sábado, 11 de junho de 2011

É possível

Inicio o meu artigo de hoje lembrando algumas passagens do Discurso do Presidente da Comissão Organizadora do 10 de Junho:

“… Nada é novo. Nunca! Já lá estivemos, já o vivemos e já o conhecemos. Uma crise financeira, a falência das contas públicas, a despesa pública e privada, ambas excessivas, o desequilíbrio da balança comercial, o descontrolo da actividade do estado, o pedido de ajuda externa, a intervenção estrangeira, a crise política e a crispação estéril dos dirigentes partidários. Portugal já passou por tudo. E recuperou. O nosso país pode ultrapassar, mais uma vez, as dificuldades actuais. Não é seguro que o faça. Mas é possível.

Tudo é novo, Sempre! Uma crise internacional inédita, um mundo globalizado, uma moeda comum a várias nações, um assustador défice de produção nacional, um insuportável grau de endividamento e a mais elevada taxa de desemprego da história. São factos novos que, em simultâneo, tornam tudo mais difícil, mas também podem contribuir para novas soluções. Não é certo que o novo enquadramento internacional ajude a resolver as nossas insuficiências. Mas é possível.

Novo é também o facto de alguns políticos não terem dado o exemplo do sacrifício que impõem aos cidadãos. A indisponibilidade para falarem uns com os outros, para dialogar, para encontrar denominadores comuns e chegar a compromissos contrasta com a facilidade e o oportunismo com que pedem aos cidadãos esforços adicionais e renúncias a que muitos se recusam. A crispação política é tal que se fica com a impressão de que há partidos intrusos, ideias subversivas e opiniões condenáveis. O nosso Estado democrático, tão pesado, mas ao mesmo tempo tão frágil, refém de interesses particulares, nomeadamente partidários, parece conviver mal com a liberdade. Ora, é bom recordar que, em geral, as democracias, não são derrotadas, destroem-se a si próprias

… Amargamos as sequelas de erros antigos que tornaram a economia portuguesa pouco competitiva e escassamente inovadora. Mas também sofremos as consequências da imprevidência das autoridades. Eis porque o apuramento de responsabilidades é indispensável, a fim de evitar novos erros…

… Pobre país moreno e emigrante, poderás sair desta crise se souberes exigir dos teus dirigentes que falem verdade ao povo, não escondam os factos e a realidade, cumpram a sua palavra e não se percam em demagogia!

País europeu e antiquíssimo, será capaz de te organizar para o futuro se trabalhares e fizeres sacrifícios, mas só se exigires que os teus dirigentes políticos, sociais e económicos façam o mesmo, trabalhem para o bem comum, falem uns com os outros, se entendam sobre o essencial e não tenham sempre à cabeça das prioridades os seus grupos e os seus adeptos…."
(Excerto do discurso do Doutor António Barreto, no dia 10 de Junho de 2011)

A ideia com que todos ficamos ao lermos estas passagens é a de que o diagnóstico da “nossa doença” há muito se encontra identificado e que a cura da mesma está nas mãos daqueles para quem essa cura não os favorece. E porque não os favorecem tudo têm feito para a adiar.

Por muito que nós sejamos capaz de nos adaptarmos a novas realidades, a nossa natureza humana não permite que nos formatemos à imagem de um qualquer disco rígido. Os sinais que vamos obtendo diariamente não nos permitem acreditar que o discurso do Doutor António Barreto possa fazer “milagres” em muitos decisores políticos e sociais.

Olhemos para o partido que até há poucos dias detinha o poder no Pais. O que vemos? Dos 73 deputados eleitos para a Assembleia da República podemos encontrar 9 ministros, 12 secretários de estado e 2 assessores do primeiro-ministro do Governo que nos atirou literalmente para a miséria. Pergunta-se:
- Qual será o estado de espírito desta gente, na hora de se lhes pedir que ajudem o governo agora eleito?
- Qual poderá ser o seu contributo?
- Porque não são capazes de seguir o caminho de quem até há pouco os liderou e ceder a outros os seus lugares?
– Porque será que os nossos decisores políticos não prescindem dos salários do patrão Estado e circulam num comboio que só tem duas estações (a cadeira do poder e a cadeira do parlamento)?

Olhemos para os outros partidos representados no Parlamento. Será que em algum momento quer a CDU quer o BE estão disponíveis para colaborar com o actual governo na busca de soluções para o País? Ninguém em consciência acredita em tal. Pelo contrário, acredita-se que tudo farão para dificultar. E se a sua voz não passar para além das paredes do Parlamento, os sindicatos encarregar-se-ão de o fazer.

Olhemos para os líderes sindicais. Alguém acredita na sua disponibilidade para colaborar com o governo agora eleito e apelar à razão dos seus associados?

Existe muito decisor político e social que parece que ainda não percebeu que os tempos mudaram. É hora de todos, sem excepção, partilharmos os sacrifícios que estes tempos nos impõem. Os que se dispensarem deste desígnio nacional jamais serão esquecidos e perdoados.

Hoje, o que está verdadeiramente em questão já não é a qualidade da comida que colocamos em cima das nossas mesas para nos alimentarmos, é a sua existência. Eu até sou capaz de suportar as dores da fome por um ideal, porém não existe ideal algum pelo qual seja capaz de suportar a dor da fome dos meus filhos.

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