sexta-feira, 17 de julho de 2009

Os "estrangeiros" (Parte 2)

Quando escrevi o último artigo, estava longe de imaginar que o mesmo poderia “agitar” algumas consciências. E porque algumas dessas consciências fizeram o favor de partilhar comigo os motivos que jaziam na base da sua “agitação”, entendo dever voltar ao tema, porque se alguma coisa escrevi, muito mais ficou por escrever.

Ao evocar o dirimir de argumentos que se estabeleceu ultimamente entre as duas candidaturas mais bem posicionadas para dirigir os destinos do Concelho que me viu nascer, relativamente ao facto de uma delas apresentar nas suas fileiras, e em lugar elegível, pessoas de outro Concelho, quis mostrar que não é o “berço” que poderá determinar se em matéria de eleições autárquicas alguém pode ser classificado de “estrangeiro” (ou estranho) à causa pela qual pretende ser sufragado.

Mais referi que pese todo o meu “curriculum” de vida que me liga à cidade de Abrantes, caso hoje incorporasse um projecto de candidatura às próximas eleições autárquicas ao Município Abrantino e fizesse parte de uma lista, teria que ser forçosamente identificado como alguém “estrangeiro” ou alguém “fora de jogo” (não gosto da palavra “pára-quedista”). Porquê?

Só quem desconhece o que é ser-se autarca num Concelho é que pode afirmar que quem desempenha tal função é alguém cujo poder pelo qual é investido lhe proporciona uma qualidade de vida superior aos demais.

Um verdadeiro Autarca (também os há falsos, mas felizmente que esses já vão rareando) é aquele cujo relógio já não condiciona o seu tempo de trabalho, o seu tempo de descanso e o seu tempo de atenção à sua própria família.

Um verdadeiro autarca é aquele que, pese toda a determinação que possa evidenciar na tomada de algumas decisões, carrega consigo dúvidas sobre qual o melhor caminho através do qual deverá conduzir a sua comunidade. Estando o seu sucesso intimamente ligado ao sucesso da comunidade da qual é responsável, ele sabe quão injusto pode ser o julgamento que lhe possam fazer e, para além disso, ter de viver com esse julgamento. Será que não é regra a comunidade julgá-lo pelo que não fez
(porque o deveria ter feito!) ao mesmo tempo que se torna insensível diante do que fez (porque era o seu dever!)?

E porque a tarefa é exigente, custa-me perceber como é que alguém que pertence a uma determinada comunidade (na qual reside e tem o seu domicílio; na qual paga os seus impostos; na qual possui interesses particulares nos mais variados domínios e na qual exerce o seu direito de voto) se disponibiliza para gerir e liderar os destinos de uma outra comunidade apenas pelo facto de aí ter nascido e/ou de aí ter uns amigos ocasionais e/ou de aí por vezes desenvolver uma actividade profissional. Se é tanto o amor que evidencia por essa comunidade qual a razão por não a adoptar enquanto verdadeiramente sua?

Sabendo-se que os Autarcas que possuem domicílio num Concelho têm ajudas de custo pelas deslocações que têm de realizar para exercer a sua função de Autarcas noutro Concelho onde foram eleitos, porque será que nunca os ouvi prometer durante as suas campanhas eleitorais que, caso fossem eleitos, renunciavam a tais suplementos financeiros? Não seria normal que o fizessem?

Digam-me então se tais “estrangeiros” têm alguma coisa a perder:

- Se as coisas correm bem. ÓPTIMO!

- Se as coisas não correm bem. PACIÊNCIA! “EU ATÉ SÓ CÁ VIM VER A BOLA". VOLTO AO LUGAR A QUE PERTENÇO!


Será que diante de tais "estrangeiros" não deveremos adoptar uma atitude de desconfiança? Porque raio não vêm eles viver connosco, não contribuem através dos seus impostos para o nosso bem-estar, não vêm partilhar connosco activamente os nossos sucessos e os nossos insucessos?

À parte que me toca, lamento! Não consigo dar o meu voto por um determinado fim a alguém que, para o mesmo fim, não pode exercer o seu.

(Post Script Um : Uma breve referência aos comentários que por vezes recebo e em análise aos textos que aqui vou publicando semanalmente neste blog. Reafirmo a intenção de não os publicar. Porém, continuo disponível para responder a todos aqueles que o fazem sem se esconderem atrás de um anonimato difícil de perceber. Por toda a simpatia ou antipatia que eu possa merecer a alguém prefiro que esse alguém não se manifeste a fazê-lo a coberto de um anonimato. Já que somos tão pequenos em tantas coisas, que sejamos grandes em estatura moral. Será que o anonimato não nos reduz?)

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