domingo, 18 de maio de 2008

Um Negócio da China (Parte 4)

Quanto nos vai custar a água fornecida pela Águas do Centro?

Na última 4ª feira desafiei os meus leitores a consultarem os seus recibos da água para aferirem da quantidade de água que os seus agregados familiares, regularmente, consomem por mês.

Dei conta que no caso particular do meu agregado familiar dava uma média de 6 m3 por pessoa, não contabilizando a minha filha, que raramente está em casa. Voltei a analisar os recibos dos 3 primeiros meses deste ano e constatei que durante aquele período consumi 28 m3. Diante deste valor, que representa 5 m3 por mês e por pessoa, entendo dever rever a minha posição inicial e adoptar este valor, para efeitos dos cálculos que abaixo passo a apresentar. Estes 5 m³ de água e por pessoa, representam um consumo diário equivalente a 160 litros por pessoa. É muito? É pouco?
- A Organização Mundial de Saúde recomenda um consumo de 40 litros de água por pessoa e por dia;
- A água, sendo um bem escasso, o seu uso, deverá merecer de todos nós uma atitude que promova o seu racionamento. São várias os conselhos e recomendações que nos são pedidos permanentemente: só deveremos pôr a trabalhar as máquinas de lavar louça e de lavar roupa quando estiverem cheias (pode-se economizar 3,6 m³ de água por mês); deveremos fechar a torneira enquanto escovamos os dentes (pode-se economizar até 1 m³ de água por mês); deveremos fechar a torneira enquanto fazemos a barba (pode-se economizar até 1 m³ de água por mês);
- Etc. Etc.
Por tudo isto, ao entender adoptar o consumo diário de 160 litros de água por pessoa, conscientemente constato que esse valor é alto e deverá merecer de todos nós a vontade de o reduzir no futuro, começando logo por mim.

Recordam-se, ainda, que no artigo anterior (Um Negócio da China – Parte 3) apresentei os caudais mínimos de água que a Águas do Centro SA cobrará ao Município do Sardoal. Se não os utilizou, utilizasse. Paga!
Se os superou, paga o que gastou! Recordo alguns desses caudais mínimos.

2008 – 375.000 m³ (5.279 habitantes)
2013 – 388.000 m³ (5.525 habitantes)
2018 – 406.000 m³ (5.782 habitantes)
2023 – 424.000 m³ (6.051 habitantes)
2028 – 442.000 m³ (6.333 habitantes)
2036 – 449.000 m³ (6.448 habitantes)

Ainda nesse artigo referi que a população do Município de Sardoal, neste ano de 2008, já é inferior a 4.000 habitantes. No entanto, para efeitos destes cálculos entendo ser simpático utilizar-se este número.

Tomando assim como referência o ano de 2008, poderia efectuar-se a seguinte operação:
4.000 Habitantes × 5 m3 por mês × 12 meses = 240.000 metros cúbicos

Comentário 1: Admitindo que todos os Sardoalenses (desde tenra idade até à nossa Sardoalense mais idosa de 102 anos) consumissem 5 metros cúbicos de água por mês e sabendo-se que não é significativo o número de turistas que nos visitam por ano e nas poucas indústrias sedeadas no Concelho nenhuma consome água em quantidade apreciável, concluo que, tomando como referência o caudal mínimo para o ano de 2008, cerca de 135.000 metros cúbicos, teriam de ser sempre assumidos pela Autarquia independentemente desta não os utilizar. Para que se perceba a dimensão destes 135.000 metros cúbicos, é como se a Autarquia tivesse de gastar diariamente 370.000 litros de água no funcionamento das suas instalações e rega dos seus jardins. Se este número só por si já assusta o que se poderia dizer quanto ao facto da população consumir menos do que os 240.000 metros cúbicos e a Autarquia ver acrescida aos “seus” 135.000 m³ o caudal de água que a população “poupou”?

Comentário 2. Admitindo que a Autarquia percebe que tem condições para reduzir o consumo da água que utiliza, e que essa redução implicará não ser necessário gastar os tais 135.000 m³ que lhe estão destinadas no contrato (caso os Munícipes consumam os outros 240.000 m³), será que os responsáveis que estarão á frente da Autarquia serão capazes de adoptar medidas restritivas no consumo de água quando sabem que a Águas do Centro SA é insensível a tais medidas?
Julgo que todos acompanharão o meu pensamento na resposta que a Águas do Centro SA daria diante de uma situação destas: “- Se não gastou, gastasse! Isto é um negócio e o Município aceitou, no contrato que connosco subscreveu, que pagaria anualmente, no mínimo, um determinado volume de água por nós fornecida!”

Nesta altura é lícito que se pergunte: - Quanto é que vai custar a todos nós o fornecimento de água por parte da Águas do Centro SA? (Relembro que os custos que estão em causa são só o fornecimento de água em alta)

De acordo com os proveitos operacionais propostos no contrato de adesão, aprovado pelo Executivo Camarário e Assembleia Municipal no ano de 2006, as tarifas previstas para o ano de 2007, a previsão era de 0,5083€ por metro cúbico e para o ano de 2008 a previsão era de 0,5199 € por metro cúbico. Mais referia o contrato de adesão “…Os Preços atrás referidos sofrerão a actualização pela inflação prevista, verificando-se os seguintes perfis das curvas do tarifário a preços correntes e a preços constantes…”
Do gráfico que a seguir era apresentado, pode extrair-se as leituras estimadas das tarifas até 2036. Sempre a crescer anualmente, as tarifas poderão atingir o valor estimado de 1,10€ por metro cúbico no ano de 2036, caso a inflação até 2036 apresente uma variação próxima da registada nos últimos anos anteriores a 2006.

Voltando ao exercício de quanto nos vai custar esta adesão, adoptando os valores e premissas já acima descritos, e admitindo que o Município de Sardoal estabelecia uma tabela de taxas tal que não obtivesse nem lucro nem prejuízo sobre o caudal consumido pelos seus Munícipes, poderei formular a seguinte tese:

Tese 1. Ainda nem se sabe quanto teremos que pagar pelo sistema em baixa (sistema de distribuição) e já somos obrigados a pagar mais do que actualmente pagamos pelos dois sistemas.

Demonstração: Nos 3 primeiros meses deste ano, paguei 13,13€ pelos 28 metros cúbicos de água que consumi. Admitindo que o Município adoptava a máxima do “utilizador – pagador”, só para a Águas do Centro SA colocar água nos reservatórios ou à entrada das redes de distribuição, eu teria de pagar 15,29€.

Comentário 3: A Autarquia teria de pagar à Águas do Centro SA, no mínimo, durante o ano de 2008, cerca de 195.000€ + IVA, só para que esta última colocasse água em quantidade e qualidade nos reservatórios que alimentam os sistemas da baixa das redes de distribuição domiciliária ao Município do Sardoal. Se juntarmos a tudo isto que a Autarquia tem de assumir, ainda, todos os custos da gestão e manutenção de todos os sistemas de distribuição; que tem de proceder á facturação e cobrança de todos os consumos de água realizados pelos seus Munícipes, facilmente concluiremos que os custos desta adesão podem-se transformar num autêntico pesadelo para os já debilitados cofres da Autarquia Sardoalense.

Comentário 4: E os custos do sistema da baixa? Neste ano de 2008, caso os 2 sistemas (baixa e alta) já estivessem na posse da Concessionária, nos nossos recibos da água será que o preço por metro cúbico da água a cobrar não seria superior a 1,00€ por metro cúbico, em vez dos actuais 0,40€ (de 1 a 5 m³) e 0,50€ (de 6 a 15 m³)?


No próximo artigo proporei um desafio a todos aqueles a quem este assunto tem despertado alguma curiosidade.

O desafio é simples:

- Eu publico todas as cláusulas do contrato relativo á Gestão do Sistema da Alta do Abastecimento de Água ao Concelho do Sardoal por parte da Águas do Centro SA que o Executivo Municipal e a Assembleia Municipal aprovaram por maioria.
- Apenas faço um comentário final.
- Aos interessados, em conhecerem o seu teor, peço não só que leiam, mas também que avaliem muito bem os deveres e os direitos que as partes envolvidas (Município do Sardoal e a “Águas do Centro SA”) reclamam para si e para o outro. Simplesmente admirável!
Para uma parte está reservado o sonho. Para a outra o pesadelo.

No bolo habilmente confeccionado por uma das partes, a “fava” está à vista de todos.

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