfeitamente definida: casar, administrar o lar, gerar descendência, educar os filhos e servir e ser fiel ao seu marido. Na hora de um falar do outro a alguém, o mais normal era o homem se referir à sua esposa como "a minha mulher" e a mulher referir-se ao seu esposo como "o meu marido". Sociedades havia em que (será que ainda não há) o envolvimento de um homem, casado, com outras mulheres era julgado pela sociedade como sendo um acto normal e pacíficamente aceite, enquanto o contrário era julgado como crime punido com a pena de morte.

E se a missão das mulheres se resumia ao interior de uma casa, para quê desenvolver o seu intelecto? Para tal bastava que soubessem ler e assinar o seu nome.

Felizmente que as mentalidades mudaram e hoje algumas sociedades estão melhores. A mulher deixou de estar atrás do homem para estar ao seu lado, ainda que (infelizmente) para muitos homens, o seu valor ainda dependa exclusivamente do eventual interesse sexual que ela possa induzir.

E porque julgo pertinente relembro um episódio que remontará ao ano de 1966. Eu, os meus pais e os meus irmãos viviamos na vila do Luabo (Província da Zambézia, em Moçambique). O meu pai era canalizador e trabalhava para a firma "Right Rain", a qual procedia à rega dos campos de cana de açucar que abasteciam a fábrica da Sena Sugar Estates. Um dia chegou a casa e ouvi-o relatar à minha mãe a experiência que havia vivido durante o dia. Contou ele que estando com os seus homens (algumas dezenas de negros que procediam à abertura das valas para implantação das tubagens de fibrocimento) se apercebeu de um movimento algo de anormal. Junto à sua frente de trabalho, havia um grupo de mulheres que procediam ao corte da cana que decidiram suspender a actividade e criaram uma roda. A curiosidade do meu pai impeliu-o a aproximar-se, quando foi barrado por uma mulher que lhe disse: "desculpa senhor mestre, não passa! Ali está uma mulher a ter filho!". Estando desfeita a curiosidade, o meu pai retomou a sua actividade com os seus homens. Passado algum tempo, o meu pai viu o círculo formado pelas mulheres ser desfeita e eis que percebe que uma delas, algo frágil, punha "qualquer coisa" ás costas e pegava numa catana para continuar a cortar cana. Aquela "qualquer coisa" era o filho que acabava de ter. Não se contendo, foi ao encontro do "capataz" daquela mulher e pediu-lhe que a dispensasse e a mandasse para casa não lhe descontando no vencimento. Para sua satisfação o pedido fora aceite. (Este episódio, ainda hoje o acompanha).

Mais tarde vi, como a mulher negra moçambicana era o motor do lar. Enquanto os seus maridos partilhavam o seu salário com os seus amigos e alimentavam os seus vícios, à mulher cabia a responsabilidade de alimentar a família. Nas "machambas" empunhava a enxada para semear o milho que o pilão ajudava a transformar em farinha. Nas lagoas que a chuva espalhava pelo chão, com o recurso a baldes ou alguidares tudo fazia para os secar para melhor poder apanhar os "sombas", "does" e outros (peixes com respiração cutânea e por guelras, de formato cilíndrico e com um comprimento variado entre 30 e 60 centimetros), que mais tarde seriam abertos e secos ao sol e que serviriam para a estação das secas, qual formiguinha incansável.

Será que alguém é capaz de afirmar que aquelas mulheres representam o sexo mais fraco?

Olhando para as mulheres do meu País, é fácil perceber quão diferentes elas estão. Há muito que conseguiram provar que diante das mesmas oportunidades apresentadas aos homens, são tão boas, ou até mesmo melhores, do que eles. Elas já há muito que superam os homens nas Universidades. O sexo forte já não é aquele que possui mais força nos braços, para ser aquele que possui mais força no cérebro.

O que falta às mulheres para serem devidamente reconhecidas por todos os homens? Uma das minhas teorias é que estes se lembrem que já não habitam nas cavernas e que as olhem nos olhos em vez de os baixarem permanentemente para níveis inferiores.

Para todas as mulheres do mundo, neste seu dia, daqui envio um abraço. Permitam, contudo que no meio dessas mulheres individualize três: Lucilia, Gina e Neuza. Elas representam o "triângulo amoroso" sobre o qual assenta a minha felicidade: Amor de Filho, Amor de Esposo e Amor de Pai.

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