domingo, 15 de novembro de 2009

Revolução na Construção (2)

Se por qualquer motivo, tivesse de suspender a minha actividade de projectista na área de engenharia civil, por um período de 5 anos, penso que muito dificilmente conseguiria pegar “nas pontas deixadas” e prosseguir a minha carreira profissional como se nada tivesse mudado.

O acréscimo de requisitos técnicos a cumprir na construção tem sido de tal forma exponencial, que o técnico que até há poucos anos poderia assumir, sozinho, a responsabilidade técnica pela construção de uma simples habitação, desde a fase de licenciamentos (com a elaboração dos projecto) até à fase de conclusão dos trabalhos (com a direcção técnica da obra), já não o consegue fazer.

O tempo em que o promotor de uma edificação tinha amplas liberdades para criar, cabendo apenas aos técnicos “pegar” na criação e levá-las à prática, está prestes a terminar. Alguém dizia que já há muito entrámos na era da formatação e há quem ainda não tenha dado por isso. Alguém duvida que à imagem dos discos dos nossos computadores, as nossas próprias vontades vão sendo aos poucos por outros formatadas?

Num passado recente a casa era o refúgio da família quando a noite chegava. A sua vivência era o espaço exterior. Hoje, a casa funciona como centro da vida da família e da qual se sai apenas o indispensável. A evolução da tecnologia permite-nos hoje atingirmos todos os níveis de sobrevivência e partilha do mundo sem que para tal necessitemos de nos “aventurarmos” para além da porta da rua. É bom? É mau? Qualquer que seja a apreciação que possamos efectuar, existe um elo que cada vez vai ficando mais fraco: o nosso sentido comunitário. Não sendo este o tema em presença, dispenso-me de abordar as vantagens e desvantagens das vivências intramuros (um tema interessante para o futuro) e passo a focar a minha atenção no tema principal deste artigo.

Quem é que não gosta de ter, no interior do seu ninho, condições ambientais de excelência capazes de lhes proporcionar índices de conforto elevados? É no suporte destes “desejos” que o homem ao longo dos anos vem desenvolvendo alternativas para trazer para o interior da sua habitação o calor durante o Inverno e o frio durante o Verão. Em condições de saúde o nosso organismo funciona com uma temperatura estritamente constante entre os 36º e os 37º. Quando somos sujeitos a ambientes que apresentam temperaturas distintas destas os nossos organismos reagem automaticamente no sentido de poderem atingir um equilíbrio. É assim no Inverno, quando reduz a sua temperatura superficial (por vasoconstrição) ao mesmo tempo que aumenta a produção interna de energia e é assim no Verão quando aumentando a sua temperatura superficial (por vasodilatação) dissipa o calor por perspiração e transpiração.

Quando chega o tempo frio não há como um aquecimento forçado (lareira, salamandra, caldeira, radiador, bomba de calor, etc.) para nos conferir um bem-estar. De igual modo, no tempo do calor, não há como uma ventoinha ou aparelho de ar condicionado para nos devolver o bem-estar.

Tem sido norma que a produção de ar quente e frio se apoie em energia eléctrica, combustível fóssil ou vegetal. O aumento da procura e produção deste tipo de energias têm contribuído não só para o aumento do efeito de estufa, de que o nosso planeta tem vindo a padecer, mas também, como os recursos naturais utilizados não são ilimitados, para o conhecimento lógico que um dia terminarão.

Perante as nossas necessidades e disponibilidades que fazer? A esta pergunta outras foram formuladas desde que alternativas teríamos diante da possibilidade de podermos utilizar outro tipo de energias, não poluentes e ilimitadas, até se para as nossas necessidades não esbanjávamos energia.

Foi na resposta a estas perguntas que o homem começou a orientar os seus sentidos para a procura de novas energias renováveis e ilimitadas, alternativas às convencionais: solar, eólica, geotérmica, marítima e outras.

Em paralelo, cada País, vai começando a estabelecer metas que visem a redução das emissões de CO2 para a atmosfera, sob pena de sobre ele recair pesadas multas pelo incumprimento dos limites estabelecidos e acordados internacionalmente.

No nosso caso, Portugal, com uma amplitude térmica anual a rondar os 20º, na maioria dos casos, habituámo-nos ou a suportar os efeitos dos rigores (?) do clima (Está calor? Dorme-se com a janela aberta! Está frio? Põe-se mais uma manta na cama!) ou porque a disponibilidade financeira ajudava, a aquecer ou arrefecer as nossas casas, consoante as nossas necessidades.

Da avaliação efectuada à forma como construíamos as envolventes das nossas casas não poderia ser mais conclusiva: esbanjamos muita energia para as nossas reais necessidades.

- Solução? Alterar os métodos construtivos das nossas paredes, tectos, pavimentos, coberturas e envidraçados.

- A partir de quando? Agora!


(No próximo artigo, Revolução na Construção (3): As novas construções).


O MEU APLAUSO DA SEMANA: O trabalho discreto e silencioso desenvolvido pela Polícia Judiciária e Ministério Público no âmbito do processo “Face Oculta”. O que a imprensa tem revelado dá para perceber a dimensão e o profissionalismo das investigações efectuadas. Ninguém foi dispensado. É confortante pertencer a uma sociedade que age assim.


O MEU ASSOBIO DA SEMANA:
A forma como a Justiça continua a não conseguir blindar os segredos dos processos que lhes são confiados. Quem quer que tenha lido a imprensa escrita esta semana é obrigado a questionar-se como é que é possível que dos gabinetes dos juízes continuem a saltar para a praça pública informações sigilosas de processos em curso ou ainda não julgados? É preocupante pertencer a uma sociedade que age assim.

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