domingo, 2 de maio de 2010

Cenas

Era uma vez um Homem, que não era
Todo nu, com uma faca no bolso
Sentado num banco todo em pau, mas de pedra
A ler um jornal sem letras
Sob a luz de um candeeiro apagado.
Esse jornal assim dizia:
“- Ó querida mocidade dos meus 100 anos
Vale mais morrer, do que perder a vida!”


Já lá vão muitos anos (40?) quando ouvi este “poema” pela primeira vez, à roda de uma fogueira, durante um acampamento numa floresta e numa noite de um “Fogo de Conselho” do Grupo 29 da AEP (Associação de Escuteiros de Portugal) ao qual pertencia, enquanto escuteiro e membro da Patrulha Castor.

Se hoje o evoco é porque nunca o mesmo se revelou tão actual face ao comportamento dos nossos governantes nos últimos tempos e com destaque para a semana que agora termina.

Vejamos então:

Cena 1

- Diante da divulgação dos resultados do Produto Interno Bruto de Portugal, entre Abril e Junho de 2009, em que o INE revelava um crescimento de 0,3%, em Agosto de 2009, o nosso PM dizia:
“-… Com este resultado, Portugal sai tecnicamente da recessão económica em que se encontrava. Portugal é aliás um dos poucos países europeus que sai da recessão técnica enquanto o conjunto dos países europeus continua em recessão. Estes dados confirmam o acerto da política que temos seguido no que diz respeito às famílias, ao apoio às empresas e à promoção de investimento público, condição essencial para melhorar as condições da nossa economia e dar mais oportunidades de emprego e mostram que estamos no caminho seguro para uma recuperação económica que assinalará o fim de uma das mais graves crises que Portugal e a Europa tiveram de enfrentar…"

(Passados 8 meses!!!)

- Nesta 5ª feira o nosso PM recebia o líder do maior partido da oposição. Para contentamento de Sócrates, Passos Coelho disponibilizava-se para ajudar o Governo a tirar o País da crise. Qual Crise?

- Na 6ª feira, de manhã, o nosso PM no debate quinzenal na Assembleia da República centrado na dívida nacional, antecipava algumas medidas previstas no PEC por causa da… crise. Qual Crise?

- Na 6ª feira, à tarde, o nosso PR dizia: “…"Considero da maior importância que todas as forças políticas estejam bem conscientes da situação do nosso país para que não desviem as atenções para outras coisas e concentrem todos os seus esforços na resolução dos graves problemas que Portugal enfrenta".

Haja alguém que não fala em crise. Graves problemas não é a mesma coisa que crise. Ou será?


Cena 2

Durante o debate quinzenal que decorreu na Assembleia da República, na passada 6ª feira e na sequência das medidas apresentadas pelo Governo, que passam por cortes no subsídio de desemprego e que chegam aos 20%, Louçã e o nosso PM protagonizaram um diálogo muito interessante. Ora, vamos lá recordar:

Louçã perguntou: “- Qual o valor da redução resultante do corte no subsídio de desemprego?”
O nosso PM não respondeu à pergunta preferindo elogiar as virtudes das medidas.

Louçã voltou a perguntar: “- Qual o valor da redução resultante do corte no subsídio de desemprego?”
O nosso PM voltou a não responder à pergunta preferindo continuar a elogiar as virtudes das medidas.

Louçã (teimoso?) voltou a perguntar: “- Qual o valor da redução resultante do corte no subsídio de desemprego?”
Desta vez o nosso PM respondeu: “Esta é uma medida que está prevista no PEC. Não temos nenhum estudo para dizer qual a consequência orçamental (poupança é o nome que melhor se aplica) da redução do subsídio de desemprego. Aplicamos essa medida por ela ser justa”

Francisco Louçã ripostou, dizendo: “Fantástico! O Governo tomou uma medida para a qual não tem nenhum estudo”. Por fim, percebendo o alcance das palavras do seu adversário e para calar o incómodo causado, o nosso PM lá referiu que houve estudos só que… sem números.

Em que ficamos? Há estudos ou não há estudos?


Cena 3

À saída do Conselho de Ministros na passada quinta-feira, o Ministro das Finanças defendia (e muito bem, digo eu) que deveriam ser repensadas as Obras Públicas previstas, especialmente aquelas para as quais o Governo ainda não tivesse assumido qualquer compromisso, para além de não afastar a hipótese do aumento dos impostos caso tal fosse necessário para o controlo do défice.

Horas depois…

Nesse dia, à tarde, o Ministro das Obras Públicas reafirmava a intenção de se avançarem com todas as obras previstas, com excepção de um troço de 50 Km da Auto-estrada do Centro e a segunda Auto-estrada Lisboa-Porto.

Horas depois…

No dia seguinte, o nosso PM reforça a afirmação do seu Ministro das Obras Públicas ao mesmo tempo que rejeitava o aumento de impostos. Segundo ele: “…o Governo vai cumprir o PEC e lá nada consta sobre o aumento do IVA...”

Há aqui qualquer coisa que não bate a bota com a perdigota!

Com todas estas Cenas e outras que vamos conhecendo, gostaria de formular uma pergunta:

- Qual o resultado prático se a Comissão Parlamentar que avalia o negócio PT/TVI concluir que José Sócrates mentiu?

- Se ainda for PM, perde o mandato?

- E se já não for PM, o que lhe sucede? (Olha se o Ministro das Finanças se cansa e bate com a porta e o Passos Coelho continuar a acumular créditos... a sondagem da Marktest esta semana já o colocava 6 pontos à frente do Sócrates… não sei, não…)

Que desperdício de tempo e de dinheiro! Enquanto isso, o desemprego não pára de aumentar. Esta semana atingiu a maior percentagem de sempre: 10,5% de desempregados equivalente a 585.000 pessoas.

PERANTE TUDO ISTO, QUAL A RECEITA PARA INTERIORIZARMOS PENSAMENTOS POSITIVOS?


P.S. (Pelo Sardoal) – Esta semana existem dois acontecimentos sobre os quais gostaria de escrever alguma coisa: a Reunião da Assembleia Municipal e a 4ª Edição da Feira do Fumeiro, Queijo e Pão.

A Reunião da Assembleia Municipal que teve lugar na passada 3ª feira teve como “ponto alto” a discussão e a aprovação da Prestação de Contas de 2009. Na linha das reuniões que a precederam, sempre que o assunto versa a aprovação de contas de um exercício, de um lado existe um grupo minoritário que faz tudo por descredibilizar os resultados apresentados, enquanto que do outro lado existe outro grupo, fortemente maioritário que não se deixa convencer pelos argumentos dos outros, credibilizando e aprovando os resultados que lhes são apresentados pelo Executivo.

Dos números e percentagens apresentadas não me pronuncio, não só porque não conheço os resultados, como também essa tarefa a outros cabe. Porém, houve uma intervenção protagonizada por um membro da oposição que me fez não ficar indiferente. Passo a relatar:

De acordo com uma Deputada Municipal do PS, ainda que já tenha deixado de pertencer ao quadro dos funcionários da autarquia (vai para 5 anos), o seu nome ainda figura nos documentos da Prestação de Contas como sendo chefe de secção do urbanismo da Câmara Municipal de Sardoal durante o ano de 2009. Para além do seu caso identificou, ainda, outro caso de um funcionário já falecido há alguns anos, figurar também enquanto tendo feito parte do quadro da Autarquia no ano transacto.

Erros todos cometemos. Porém, o erro em questão, já havia sido por mim identificado há, pelo menos dois anos, (enquanto Vereador e quando o Executivo Municipal discutia a Prestação de Contas de 2007, eu próprio pedi para que se procedesse à correcção dessas anomalias, conforme consta na página 7, da acta 7/2008, de 9 de Abril de 2008). O que poderá ter levado a que tal correcção ainda hoje não tenha sido realizada?

No que concerne à Feira do Fumeiro, Queijo e Pão, é justo que nesta hora em que se avalia o seu sucesso, se concedam os parabéns aos responsáveis pela sua realização: Câmara Municipal de Sardoal em parceria com a Associação de Desenvolvimento TAGUS e a Associação Comercial e Serviços.

Esta Feira merece uma pergunta e um desejo.

A pergunta: Porque é que foi preciso passarem-se quatro anos para que ela se realizasse de novo?

O desejo: Que a 5ª Edição tenha lugar já no próximo ano!

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