domingo, 8 de novembro de 2009

Revolução na Construção (1)

Inicio hoje a abordagem a uma temática que me é particularmente cara, quer enquanto técnico, quer enquanto habitante desta nossa grande aldeia global.

Quantos de nós não ouvimos já a articulação de duas palavras “certificação” e “energética” e quantos de nós não encolhemos os ombros quando questionados sobre o seu real significado?

Quantos de nós, uns mais e outros menos, não manifestamos o nosso acordo ou desacordo, sobre as mais variadas correntes científicas que envolvem o nosso ambiente, segundo as quais o aquecimento global a continuar a manter os padrões de crescimento que tem revelado nos últimos anos, poderá conduzir toda a humanidade para um beco sem saída?

A História da Humanidade revela-nos que o poder dos povos sempre assentou na “riqueza” dos seus recursos naturais e na capacidade que os mesmos tinham (e têm) em os poderem utilizar ou comercializar. E foi assim ao longo dos séculos, até que…

A “descoberta” de gigantescas reservas de energias fósseis com um alto poder calorífico e espalhadas pelos quatros cantos do mundo, associada a uma evolução tecnológica exponencial de toda a humanidade nos últimos 40 anos, gerou um “caos civilizacional” de tal ordem, que cada dia que passa se torna mais difícil a sua contenção. Os efeitos causados pelo consumo desenfreado de energias por parte do homem, quer as mesmas tenham a sua proveniência de jazidas de petróleo ou depósitos naturais de carvão, é uma faca de dois gumes. Se por um lado a combustão serve para o ajudar (pela energia que o combustível liberta) por outro a combustão serve para o penalizar (pelas emissões de CO2 emitidas para atmosfera). Como em todos os actos praticados pelo homem, a causa e o efeito têm tido um papel primordial na hora de utilizar a energia. Enquanto os efeitos pretendidos pela combustão são imediatos e servem alguns, os efeitos nocivos da concentração de CO2 na atmosfera não são imediatos (tipo, “roleta russa”) e atingem todos.

Durante anos, o egoísmo de uns poucos foi suprimindo a razão dos demais. Era natural que, mais tarde ou mais cedo a razão imporia a sua lei. E foi o que aconteceu na Conferência Internacional das Mudanças Atmosféricas em Toronto (Canadá) em 1988. Mais tarde, a Cimeira de Quioto (Japão) em 1998 definiu um conjunto de metas até 2012. Foram 179 os Países que aderiram e ratificaram o, então, designado Protocolo de Quioto (vergonhosamente o país mais poderoso do mundo demarcou-se) que visa fundamentalmente a redução de emissão de CO2. Acredito que depois de 2012 as exigências no controlo da emissão dos gases com efeito de estufa serão mais eficazes e os países incumpridores deverão ser punidos com coimas elevadíssimas. Quem nos dera!

É do conhecimento geral que:

- A emissão de enormes quantidades de CO2 para a atmosfera, promove o aquecimento global e já está a provocar alterações atmosféricas relevantes neste nosso planeta. (Será que o aumento anual em quantidade e intensidade dos furacões, tornados e tufões não quer dizer qualquer coisa?)
- Cada vez é maior a procura de combustíveis que permitam responder às necessidades “famintas de energia” dos povos. Enquanto uns dependem dela para melhorarem a sua qualidade de vida outros “encarregam-se” de a esbanjar apenas porque tal gesto permite colocá-los em patamares sociais superiores aos outros.
- As reservas de petróleo e combustíveis naturais não são infinitas.

Perante tamanha evidência só existe uma saída à humanidade: Procurar energias alternativas, de preferência renováveis, e reduzir o consumo de energia.

Cada um à sua maneira deverá contribuir para este desígnio. As nossas gerações futuras correm sérios riscos de sobrevivência se não inflectirmos nos nossos comportamentos.

Se por um lado já vão aparecendo respostas claras na busca de energias alternativas renováveis e inofensivas ao ambiente (por muito que custe a uns quantos, Portugal encontra-se na linha da frente através do aproveitamento térmico da energia solar), vai tardando a nossa tomada de consciência para a necessidade de alterarmos os nossos comportamentos para que, mantendo os mesmos padrões de vida, possamos contribuir para a redução do consumo de energia.

Sabendo que 30% das emissões de CO2 para a atmosfera se deve ao nosso comportamento no interior das nossas casas, ao qual se encontram associadas, de uma forma muito directa, as envolventes que nos separam do exterior, é chegada a hora de promovermos uma “Revolução na nossa forma de construir” de modo que possamos suprimir alguns erros construtivos que desde sempre nos têm acompanhado.

Se é certo que as novas construções licenciadas a partir da segunda metade do ano transacto já são obrigadas a cumprirem um cem números de requisitos técnicos sem as quais não existe lugar à emissão da necessária licença de utilização, todo o edificado existente que foi dispensado de cumprir tais requisitos, e que representará certamente mais de 99% de todo o edificado actual, necessita de intervenções.

Assim, e porque tais intervenções não são obrigatórias à face da lei, procurarei nos próximos artigos ser convincente o suficiente para provar das vantagens práticas em corrigirmos algumas patologias térmicas das nossas casas que permitam a redução das perdas de energia que geramos sem que para tal possamos comprometer a nossa qualidade de vida.


Post Script Um: Não termino sem que antes faça um desafio aos meus amigos Sardoalenses.

Se esta fotografia fosse uma tela, você um pintor e tivesse liberdade para dar as “pinceladas” que quisesse, o que mudaria? Que rico desafio à nossa imaginação!

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