sábado, 28 de março de 2009

Caminhos de Deus (3)

Para além do acontecimento que relatei no artigo anterior existem outros, que aqui poderia descrever que demonstram que Ele existe e que é meu Companheiro. De entre eles vou escolher mais um.

“No início do ano de 1987, a Neuza, com apenas 3 anitos, começou a ter uns “estranhos” ataques de tosse, ataques esses que se revelavam mais durante a noite. Eu e a Gina, numa noite, não hesitámos e recorremos ao banco de urgência do Hospital de Abrantes, dado a tosse ser contínua e não haver forma de a parar. Ali chegados, o médico de serviço às urgências não diagnosticou qualquer problema e após lhe ter sido “fornecido” oxigénio, a tosse parou e regressámos a casa.

Algum tempo depois, a tosse voltou. Em vez de recorrer ao banco de urgências do hospital, chamei a minha casa o médico em quem eu depositava a maior das confianças, nada mais, nada menos, que o meu maior amigo. O Armando, após auscultar a Neuza virou-se para mim e disse-me: “- Fernando, não encontro nada de anormal na Neuza. Ela está bem!”.


Os acessos de tosse tornaram-se esporádicos e rumámos os três para o Canadá.

Numa noite, no fim do ano de 1987, perante um novo ataque fortíssimo de tosse, a saída voltou a ser a urgência do Memorial Hospital de Cambridge. Após cerca de uma hora a receber oxigénio, voltámos para casa.

Cerca de um mês depois, repetiu-se a “cena”. Nessa noite de puro Inverno Canadiano, para poder chegar ao meu carro, a chuva gelada revestira o pavimento do parque de estacionamento com uma camada de gelo com tal espessura, que não tive outra alternativa que não ser ir de gatas até ao carro. Chegados ao hospital, o médico de serviço para além de mandar a Neuza receber oxigénio, diagnosticou-lhe asma e receitou-lhe Ventilan. Eu e a Gina, perante aquele diagnóstico ficámos mais gelados que o próprio tempo e voltámos a casa.

Adquirimos o “famoso” Ventilan e a Neuza, a muito custo, lá começou a usar a bomba para aspirar o pó dos comprimidos. Para mim e para a Gina era sempre grande a dor, na hora de rodarmos a bomba para abrir o comprimido e pedirmos àquela linda menina de 4 anos para aspirar aquele pó branco. Desafiando as instruções do médico, sempre que a Neuza não tossia, “esquecíamo-nos” do Ventilan.

Uma noite acordei e ouvi a Neuza a tossir no seu quarto. Os sons que emitia pareciam “marteladas” no meu coração. Decidi então rezar. Lembro-me perfeitamente das palavras que então disse a DEUS: “Pai, dá-me uma luz, um sinal, para que a Neuza pare de tossir. Por favor!”

Acto contínuo, senti o meu corpo a ser invadido por um arrepio (acreditem que sempre que penso naquele momento sinto sempre um arrepio, tal como agora, mas nunca tão forte) e dou por mim, a acordar a Gina e a pedir-lhe para despir a Neuza e tirar-lhe o pijama. Meio a dormir meio acordada a Neuza foi alvo de uma “operação” inesperada. A tosse parou.

Os dias passaram, nunca mais voltámos a dar Ventilan à Neuza, nunca mais voltou a vestir aquele pijama que tanto gostava e … nunca mais voltou a tossir daquela maneira e já lá vão 21 anos.”

Coincidências? Alergia a alguma fibra daquele tal pijama? Vários médicos envolvidos sem nenhum projectar tal possibilidade? Para mim, foram os “Caminhos de Deus”.

Ao longo destes anos, aconteceram outros “episódios” que não tenho dúvidas, que foram outros tantos “Caminhos de Deus”.

Uma coisa eu aprendi há muito: “Nem todas as perguntas têm respostas e a nossa vida deve de ser vivida em paz e harmonia com os outros sem que permanentemente tenhamos de ser contabilistas do deve e do haver”.

Quantos de nós não ouvimos já promessas a Deus e a Nossa Senhora que invariavelmente começam sempre por: “- Se… eu prometo … “ ?

- Porque é que teimamos em “negociar” com Deus e com Nossa Senhora em vez de depositarmos em Suas mãos, as Suas vontades?

- Porque é que teimamos em aceitar que Deus apenas “reside” nas igrejas, nas capelas, nas mesquitas e nos templos sagrados, quando “Ele” reside” dentro de cada um de nós e nos acompanha até nos nossos próprios pensamentos?

- Não seremos hipócritas quando pensamos que uma falha ou erro nosso será “limpo” na próxima visita à igreja, porque lá “reside” um Deus bom que está sempre à nossa espera e sempre disponível para tocar na tecla do “delete” para nos eliminar os “vírus do pecado”?

- Será que, pelo menos, Ele não merece que nós tenhamos um comportamento que não O envergonhe, desde logo, vivendo a vida com verdade e com uma enorme fé Nele? Qual é o pai que não gosta de sentir o carinho do seu filho? Qual é o pai que não gosta ouvir o seu filho (ou filha) dizer que o ama e que o considera o seu Super-homem?

Reconheço que, pese tudo o que até agora revelei, não sou alguém que não erra e que por vezes não deriva dos “Caminhos de Deus”. Por muito que possa fazer, não deixo de ser humano. Só que como não Lhe consigo esconder o erro, há medida que os anos passam e a cumplicidade entre nós aumenta, mais difícil se vai tornando lidar com o erro.

Para terminar este meu artigo, gostaria de fazer uma pequena confidência: Aquando das últimas autárquicas de 2005, pese todo o meu empenho em sair vitorioso, nunca Lhe pedi a vitória e sempre que diariamente “conversávamos” apenas Lhe manifestava a minha total disponibilidade em aceitar a Sua decisão. E quando os resultados foram conhecidos, a minha tristeza só se revelou por ter sido “tocado” pela tristeza de alguns que me acompanhavam.

Ele destinou-me um papel diferente daquele que eu pensava, por isso, só tinha de respeitar a Sua vontade e desempenhá-lo da melhor forma que podia e sabia, nem que para isso tivesse de ir buscar tempo ao pouco tempo que a minha actividade profissional e familiar me concedia. Sabia que quanto mais “estudasse” menor seriam os erros cometidos e melhor levaria “a carta a Garcia”. Respeitei a pessoa que se encontrava por detrás do meu adversário, mas tornei-me implacável quando os seus actos colidiam com a verdade. Para mim, a verdade era só uma, quer ela estivesse do meu lado, quer do lado dos meus adversários. Mesmo quando me foram erigidas barreiras cortando-me esse caminho, em momento algum gerei dentro de mim sentimentos revolta exacerbados, a não ser uma profunda tristeza pela forma como tais barreiras foram erigidas e pelas quais julgava (ainda julgo) não ter sido merecedor.

Por muitos que sejam os caminhos que o Nosso Pai pretende que trilhemos para melhor chegarmos aos Seus próprios Caminhos, enquanto bons filhos, só temos de aceitar a Sua vontade porque, se mais não fosse, por ele ser um Bom Pai e como tal Ser Alguém que quer o melhor para os seus filhos.

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