domingo, 28 de novembro de 2010

O outro lado da greve

As notícias que nos continuam a chegar diariamente sobre as “convulsões financeiras e sociais" em alguns países da zona euro são um sinal claro que, ou mudamos a nossa visão sobre como deveremos gerir os nossos direitos e os nossos deveres, ou todos nós também mergulharemos em semelhantes convulsões.

Que não reste qualquer espécie de dúvida que, caso Portugal se veja a braços com uma situação que “obrigue” os seus governantes a solicitarem a outros uma ajuda financeira extraordinária (Fundo de Estabilidade Europeu e/ou Fundo Monetário Internacional) serão os mais fracos a sentirem o “peso” das contrapartidas que nos serão exigidas. E na lista dos mais fracos estarão por certo os reformados com reformas de miséria, os desempregados e tantos outros.

É com este cenário de fundo que olho para a Greve Geral que decorreu esta semana e não consigo perceber nem os seus objectivos nem o valor que os seus organizadores lhe atribuíram.

Relativamente aos objectivos, sabendo que em Portugal apenas uma percentagem muito baixa de Portugueses é que não sente os efeitos de uma crise para a qual fomos atirados por governantes irresponsáveis que apenas pensavam (e continuam a pensar) em si, para que serviu esta greve? Para mostrar a todos nós tudo aquilo que estamos fartos de saber?

Só consigo vislumbrar objectivos políticos por parte de gente que pretende pôr em prática a teoria “Orwelliana” do “Triunfo dos Porcos”, porque são essas são "as únicas águas em que sabem nadar". E foi vê-los a “comandar” um exército de outra gente que aceitou prescindir de um dia de salário em troca de uma mão cheia de nada. E se um dia algum daqueles manifestantes se vir na condição de desempregado, bem poderá bater “à porta” desses “generais” porque deles só vai receber a sua indiferença e o “- Desenrásca-te!” do costume.

Quanto aos resultados da Greve, para além da falta de transportes, de um ou outro serviço que não se realizou e do “jogo dos números” entre os Sindicatos e o Governo, no qual os excessos se tocaram, o certo é que não conseguiram alterar o estado das coisas. Estavamos mal e continuamos mal. Perspectivas de melhoras, até ver, nem vê-las.

Será que os nossos sindicatos não poderiam ser mais pró-activos do que têm sido, em vez de olharem apenas e só para os seus próprios umbigos?

Será que em matéria de direitos e deveres entre Patrão e Empregado a implementação de filosofias que conferem mais direitos a um que a outro não são elas próprias geradoras de instabilidades sociais?

Como é que se pode atribuir a um mau trabalhador o mesmo valor ao atribuído a um bom trabalhador? Sou defensor da tese segundo segundo a qual: “quem não está bem, muda-se!”.

Se alguém sente que não é reconhecido pelo trabalho que desenvolve e isso lesa os seus interesses, só tem uma saída: muda-se!

A esmagadora maioria dos que decidiram fazer greve esta semana foram funcionários públicos. São legítimas as suas reclamações, mas porque não fazem o que eu próprio fiz, e abandonam a Função Pública? (em 1987 e após 9 anos no quadro da função pública, enquanto fiscal técnico de obras de 1ª classe, sentindo que não era devidamente compensado pelo trabalho que desenvolvia, emigrei. Em 1995 estando reunidas as condições para voltar para os quadros da função pública, já então como engenheiro técnico civil decidi não voltar a arriscar, apostando em mim, vendendo o meu saber, facto que se verifica desde então). Da mesma maneira que não tenho dúvidas que alguns (poucos, muito poucos) eram capazes de obter em empresas privadas dividendos superiores aos auferidos na função pública, outros (a esmagadora maioria) ficaria “surpreendida” pela diferença, para menos.

Uma das conclusões que se pode tirar desta greve é que, uma vez mais, imperou a crueldade da lei da Natureza: “Até a miséria e a desgraça de uns são fonte de alimento de outros.”


CARA

(A Igreja do Convento de Santa Maria da Caridade)
(Google Earth 39º32´00,42"N e 8º09´36,52"W)


(A Igreja Matriz de Sardoal - Séc. XVI)
(Google Earth 39º32´21,48"N e 8º09´38,46"W)


COROA
(O sub-aproveitamento industrial da Zona Industrial do Sardoal)
(Google Earth 39º31´04,82"N e 8º09´29,32"W)

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