sábado, 28 de março de 2009

Caminhos de Deus (3)

Para além do acontecimento que relatei no artigo anterior existem outros, que aqui poderia descrever que demonstram que Ele existe e que é meu Companheiro. De entre eles vou escolher mais um.

“No início do ano de 1987, a Neuza, com apenas 3 anitos, começou a ter uns “estranhos” ataques de tosse, ataques esses que se revelavam mais durante a noite. Eu e a Gina, numa noite, não hesitámos e recorremos ao banco de urgência do Hospital de Abrantes, dado a tosse ser contínua e não haver forma de a parar. Ali chegados, o médico de serviço às urgências não diagnosticou qualquer problema e após lhe ter sido “fornecido” oxigénio, a tosse parou e regressámos a casa.

Algum tempo depois, a tosse voltou. Em vez de recorrer ao banco de urgências do hospital, chamei a minha casa o médico em quem eu depositava a maior das confianças, nada mais, nada menos, que o meu maior amigo. O Armando, após auscultar a Neuza virou-se para mim e disse-me: “- Fernando, não encontro nada de anormal na Neuza. Ela está bem!”.


Os acessos de tosse tornaram-se esporádicos e rumámos os três para o Canadá.

Numa noite, no fim do ano de 1987, perante um novo ataque fortíssimo de tosse, a saída voltou a ser a urgência do Memorial Hospital de Cambridge. Após cerca de uma hora a receber oxigénio, voltámos para casa.

Cerca de um mês depois, repetiu-se a “cena”. Nessa noite de puro Inverno Canadiano, para poder chegar ao meu carro, a chuva gelada revestira o pavimento do parque de estacionamento com uma camada de gelo com tal espessura, que não tive outra alternativa que não ser ir de gatas até ao carro. Chegados ao hospital, o médico de serviço para além de mandar a Neuza receber oxigénio, diagnosticou-lhe asma e receitou-lhe Ventilan. Eu e a Gina, perante aquele diagnóstico ficámos mais gelados que o próprio tempo e voltámos a casa.

Adquirimos o “famoso” Ventilan e a Neuza, a muito custo, lá começou a usar a bomba para aspirar o pó dos comprimidos. Para mim e para a Gina era sempre grande a dor, na hora de rodarmos a bomba para abrir o comprimido e pedirmos àquela linda menina de 4 anos para aspirar aquele pó branco. Desafiando as instruções do médico, sempre que a Neuza não tossia, “esquecíamo-nos” do Ventilan.

Uma noite acordei e ouvi a Neuza a tossir no seu quarto. Os sons que emitia pareciam “marteladas” no meu coração. Decidi então rezar. Lembro-me perfeitamente das palavras que então disse a DEUS: “Pai, dá-me uma luz, um sinal, para que a Neuza pare de tossir. Por favor!”

Acto contínuo, senti o meu corpo a ser invadido por um arrepio (acreditem que sempre que penso naquele momento sinto sempre um arrepio, tal como agora, mas nunca tão forte) e dou por mim, a acordar a Gina e a pedir-lhe para despir a Neuza e tirar-lhe o pijama. Meio a dormir meio acordada a Neuza foi alvo de uma “operação” inesperada. A tosse parou.

Os dias passaram, nunca mais voltámos a dar Ventilan à Neuza, nunca mais voltou a vestir aquele pijama que tanto gostava e … nunca mais voltou a tossir daquela maneira e já lá vão 21 anos.”

Coincidências? Alergia a alguma fibra daquele tal pijama? Vários médicos envolvidos sem nenhum projectar tal possibilidade? Para mim, foram os “Caminhos de Deus”.

Ao longo destes anos, aconteceram outros “episódios” que não tenho dúvidas, que foram outros tantos “Caminhos de Deus”.

Uma coisa eu aprendi há muito: “Nem todas as perguntas têm respostas e a nossa vida deve de ser vivida em paz e harmonia com os outros sem que permanentemente tenhamos de ser contabilistas do deve e do haver”.

Quantos de nós não ouvimos já promessas a Deus e a Nossa Senhora que invariavelmente começam sempre por: “- Se… eu prometo … “ ?

- Porque é que teimamos em “negociar” com Deus e com Nossa Senhora em vez de depositarmos em Suas mãos, as Suas vontades?

- Porque é que teimamos em aceitar que Deus apenas “reside” nas igrejas, nas capelas, nas mesquitas e nos templos sagrados, quando “Ele” reside” dentro de cada um de nós e nos acompanha até nos nossos próprios pensamentos?

- Não seremos hipócritas quando pensamos que uma falha ou erro nosso será “limpo” na próxima visita à igreja, porque lá “reside” um Deus bom que está sempre à nossa espera e sempre disponível para tocar na tecla do “delete” para nos eliminar os “vírus do pecado”?

- Será que, pelo menos, Ele não merece que nós tenhamos um comportamento que não O envergonhe, desde logo, vivendo a vida com verdade e com uma enorme fé Nele? Qual é o pai que não gosta de sentir o carinho do seu filho? Qual é o pai que não gosta ouvir o seu filho (ou filha) dizer que o ama e que o considera o seu Super-homem?

Reconheço que, pese tudo o que até agora revelei, não sou alguém que não erra e que por vezes não deriva dos “Caminhos de Deus”. Por muito que possa fazer, não deixo de ser humano. Só que como não Lhe consigo esconder o erro, há medida que os anos passam e a cumplicidade entre nós aumenta, mais difícil se vai tornando lidar com o erro.

Para terminar este meu artigo, gostaria de fazer uma pequena confidência: Aquando das últimas autárquicas de 2005, pese todo o meu empenho em sair vitorioso, nunca Lhe pedi a vitória e sempre que diariamente “conversávamos” apenas Lhe manifestava a minha total disponibilidade em aceitar a Sua decisão. E quando os resultados foram conhecidos, a minha tristeza só se revelou por ter sido “tocado” pela tristeza de alguns que me acompanhavam.

Ele destinou-me um papel diferente daquele que eu pensava, por isso, só tinha de respeitar a Sua vontade e desempenhá-lo da melhor forma que podia e sabia, nem que para isso tivesse de ir buscar tempo ao pouco tempo que a minha actividade profissional e familiar me concedia. Sabia que quanto mais “estudasse” menor seriam os erros cometidos e melhor levaria “a carta a Garcia”. Respeitei a pessoa que se encontrava por detrás do meu adversário, mas tornei-me implacável quando os seus actos colidiam com a verdade. Para mim, a verdade era só uma, quer ela estivesse do meu lado, quer do lado dos meus adversários. Mesmo quando me foram erigidas barreiras cortando-me esse caminho, em momento algum gerei dentro de mim sentimentos revolta exacerbados, a não ser uma profunda tristeza pela forma como tais barreiras foram erigidas e pelas quais julgava (ainda julgo) não ter sido merecedor.

Por muitos que sejam os caminhos que o Nosso Pai pretende que trilhemos para melhor chegarmos aos Seus próprios Caminhos, enquanto bons filhos, só temos de aceitar a Sua vontade porque, se mais não fosse, por ele ser um Bom Pai e como tal Ser Alguém que quer o melhor para os seus filhos.

domingo, 22 de março de 2009

Caminhos de Deus (2)

Com o nascimento da minha filha (1983) a minha “relação” com Deus começou a ser mais forte. O amor de pai levava-me a que diariamente Lhe pedisse que a protegesse e que nenhum mal a invadisse: “Se a dor dos outros nos incomoda o que dizer quando a dor toca quem amamos?

Enquanto fumador muito activo, no início de 1985 percebi que, definitivamente, tinha de deixar de fumar. Os dois maços de cigarros, que diariamente “queimava”, colocavam "em sentido" a minha saúde. Raras eram as noites que não acordava com falta de ar. Haviam sido várias as vezes que tentara deixar de fumar só que o vício fora sempre mais forte que eu. Um dia, que apenas recordo ter sido na primeira metade do ano de 1985, decidi deixar de fumar. Sentindo que sozinho seria impotente para levar a cabo tal tarefa, decidi recorrer Àquele que diariamente pedia para proteger a minha filha. Pedi-Lhe que me desse forças para resistir à tentação do cigarro. E resisti um dia. Voltei a pedir e resisti outro. A tentação de voltar a pegar num cigarro e responder aos “pedidos do vício” eram enormes. Quando tal acontecia, algo que não sei explicar me fazia recuar. Os dias, deram lugar á semana, a semana aos meses e os resultados não poderia ser melhor deixara de fumar. Os pedidos que diariamente inicialmente efectuara a Deus, deram lugar a um agradecimento diário.

É neste cenário de agradecimento, que em 1986 me vejo envolvido numa situação peculiar: enquanto funcionário público (fiscal técnico de obras de 1ª classe) do quadro do Gabinete de Apoio Técnico de Abrantes, ao qual pertencia desde Janeiro de 1979, comecei a não me sentir bem no meu espaço de trabalho. Pese o facto de, na altura, ter rendimentos mensais muito razoáveis, algo me empurrava para a necessidade de ter de dar um novo rumo á minha vida. Um dia, em que o sentimento de mudança se revelaou mais forte, sou informado que a Embaixada do Canadá em Lisboa voltara a abrir as portas à emigração, dando preferência a técnicos e famílias jovens já constituídas.

Nesse dia, à noite, pensei: - São raros os emigrantes que eu conheço, que não venceram nos Países que os acolheram. E se eu emigrasse para o Canadá? Embora tivesse algumas coisas a favor, eram mais aquelas que eu tinha contra. Desde logo, não tendo ninguém conhecido no Canadá que me pudesse servir de âncora, depois a minha idade (31 anos), depois a profissão que não era de operário especializado, depois a responsabilidade que tinha para com a minha família caso tudo resultasse numa aventura fracassada, enfim… o conjunto dos "nãos" eram infinitamente superiores ao conjunto dos "sins". Foi debaixo deste emaranhado de pensamentos, que nessa noite rezei e Lhe pedi que me ajudasse a encontrar a resposta sobre se valeria a pena emigrar para o Canadá. No fim decidi que iria escrever no dia seguinte uma carta para a Embaixada do Canadá em Lisboa ao mesmo tempo pedi-Lhe que: “Se o passo que iria dar fosse bom para mim e para a minha família, que o pedido fosse aceite e que eu emigrasse, caso contrário que tudo não passasse de um sonho fugaz”.

No dia seguinte, tal como prometera, escrevi uma carta para a Embaixada do Canadá e durante alguns dias esperei pela resposta, ao mesmo tempo que renovava diariamente o meu pedido a Deus. Poucas semanas depois a resposta veio: “convidavam-me para uma entrevista, a mim, bem como à minha família”.

Da entrevista, aos exames médicos e à autorização de emigração foi um passo que durou poucos meses. Em Abril/Maio de 1987, já com a autorização de emigração nas mãos, questionei-me sobre se tudo aquilo tinha algum sentido. E a Gina acompanhou-me nos mesmos pensamentos. Decidimos colocar uma pedra sobre o sonho de emigrar e, para que não restasse qualquer dúvida “derretemos” as nossas parcas economias na aquisição de um carro novo (Fiat Regata) que nos custou 1.600 contos.

Porém, quando à noite rezava, questionava-me ainda sobre o valor do pedido que havia feito a Deus. “- Seria bom? Seria mau?”. Como se encontrava a decorrer, o prazo dado pela Embaixada do Canadá para emigrar, continuava a pedir a Deus que me desse uma luz definitiva sobre o assunto.

Em Setembro de 1987, depois de mais um “ataque de insatisfação laboral”, decidi pedir uma licença sem vencimento e ir visitar o Canadá. Nem o facto de ter comprado o carro novo me fez mudar de opinião. Perante a vontade da minha Directora de não me aceder a tal pedido e impulsionado por uma força difícil de descrever, decidi fazer a viagem sozinho e arriscar, mandando às urtigas a possibilidade de nunca mais voltar a trabalhar no GAT de Abrantes. Comigo, tinha o maior Amigo e Cúmplice que alguém pode ter, para além de uma esposa fantástica que desde a primeira hora estava comigo.

O início da minha aventura Canadiana não foi o que perspectivava: trabalhei no chamado “duro”. A minha sobrevivência passou a depender da força dos meus braços. Raro era o dia que, iniciado o trabalho às 8 horas da manhã, meia hora depois já não estava a pedir a Deus que me desse forças. E tinha-as, ao recordar-me constantemente que o Seu sofrimento na cruz, era infinitamente superior àquele que estava a passar. Por isso rara era a operação de força que não era intimamente acompanhada de: “Faço isto por ti, Meu Pai! Com a minha idade sofreste mais do que aquilo que estou a sofrer." À noite, raras eram as vezes que questionando-O porque tinha emigrado e comparando a vida profissional que tinha em Portugal e aquela que estava a experimentar no Canadá, não sentia um arrepio estranho que me invadia o corpo. Se “aquilo” era uma resposta às minhas preces não sei, mas que era estranho, acreditem que era.

Em Setembro de 1988, estava eu a fazer a piquetagem topográfica para a Firma que trabalhava Brantco Construction num parque de estacionamento de uma Igreja, quando o “contacto” se deu. O Engenheiro Ângelo Inoccenti, responsável pela obra, deu-me o contacto de um College onde eu poderia tirar um curso de topografia, como sendo uma boa saída para o trabalho “duro” que havia um ano experimentava.

Porque seria longo o texto através do qual eu poderia descrever os Caminhos que Deus tinha traçado para a minha aventura Canadiana, permito-me colocar a seguinte questão: “ Será que, pese todo o saber que pudesse ter acumulado até aos meus 33 anos, com um único ano a viver numa comunidade de língua Inglesa em que não praticava a língua de Shakespeare mais do que 1 hora, no máximo, por dia foi possível o seguinte: - Fui convencido a não tirar o curso de topografia, mas sim o curso de engenharia civil; as aulas já se haviam iniciado e foi-me aberta uma excepção depois de ter passado num exame de matemática e ter apresentado o meu curriculum académico que tinha levado comigo desde Portugal; no primeiro ano os meus colegas falavam comigo, não os percebia, ao passo que os professores quando falavam, era como se a língua utilizada fosse a Camões; no fim do 1º ano já era o segundo melhor aluno do curso e um convite para trabalhar num Gabinete de projectos tirava-me das mãos o tal trabalho duro experimentara entre Setembro de 1987 e Setembro de 1988; e por fim, Abril de 1991, revela que dos 24 alunos que haviam iniciado o curso de engenharia civil no ano de 1988, eu estava entre os 12 que o concluíram com sucesso. Só que o sucesso teve contornos que ainda hoje me custa a acreditar, pese todo o empenho que depositei ao longo dos 3 anos. Das 36 cadeiras do curso, eu obtivera 2 B (equivalente a Bom) e 34 A (equivalente a Muito Bom) que fez de mim o 2º melhor aluno de todo o College (aproximadamente 2.000 alunos) naquele ano e o melhor aluno de engenharia civil nos 18 anos do curso naquele college? É UMA LONGA QUESTÃO. Independentemente de me ter aplicado, ainda hoje tenho a plena convicção que a Mão de Deus me acompanhou e me traçou um caminho ao qual não consegui fugir.
Nesse ano, recusei um convite para trabalhar como engenheiro no Município de Cambridge e aceitei o convite para ser Adjunto da Presidente da Câmara Municipal de Sardoal. Missão: Ser Engenheiro na Autarquia Sardoalense e o facto de ser Adjunto fora a forma encontrada para poder ser compensado financeiramente da opção. Porque regressei a Portugal e para o Sardoal, são questões que não coloco. São insondáveis os caminhos de Deus e a sua lógica é diferente dos caminhos dos homens.

Pelo que já vivi, entendo que há perguntas que necessariamente não necessitam de respostas. O que já me foi oferecido por Ele, é bastante para acreditar que Ele existe e que é meu Companheiro.

domingo, 15 de março de 2009

Caminhos de Deus (1)

Embarco hoje numa viagem pessoal. Será uma viagem ao "meu tempo" durante a qual pretendo perceber a lógica dos Meus Caminhos com os Caminhos de Deus.

Como qualquer criança portuguesa pertencente a uma família cristã, no início da década de 60, percorri todas as etapas da formação cristã, independentemente da 1ª fase ter tido lugar na Metrópole (Portugal Continental) e a 2ª fase em Moçambique. Lembro-me que, se ao princípio a figura dos anjos e a coragem dos mártires a serem devorados pelos leões no Coliseu de Roma eram um incentivo para frequentar a catequese, para o fim, só o espírito do grupo e a obrigatoriedade imposta pelos pais é que permitiram que a "Crisma" fosse concluída.

Concluída a formação, como qualquer adolescente, entrei na chamada "fase da contestação", durante a qual contestava quase tudo. A ida às missas de Domingo deixaram de ser obrigatórias e as "ideologias" dos grupos a que pertencia fizeram com que durante alguns anos "esfriasse" os meus sentimentos quanto à lógica dos "Caminhos de Deus". Recordo-me, todavia, que em vésperas de testes, não resistia à tentação de rezar para que pudesse ter positiva, especialmente naqueles para os quais estava menos preparado. Claro está, que quando os resultados não eram os melhores e constatava que outros colegas que chegavam a rejeitar a existência de Deus obtinham muito melhores notas, questionava-me sobre a lógica da Fé.

Os anos foram passando e embora fosse pontualmente questionando a minha Fé na religião Católica nunca deixei de acreditar no meu Deus, que aceitava ser meu Pai e que dava pelo nome de Jesus Cristo. Depois de muito ler sobre outras religiões, concluí que o meu Deus, que era bom, era o mesmo Deus Bom das outras religiões, só que não se chamavam Jesus Cristo, tinham simplesmente outro nome. E se dúvidas tivesse dessa minha apreciação, um dia tive a confirmação, na sequência de uma visita que efectuei a uma Mesquita, corria o ano de 1975. Passo a contar:

- "Os alunos do 7º ano do Liceu Pêro de Anaia da cidade da Beira (Moçambique) efectuaram a sua viagem de Finalistas à Ilha de Moçambique. Sendo um dos Finalistas, não deixei de participar nessa Viagem. Um dos programas dessa viagem assentou numa visita à Mesquita da Ilha. Munidos dos essenciais "Cofiós", entrámos na Mesquita, lavámos os pés e entrámos na sala das orações. Quando no interior, ao observar aquelas paredes totalmente vazias, senti algo estranho. Havia "qualquer coisa" que pairava no ar. Um "arrepio" invadiu o meu corpo e a minha reacção imediata foi rezar um "Pai Nosso" em silêncio profundo. Concluído o "Pai Nosso", o arrepio deu lugar a uma paz, impossível de explicar. Ali dentro, estava "alguém" a quem eu tratava por Jesus Cristo e outros por Maomé".

O tempo passou. Casei pela Igreja e a minha Filha nasceu. É aqui que se inicia uma nova etapa na forma como passo a "lidar" com o meu Deus. Tomando consciência que aqueles a quem amamos, porque vivem, estão sujeitos permanentemente à dor e à morte, passo a recorrer ao meu Deus, com uma maior frequência, para que me protegesse e a todos aqueles que mais amava, para melhor poder viver e ser feliz. À noite, antes de adormecer, rezava sempre um Pai Nosso e uma Avé Maria pedindo protecção para o meu lar.

Corria o ano de 1986, quando ocorreu uma mudança na forma de lidar com a minha Fé Cristã. Deixei simplesmente de "decorar em silêncio" o normal Pai Nosso e Avé Maria", para ir mais longe: "Falar com Deus".

(No próximo artigo descreverei algumas conversas que tive com Ele, que decorreram entre 1986 e 1991, bem como o resultado de algumas dessas conversas.)

domingo, 8 de março de 2009

A MULHER

Sinto-me um afortunado por ter vivido já uns "anitos" e ter tido a possibilidade de acompanhar a maior evolução que a humanidade já experimentou em apenas algumas dezenas de anos.

Tenho para mim que essa evolução não foi só possível pelo avanço meteórico da informática, mas fundamentalmente pela consciência que muitas sociedades adquiriram ao perceberem sobre qual deveria ser o verdadeiro papel da mulher dentro dessas mesmas sociedades. O egoísmo dos homens e a passividade das mulheres, atiraram (e infelizmente sociedades há que ainda atiram) estas últimas, para o último degrau da escada de valores da sociedade a que pertenciam (ou pertencem).

Ainda há algumas dezenas de anos o papel da mulher na sociedade portuguesa estava perfeitamente definida: casar, administrar o lar, gerar descendência, educar os filhos e servir e ser fiel ao seu marido. Na hora de um falar do outro a alguém, o mais normal era o homem se referir à sua esposa como "a minha mulher" e a mulher referir-se ao seu esposo como "o meu marido". Sociedades havia em que (será que ainda não há) o envolvimento de um homem, casado, com outras mulheres era julgado pela sociedade como sendo um acto normal e pacíficamente aceite, enquanto o contrário era julgado como crime punido com a pena de morte.

E se a missão das mulheres se resumia ao interior de uma casa, para quê desenvolver o seu intelecto? Para tal bastava que soubessem ler e assinar o seu nome.

Felizmente que as mentalidades mudaram e hoje algumas sociedades estão melhores. A mulher deixou de estar atrás do homem para estar ao seu lado, ainda que (infelizmente) para muitos homens, o seu valor ainda dependa exclusivamente do eventual interesse sexual que ela possa induzir.

E porque julgo pertinente relembro um episódio que remontará ao ano de 1966. Eu, os meus pais e os meus irmãos viviamos na vila do Luabo (Província da Zambézia, em Moçambique). O meu pai era canalizador e trabalhava para a firma "Right Rain", a qual procedia à rega dos campos de cana de açucar que abasteciam a fábrica da Sena Sugar Estates. Um dia chegou a casa e ouvi-o relatar à minha mãe a experiência que havia vivido durante o dia. Contou ele que estando com os seus homens (algumas dezenas de negros que procediam à abertura das valas para implantação das tubagens de fibrocimento) se apercebeu de um movimento algo de anormal. Junto à sua frente de trabalho, havia um grupo de mulheres que procediam ao corte da cana que decidiram suspender a actividade e criaram uma roda. A curiosidade do meu pai impeliu-o a aproximar-se, quando foi barrado por uma mulher que lhe disse: "desculpa senhor mestre, não passa! Ali está uma mulher a ter filho!". Estando desfeita a curiosidade, o meu pai retomou a sua actividade com os seus homens. Passado algum tempo, o meu pai viu o círculo formado pelas mulheres ser desfeita e eis que percebe que uma delas, algo frágil, punha "qualquer coisa" ás costas e pegava numa catana para continuar a cortar cana. Aquela "qualquer coisa" era o filho que acabava de ter. Não se contendo, foi ao encontro do "capataz" daquela mulher e pediu-lhe que a dispensasse e a mandasse para casa não lhe descontando no vencimento. Para sua satisfação o pedido fora aceite. (Este episódio, ainda hoje o acompanha).

Mais tarde vi, como a mulher negra moçambicana era o motor do lar. Enquanto os seus maridos partilhavam o seu salário com os seus amigos e alimentavam os seus vícios, à mulher cabia a responsabilidade de alimentar a família. Nas "machambas" empunhava a enxada para semear o milho que o pilão ajudava a transformar em farinha. Nas lagoas que a chuva espalhava pelo chão, com o recurso a baldes ou alguidares tudo fazia para os secar para melhor poder apanhar os "sombas", "does" e outros (peixes com respiração cutânea e por guelras, de formato cilíndrico e com um comprimento variado entre 30 e 60 centimetros), que mais tarde seriam abertos e secos ao sol e que serviriam para a estação das secas, qual formiguinha incansável.

Será que alguém é capaz de afirmar que aquelas mulheres representam o sexo mais fraco?

Olhando para as mulheres do meu País, é fácil perceber quão diferentes elas estão. Há muito que conseguiram provar que diante das mesmas oportunidades apresentadas aos homens, são tão boas, ou até mesmo melhores, do que eles. Elas já há muito que superam os homens nas Universidades. O sexo forte já não é aquele que possui mais força nos braços, para ser aquele que possui mais força no cérebro.

O que falta às mulheres para serem devidamente reconhecidas por todos os homens? Uma das minhas teorias é que estes se lembrem que já não habitam nas cavernas e que as olhem nos olhos em vez de os baixarem permanentemente para níveis inferiores.

Para todas as mulheres do mundo, neste seu dia, daqui envio um abraço. Permitam, contudo que no meio dessas mulheres individualize três: Lucilia, Gina e Neuza. Elas representam o "triângulo amoroso" sobre o qual assenta a minha felicidade: Amor de Filho, Amor de Esposo e Amor de Pai.

domingo, 1 de março de 2009

Em terra de cegos

A Vila de Sardoal voltou a ser inundada de propaganda política. No ar já se sente o “cheiro” a campanha eleitoral.

Desde as Presidenciais de 2006 que, com excepção do Partido Comunista Português que nunca deixou de “alimentar” uma pequena estrutura localizada no interior da Vila, que nos habituámos a ver estruturas metálicas vazias em alguns pontos da nossa Vila (e do nosso Concelho), as quais outrora divulgaram mensagens politico-partidárias, quer locais (onde eu próprio cheguei a ser protagonista), quer nacionais.

E eis que por artes mágicas(?), em Dezembro último, a nossa paisagem urbana se transformou, com os apelos do Partido do Governo ao “espírito” de Natal. Quem não gosta de ouvir tais mensagens?

“Aquecidos os corações”, a fase seguinte foi revelar que a acção governativa era merecedora de todos os elogios, conforme atesta o facto dos apoios que têm sido prestados às famílias, às empresas, aos trabalhadores, etc. O que se segue? Não será difícil de prever que as próximas mensagem encerrem algo como “quem fez o que fizemos, mesmo diante de uma conjuntura económica desfavorável, merece continuar a governar os portugueses. Só existe um voto possível: vote em nós”.

São vários os pensamentos que este tipo de marketing comunicacional me suscita:

1º O Partido do Governo tem todo o direito de publicitar o que entende ter feito bem, mas pergunto: Será que não era esse o seu dever? Será que existe algum governante que não pretenda fazer o melhor possível para ajudar o Povo do seu País?

2º Porque será que eu não vejo ser publicitado uma promessa eleitoral que não foi cumprida, numa verdadeira acção de autocrítica? (Acreditem! Se o Partido do Governo colocasse uma mensagem num out-door, através da qual pedia desculpa a todos os portugueses por não ter cumprido com a promessa de criação de 150.000 novos empregos durante o quadriénio 2005-2009, invocando a verdadeira razão por tal insucesso, teria em mim um impacto mais positivo do que aquele em que revela o que está fazer.)

3º Do lado dos partidos da oposição, pouco ou mesmo nada se vê. A oposição cinge toda a sua acção, exclusivamente na denúncia do erro. Tem impacto na altura da sua revelação, mas depressa se desvanece. Os Portugueses há muito que revelaram que têm um memória curta, por isso, para o Partido que tem sonhos de ser Governo, não basta denunciar o erro dos outros. Acima de tudo tem de ser capaz de demonstrar que é capaz de fazer melhor. E essa demonstração tem de ser racional e, por todos nós, entendida. (A este propósito, temos todos assistido ao digladiar das posições defendidas pelo PS e pelo PSD sobre a melhor forma do Governo responder à crise em que o País, a Europa e o Mundo se encontram. Do lado do Partido do Governo a saída são o TGV, o Aeroporto de Alcochete, a 3ª Ponte sobre o Tejo e mais uma ou outra obra estrutural de relevo. O que diz o PSD? O Governo deverá cingir toda a sua acção apoiando as pequenas e médias empresas atirando para a gaveta do futuro tudo o que sejam obras faraónicas. Em quem devo acreditar?). Porque raio a oposição também não usa os out-doors ou outros meios informativos para a todos nos informar o que faria diferente do que tem feito ou faz o Partido do Governo?

Se há coisa que os Portugueses já perderam há alguns séculos é o gosto pela aventura. “Mal por mal, é melhor estar assim” e por isso nunca se aplicou tanto o ditado popular: “Em terra de cegos, quem tem olho é rei”.

(Post Scriptum: Para as próximas eleições autárquicas, o Concelho do Sardoal já tem dois candidatos: Pelo PSD, Fernando Moleirinho já decidiu “arregaçar as mangas” e enfrentar o veredicto popular pela sexta vez. Por parte do PS, Dr. Fernando Vasco há muito que já havia assumido tal propósito. Quanto aos outros Partidos, à imagem das eleições anteriores, até à última, ainda deverão aparecer mais duas candidaturas que terão apenas como missão a angariação de umas dezenas de votos marginais, os quais serão muito úteis para o reforço das débeis finanças desses Partidos.)