terça-feira, 11 de novembro de 2008

A História de um Sonho - Parte 5

Dando sequência à História de um Sonho, convido-vos agora a fazerem uma visita ao Concelho que me acolheu em 1991 e que, desde então, adoptei como meu.

A visita que vos proponho tem um propósito perfeitamente definido: perceber a desertificação continuada a que o mesmo tem sido sujeito, pese todos os investimentos permanentemente anunciados pela Autarquia.

Assim, gostaria de vos pedir que, na visita ao meu Município dispam a capa do sentimento que a terra ou o lugar lhes possam suscitar, enquanto cenários de gerações que vos precederam, e perguntem a vós próprios: este é o lugar ideal para eu viver?

Todos nós somos portadores de pensamentos que resultam de experiências que a vida nos facultou. Não sendo possível que dois corpos ocupem, em simultâneo, o mesmo espaço no mesmo tempo, vale por dizer que as respostas à pergunta que formulo, ainda que possam resultar num simples Sim ou Não, estarão sempre associadas a uma infinidade de justificações, consoante a visão que cada um possa ter sobre o assunto.

Visitemos a Freguesia de Alcaravela

Com uma superfície de 34 quilómetros quadrados, a Freguesia de Alcaravela, constituída por 20 lugares habitados, viu a sua população dos 1797 habitantes, em 1960, reduzir-se para os cerca de 1.000 habitantes, actualmente. Se só por si este decréscimo, que tem sido continuado, é preocupante, o facto de 30% da sua população se inserir num grupo etário com uma idade superior a 64 anos e menos de metade dessa percentagem se inserir no grupo etário inferior aos 15 anos, transforma este caso preocupante num caso alarmante.

È certo que, a este processo de desertificação se encontram associados várias causas, desde a ruptura da economia local, que assentava basicamente nos recursos naturais em torno da floresta a qual, por sua vez, não foi acompanhada com o aparecimento de uma outra economia tão forte quanto aquela, até à deficiente projecção de planeamentos urbanísticos, que pela cegueira da pressa imposta para a sua implementação, mais enfraqueceu o que já fraco se encontrava.

A resposta a tão brutal desígnio levou os seus naturais e residentes a dois caminhos: o êxodo para fora das fronteiras da Freguesia e do Concelho ou a aceitação da realidade tal qual ela se lhes deparava. Desses caminhos existem muitas histórias de sucessos e fracassos, contudo, o que conta para esta história é que, são cada vez mais aqueles que optam pelo trilho do êxodo e já poucos os que teimam em contrariar a adversidade que os invade.

A primeira vez que tive contacto directo com esta Freguesia ocorreu por volta dos anos de 1979/1980 quando por motivos profissionais fui incumbido de fiscalizar obras públicas no Município do Sardoal (Reservatório Elevado de Casal Pedro da Maia, Escola de Monte Cimeiro/ Vale das Onegas, entre outras). Já naquele tempo, mesmo para quem, como eu, vivia fora daquele espaço, a percepção que já então tinha, era de que a sua malha social apresentava alguns sinais de fragilidade. A este propósito lembro-me, ainda, quando por vezes aos sábados à tarde visitava Santa Clara (por motivos de uma forte amizade por alguém que durante algum tempo aí fixou residência) e via os campos cultivados e salpicados de gente voluntariosa com vontade de vencer, a admiração que tal gente provocava em mim.

De então para cá, o que temos vindo a assistir é que aquela Freguesia que uma vez uma Estrada Nacional (244-3) durante muito tempo separou os Caminhos de Cima e os Caminhos de Baixo, já não apresenta tal “fraccionamento”, mas apresenta agora um outro tipo de “fraccionamento”: A ausência de uma identidade própria que possa ser comum a todos os seus residentes.

Anualmente, durante um fim-de-semana vive-se intensa e apaixonadamente dentro das fronteiras do “nosso lugar” ou da “nossa aldeia”. Os vizinhos transformam-se em elementos de uma mesma família, as Festas de Verão acontecem e o êxito das suas festas está garantido. E se tal coesão se revela durante um fim-de-semana e no seio de uma comunidade pertencente ao mesmo lugar, o que acontece nos restantes dias do ano quer no seio da mesma comunidade ou na interacção com as outras comunidades da Freguesia?
Tirando as manhãs de Domingo em que a Fé convida à Missa Dominical e o Mercado Semanal convida a uma compra de oportunidade, o resto é… “cultura da cerveja” e pouco mais.

Para se poder conversar com alguém, vai-se ao Café e… bebe-se. Para se jogar às cartas, vai-se ao Café e… bebe-se. Para se jogar matraquilhos ou bilhar vai-se ao Café e … bebe-se. Será que não existem alternativas. E a verdade é que, não só não existe alternativa como também a prática continuada deste estilo de vida é ela própria a promoção à desertificação.

Lembram-se das tais condições de vida que há 40 anos aquele bairro de 25 a 30 famílias concediam aos seus moradores e que eu descrevi nos artigos anteriores de “A História de um Sonho”?

Porque não existe em Alcaravela um Parque Infantil público para os mais jovens?

Porque não existe em Alcaravela uma Piscina Pública onde os mais novos e mais velhos possam desfrutar de umas “horas de lazer molhadas” em alternativa à Rosa Mana, que, sinceramente, não passou de uma boa intenção desfasada no tempo em muitas dezenas de anos?

Porque não existe em Alcaravela um ringue permanentemente aberto à população onde se possam praticar alguns jogos desde futebol de salão, voleibol, basquetebol, e outros? (A este propósito há que louvar todas as iniciativas que a Associação da Presa tem feito neste sentido e no interior do seu pavilhão, só que não deixa de ser um espaço encerrado e com um uso reservado).

Porque não existe em Alcaravela um simples campo de ténis público?

Porque não existe em Alcaravela um espaço público onde todos possam conviver, independentemente da sua idade ou sexo sem estarem condicionados à necessidade de terem de consumir o que é que quer que seja?

Para que serve uma espécie de ringue que foi construído em Santa Clara que não apresenta um único traço marcado no seu pavimento ou equipamento fixo para que ali se possa desenvolver uma única actividade de lazer ou desportiva? E havendo, será que as condições de segurança para tal prática poderia ficar garantida com os desníveis que apresenta face ao terreno envolvente?

Para que serve o único jardim localizado junto ao mercado diário em Santa Clara se apenas existe “vida” em seu redor aos Domingos de manhã?

Para concluir esta visita à Freguesia de Alcaravela deverei revelar que no meu sonho vejo em Santa Clara:

- Uma piscina com 25x12 metros para os mais adultos e uma outra piscina onde as crianças possam estar em plena segurança, apoiadas por uma estrutura de apoio composta por Vestiários/Balneários e um Snack-bar com uma ampla esplanada;

- Um ringue desportivo com condições para a prática de alguns jogos (futebol de 5, patinagem, basquetebol, voleibol e outras);

- Dois campos de ténis e uma parede de treino;

- Um Parque Infantil;

- Um complexo de edificações para convívio, acessos à Internet e outros.


Para que este sonho tivesse o sucesso desejado e pudesse funcionar como pólo aglutinador de todas as sensibilidades, na administração de todo este complexo de lazer e desportivo, teriam lugar, para além de um representante da Autarquia e da Freguesia, um representante de todas as Associações em actividade em Alcaravela.

Este sonho tive-o aquando das Autárquicas de 2005 quando me candidatei à Presidência da Câmara Municipal de Sardoal e coloquei-o nas minhas prioridades estratégicas para o Concelho. Três anos depois continuo a acreditar que Alcaravela precisa mesmo destas valências para que ela possa ser geradora de um magnetismo especial que promova a unidade e um ideal de vida entre todos os Fregueses de Alcaravela.

Será que quando a conjuntura não favorece a criação de postos de trabalho e as pessoas são confrontadas diariamente de não terem à sua disposição uma qualidade de vida saudável, será que não estão reunidas as condições que possam favorecer a desertificação do espaço onde residem?

É urgente que os Alcaravelenses se unam em torno de um objectivo comum a todos. O sucesso do futuro do Município do Sardoal depende do dinamismo e sucesso de todos os seus habitantes.

(No próximo artigo de “A História de um Sonho” convidá-los-ei para uma visita à Freguesia de Valhascos)

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