domingo, 29 de novembro de 2009

Revolução na Construção (4)

No meu último artigo identifiquei uma medida que, quando implementada, poderá contribuir fortemente para uma melhoria da qualidade de vida no interior das nossas casas, com recurso a investimentos pouco significativos e com um retorno financeiro digno de toda a nota.

Se a medida que descrevi (isolamento das lajes dos tectos que separam as habitações do desvão da cobertura) por si só, pode contribuir para a melhoria significativa do ambiente térmico de uma habitação, outras há que com recurso a investimentos maiores ou menores também podem favorecer não só tal melhoria, mas também a qualidade do ar interior que se pode respirar no interior da mesma.

É na combinação do binómio ambiente térmico e qualidade do ar interior que “gira” a certificação energética dos edifícios. Deverá haver um equilíbrio tal que a renovação do ar se faça de tal modo que o ar respirável seja o mais saudável e limpo possível, ao mesmo tempo que o contributo energético necessário para dotar esse ar respirável de uma temperatura de “conforto aceitável” seja o menor possível.

Dir-se-á então que, quanto maior for a renovação do ar interior das nossas casas melhor a qualidade do ar interior respirável. É verdade! Porém, quanto maior a renovação do ar, maior o gasto de energia necessária. Foi na resposta a este binómio que os técnicos durante anos procuraram quantificar o valor mínimo da renovação do ar interior das habitações sem que fosse comprometida a qualidade do ar respirável. Encontrado esse valor (0,6 renovações por hora) e sabendo-se que a renovação do ar se processa de uma forma natural (através dos vãos das portas, das janelas e das caixas de estores) ou de uma forma mecânica (através de equipamentos de ventilação responsáveis pela insuflação e extracção do ar) o passo seguinte foi identificar de que modo se poderia aquecer ou arrefecer o ar interior de uma fracção habitacional ou de serviços e qual o comportamento das suas envolventes exteriores no capítulo das perdas ou ganhos dessa temperatura ambiente.

Foi assim que se determinou que as características construtivas das envolventes exteriores de uma fracção (tectos, pavimentos, paredes e vãos de portas e janelas) condicionam fortemente a quantidade de energia a utilizar para dotar os seus espaços interiores de condições térmicas ideais para o seu uso. Quanto maior for o seu isolamento térmico menores serão as perdas para o exterior e, consequentemente, menor será a necessidade de energia a utilizar. Agradecem as nossas finanças e agradece o ambiente.

Não é muito difícil de percebermos que é no tempo do frio que gastamos mais energia. O frio convida o uso de mais roupa sobre a nossa pele, contudo, o uso de mais roupa condiciona a nossa actividade. Alternativa? Aquecer o ambiente para que possamos usar menos roupa.

O aquecimento do ambiente passa obrigatoriamente pela utilização de energia. Durante séculos a madeira não teve rival e as nossas florestas convidavam ao uso de tal combustível. O aparecimento da energia eléctrica, veio “revolucionar” os nossos hábitos. A sua utilização era mais “limpa” e não era necessário criar-se dentro de casa um depósito de armazenamento da mesma (contrariamente ao uso da madeira) bastando tão-só o movimento de um só dedo num simples botão ou interruptor.

À medida que se foram reforçando os nossos hábitos sedentários e passámos a viver mais tempo dentro das nossas casas, foi natural a procura de fontes de energia que nos permitissem conferir algum bem-estar. E dessa procura resultou que o uso da madeira (por força dos preços decorrentes da sua aquisição se adaptarem às leis do mercado e numa lógica em que a oferta se ia tornando inferior à procura), foi dando lugar à energia eléctrica. Direccionada a vontade do consumidor para o uso de tal energia tudo se fez (e continua a fazer) para que a oferta equilibrasse (e equilibre) a procura. Se numa primeira fase as barragens foram capazes de responder às necessidades, a procura exponencial de tal energia conduziu os responsáveis pela sua produção a uma espiral de fontes alternativas. Tudo servia (e continua a servir) para produzir energia eléctrica, através desde o uso do carvão até á energia fóssil passando pela produção de uma outra energia que a muitos arrepia designada de nuclear.

Diante de tanto consumo e tanta procura não foi difícil perceber que tal escalada nos poderia conduzir a um “abismo” sem possibilidades de retorno. Saída? Buscar energias alternativas que produzam os mesmos efeitos práticos que não comprometam o nosso habitat e sejam inesgotáveis e racionalizar o uso dessa energia.

Hoje já somos capazes de utilizar muita da energia que a Terra e o Sol permanentemente geram, falta-nos apenas ganhar hábitos para a utilizarmos de uma forma racional reduzindo ao máximo o seu desperdício.

É nessa lógica que “nasceu” a Certificação Energética dos Edifícios a qual, mais do que para muitos se tratar de mais uma taxa a pagar, serve fundamentalmente para uma tomada de consciência quanto à necessidade de utilizarmos racionalmente a energia que habitualmente usamos nas nossas habitações, sem que com isso comprometamos a nossa qualidade de vida.

A construção dos novos edifícios já tem de cumprir determinados parâmetros construtivos sem os quais não será possível o seu uso, contudo, o edificado existente (99%?) está dispensado de adoptar tais parâmetros. Tudo isto vale por dizer que a maioria de nós vive em casas que caso fossem agora licenciadas como novas não teriam a emissão da necessária licença de utilização. Costumo dar como exemplo a minha própria casa construída em 1998. Já naquele tempo a sua projecção assentou em princípios térmicos eficientes onde estiveram presentes o isolamento dos tectos que já referi, envidraçados com rotura térmica, isolamento em paredes duplas, orientações e disposição dos envidraçados e sombreamentos optimizados. Mesmo assim, pese tais características construtivas, não seriam suficientes para um perito devidamente habilitado a certificar de acordo com as normas construtivas regulamentares em vigor elemento imprescindível para que a Câmara Municipal do Sardoal me pudesse emitir a necessária licença de utilização.

Há um considerável número de medidas que todos nós poderemos adoptar nas nossas casas que permitam reduzir o consumo de energia durante o tempo do frio, do calor e durante a preparação de águas quentes sem que com isso comprometamos os nossos hábitos.

Cada caso é um caso e todas as habitações apresentam condições térmicas distintas. Não entrando em situações mais complexas como seja o isolamento de paredes simples e de pavimentos térreos, nem de substituições de envidraçados simples por duplos, nem por caixilharias com elevada permeabilidade ao ar, centro hoje a minha atenção nas portas de entrada.

Quantos de nós não sentimos já o desconforto de sentirmos o vento entrar na nossa casa por debaixo da porta e pela periferia da mesma em contacto com a caixilharia? A entrada do ar no Inverno incomoda-nos de tal forma que somos forçados a recorrer ao vulgar “chouriço” para impedirmos a invasão a tal intruso. E no resto da porta o que fazemos? Nada. E que tal uma simples borracha em torno do batente da porta com a caixilharia? Quanto custa? Uma ninharia e resultado garantido.

(No próximo artigo, Revolução na Construção (5): Outras medidas).


O MEU APLAUSO DA SEMANA: A 1ª Mostra de Teatro do Sardoal que a Direcção dos Getas em boa hora decidiu abraçar merece o meu forte aplauso. Os Sardoalenses sempre tiveram uma “queda” para a arte cénica e já tardava um projecto desta dimensão. Ao longo dos anos muito se falou da possibilidade de um dia acontecer tal evento. Aconteceu agora. PARABENS GETAS! FORÇA!


A MINHA VAIA DA SEMANA: A forma como quem na posse de um poder que lhe foi conferido por voto popular é capaz de omitir o real estado da sua governação sempre que tem de se sujeitar de novo à vontade popular e pretende continuar a deter esse poder. Esta vaia ainda que possa tocar, por exemplo, muitos Autarcas, tem um destinatário preferencial: o nosso Governo. Antes das eleições de 27 de Setembro passado, da boca dos nossos governantes nunca obtivemos qualquer informação que pronunciasse o verdadeiro estado a que chegaram as nossas finanças públicas e que agora, passados dois meses apenas, vamos começando a acordar para o seu pesadelo ao percebermos os seus contornos. Será que numa eleição vale tudo? Continuo a acreditar que não.

(A este propósito, referi no meu último artigo que se perspectivava o aumento dos nossos impostos. Fi-lo porque os sinais são de tal forma evidentes que não é preciso possuirmos capacidades premonitórias para percebermos que tal será inevitável: se as receitas normais não cobrem as despesas normais e/ou propostas e como não se pode cortar nas despesas, aumentam-se as receitas. Mesmo que as receitas numa primeira fase possam ser obtidas com recurso a empréstimos bancários a segunda fase só pode ser alcançada com o recurso ao pagamento de impostos. Não chegam? Aumentam-se!

Um dia depois de escrever o artigo, Vítor Constâncio, o Director do nosso banco, já nos veio preparar para tal destino. O Expresso esta semana apresenta um conjunto de notáveis na área financeira, alguns ex-ministros das finanças para a impossibilidade de fugirmos a tal desígnio. Se a tudo isto juntarmos o “estado de sítio” em que vive a nossa Justiça, a guerrilha “política” que começámos a perceber já ter nascido no interior do nosso Parlamento, só me apetece gritar:
“ORGANIZEM-SE POR FAVOR!!!”

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