domingo, 30 de maio de 2010

Casa Sem Pão

Aí estão as manifestações de descontentamento populares!

Este fim-de-semana foi a CGTP, a seguir vêm os camionistas… e outros virão.


Não me custa admitir que todas as contestações darão em... NADA. Porquê?

1º Porque as medidas de austeridade impostas pelo Governo são necessárias e não pecam por excesso, antes por defeito.

2º Porque em tempos de crise a contestação é uma faca de dois gumes. Mesmo que ela seja justa (e neste caso é, pela indignação que a todos nos invade por seremos sempre os mesmos a pagar erros e caprichos de outros) a corda esticada rompe sempre no seu ponto mais frágil. Quando um trabalhador já não consegue sobreviver com o seu salário e exige da sua entidade patronal uma reparação financeira, a esta só lhe resta duas hipóteses: ou recusa ou concede. O problema é quando a crise invade a empresa e a sociedade onde esse trabalhador se insere. A empresa apresentando dificuldades financeiras não pode satisfazer o pedido do seu trabalhador e este extremando a sua posição só lhe resta uma saída: despedir-se. Não havendo alternativas de emprego o que lhe resta depois?

- Será que não é preferível o pouco diante do nada?

Todos os dias vão-nos chegando informações que vão avolumando a nossa indignação e/ou tristeza. E elas são tanto maior quando percebemos da nossa total incapacidade e impotência para agir. Das informações e factos que esta semana “chegaram” até mim elejo dois:

- A requisição e designação de mais 13 (treze) motoristas ao serviço do Gabinete do PM;
- Angústia diante do dever cumprido.

MOTORISTAS PARA O GABINETE DO P.M.

Os Despachos n.º 8346 a n.º 8358, publicados no Diário da República n.º 96, Série II de 2010-05-18 tratam de uma forma sintética a requisição e a designação de 13 novos motoristas ao serviço do Gabinete do Primeiro-Ministro. Sintetizando os Despachos publicados, temos:

- Despacho n.º 8346
Requisita à empresa Deloitte & Touche, Lda., A. J. O. F., para exercer funções de motorista no Gabinete do Primeiro-Ministro
- Despacho n.º 8347
Requisita à Associação dos Bombeiros Voluntários de Colares R. M. A. P., para exercer funções de motorista no Gabinete do Primeiro-Ministro
- Despacho n.º 8348
Requisita ao Sindicato dos Trabalhadores de Escritório, Comércio, Hotelaria e Serviços V. M. G. M. M. F., para exercer funções de motorista no Gabinete do Primeiro-Ministro
- Despacho n.º 8349
Designa o agente principal da Polícia de Segurança Pública A. L. A. para exercer funções de motorista no Gabinete do Primeiro-Ministro
- Despacho n.º 8350
Requisita à empresa Companhia Carris de Ferro de Lisboa, S. A., A. O. F., para exercer funções de motorista no Gabinete do Primeiro-Ministro
- Despacho n.º 8351
Designa o assistente operacional J. M. M. da Secretaria-Geral do Ministério da Cultura, para exercer funções de motorista no Gabinete do Primeiro-Ministro
- Despacho n.º 8352
Designa o assistente operacional J. O. D. V. do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, I. P., para exercer funções de motorista no Gabinete do Primeiro-Ministro
- Despacho n.º 8353
Designa o agente principal da Polícia de Segurança Pública J. H. S. T. C. para exercer funções de motorista no Gabinete do Primeiro-Ministro
- Despacho n.º 8354
Designa a agente principal da Polícia de Segurança Pública L. B. para exercer funções de apoio administrativo no Gabinete do Primeiro-Ministro
- Despacho n.º 8355
Designa o agente principal da Polícia de Segurança Pública J. D. B. D. para exercer funções de motorista no Gabinete do Primeiro-Ministro
- Despacho n.º 8356
Designa o agente principal da Polícia de Segurança Pública M. B. P. M. para exercer funções de motorista no Gabinete do Primeiro-Ministro
- Despacho n.º 8357
Designa o agente principal da Polícia de Segurança Pública H. P. P. F. para exercer funções de motorista no Gabinete do Primeiro-Ministro
- Despacho n.º 8358
Designa o agente principal da Polícia de Segurança Pública C. B. P. para exercer funções de motorista no Gabinete do Primeiro-Ministro.


São várias as interrogações que estes Despachos me suscitam:

1º Se o Primeiro-Ministro é o mesmo desde 2005, porque é que num momento em que o Governo pede contenção aos Portugueses são necessários, de um momento para o outro, TREZE (!!!) novos motoristas ao serviço do Gabinete do Primeiro-ministro?

2º Será que os Despachos visam “legalizar” o vínculo laboral de treze motoristas já ao Serviço? Se assim é, porque que é que na requisição ou designação não é referido o período a que os mesmos ficarão vinculados? Ou será que estamos diante de situações de reformas? Ou será que os substituídos não eram “boys no verdadeiro sentido”?

3º Sabendo-se que muitos serviços do Estado apresentam excesso de funcionários que implicam na sua mobilidade, possivelmente alguns deles com a categoria de motoristas, porque é que o Gabinete do Primeiro-Ministro não recorre aos seus serviços?

4º Porque será que o Gabinete do PM precisou de recrutar, de uma só vez, para os seus serviços, e enquanto motoristas: dois funcionários de empresas privadas (Deloitte & Touche e Carris), um elemento de uma Corporação de Bombeiros Voluntários; um funcionário de um Sindicato e sete agentes principais da Polícia de Segurança Pública?

Porque será que os Portugueses não conseguem conter a sua indignação?

Porque será...?


ANGÚSTIA

A minha breve passagem pela política activa, enquanto Vereador do meu Concelho, ficou marcada por um comportamento, do qual não me arrependo, mas que, de alguma forma, deixou marcas ou resquícios em outros e em mim mesmo.

A minha atitude diante dos factos que me eram apresentados e que sobre os quais tinha o dever de responder foi sempre a mesma: colocar os interesses do meu Concelho acima dos interesses dos demais, incluindo os meus. Será que na condução dessa atitude também não cometi os meus erros? Acredito que sim, porém nunca os mesmos foram o resultado de qualquer premeditação irresponsável.

Para que em consciência pudesse reduzir a dimensão do erro “queimei muitas pestanas”. Foram horas a estudar ciências que me eram estranhas, horas que retirava ao pouco tempo de lazer que a minha actividade profissional me deixava.

Na hora de apresentar os meus argumentos, a minha maior angústia e frustração sempre foi perceber o quanto era ignorado diante da lógica que apresentava. E essa lógica não tinha a ver com o peso qualitativo de um qualquer acontecimento mas tão só o peso quantitativo da força dos números. No superior interesse do meu Concelho, o cargo que detinha “obrigou-me” a apelar a organismos superiores, detentores de um poder superior que não tinha, para que mandassem corrigir o que estava errado, uma vez que quem detinha um outro poder revelava indisponibilidade pela sua correcção.

Deixei a política activa (já lá vão quase dois anos!) e o meu novo caminho foi-me afastando gradualmente dos actos políticos em que me envolvi entre Novembro de 2005 e Outubro de 2008. O facto de sermos poucos (infelizmente cada vez menos) faz com que não consiga esquecer definitivamente os pensamentos sobre tais actos. Parece que existe sempre algo que surge para os acordar.

Esta semana, oficialmente, foi-me reconhecida razão por um erro que denunciei em 2007 e depois de tudo ter feito para que o mesmo tivesse sido corrigido. A minha angústia é tanto maior porque não só desconheço os seus efeitos práticos, mas também porque existem outras de igual dimensão por apurar.

- Será que esse não era o meu dever?

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