sexta-feira, 14 de novembro de 2008

A História de um Sonho - Parte 6

No último artigo convidei-vos para me acompanharem numa visita à Freguesia de Alcaravela, acompanhem-me agora numa visita à Freguesia de Valhascos.

Visitemos a Freguesia de Valhascos
Com uma superfície de 8,3 quilómetros quadrados, a Freguesia de Valhascos possui apenas um lugar que é a própria aldeia de Valhascos. O flagelo da desertificação também atingiu esta Freguesia que viu a sua população de 883 habitantes em 1960 passar para menos de 400 habitantes nos dias de hoje. Se a estes números juntarmos o facto de, aproximadamente, 40% da sua população apresentar uma idade superior a 64 anos e, aproximadamente, 12% se inserir no grupo etário inferior aos 15 anos, rapidamente podemos concluir que o curso da desertificação se agravará a muito breve prazo.

Efectuando uma visita a este lugar, depressa se percebe que é um lugar que apresenta características exclusivas habitacionais onde os postos de trabalho que aí se geram são reduzidos e com uma expressão nula.

Valhascos tem condições intrínsecas que poderiam captar a atenção de todos aqueles que, trabalhando no Município do Sardoal ou nos Municípios vizinhos, pretendessem instalar-se num sítio calmo, seguro, “soalheiro” e com todas as infraestruturas que os novos tempos não dispensam.

Pese o facto de haver alguma “desordem” na sua rede viária urbana (A maioria dos arruamentos ainda apresenta a mesma largura desde há muitas dezenas, ou até mesmo centenas, de anos, inviabilizando que duas viaturas se cruzem ao longo da mesma via e obrigando a que uma delas recue para o cruzamento mais próximo. Isto deve-se unicamente ao “desinteresse” manifestado por todos os políticos que têm governado a Autarquia Sardoalense. É certo que o alargamento das vias de comunicação dentro das fronteiras urbanas nem sempre é pacífica face aos interesses dos particulares. Neste caso, ou em quaisquer outros, é sempre necessário que o bom senso oriente uma decisão. Não digo que todo este processo de alargamento das vias se tenha de concretizar num espaço de tempo definido, mas ele deve de estar planeado e sempre que a ocasião surgir poder ser executado. Um dia abordarei especificamente este tema.) a ligação de Valhascos às redes viárias regionais e nacionais é excelente. Se juntarmos a tudo isto a existência de uma rede de saneamento doméstico (que cobre a maior parte da aldeia), para além das redes de abastecimento de água, luz e telefones estão reunidas as condições julgadas essenciais para alguém que para ali queira vir engrossar o número dos seus habitantes.

Pondo-me na “pele” de alguém que pretendesse residir em Valhascos existiriam sempre duas questões que contribuiriam decisivamente para a minha decisão: o espaço da habitação em si e a vida da comunidade onde a habitação se inseriria.

Quanto à primeira questão eu procuraria “fugir” do interior da aldeia para poder “fugir” aos condicionalismos que a exiguidade dos arruamentos me proporcionariam e procuraria uma parcela de terreno, totalmente urbanizado, junto a um arruamento com duas vias e com boa ligação às outras redes viárias regionais. Julgo que os eixos Cemitério da Cabeça de Mós – Barca do Pego e Valhascos (centro) – Zona Industrial de Sardoal poderiam responder perfeitamente aos meus anseios. A Revisão do Plano Director Municipal deveria prever tal possibilidade através do aumento do perímetro urbano ao longo destes eixos.

Quanto à segunda questão, que envolveria a minha vivência para além do meu espaço de trabalho e da minha casa, vejamos o que a comunidade Valhasquense teria para me oferecer.

- Se eu tivesse um filho de tenra idade teria de inventar algumas actividades para o “entreter”. Porque é que não existe um Parque Infantil em Valhascos?

- Se o meu filho entretanto estivesse em idade escolar, não teria quaisquer problemas ao nível escolar porque Valhascos possui todas as condições nesta área. É certo que quando se é pai ou mãe, os nossos instintos paternais fazem com que reivindiquemos que a escola se localize junto à nossa casa para melhor protegermos os nossos meninos. Tal não sendo possível o que esperamos é que as instituições a quem os “entregamos” cumpram com o seu dever, quer enquanto guardeões da sua segurança, quer enquanto educadores dos seus conhecimentos e saberes. E para além dos limites da escola, o que é que a comunidade poderia oferecer ao meu filho para que ele possa “gastar” a energia que pudesse guardar dentro de si? Contrariamente à Freguesia de Alcaravela, Valhascos tem um ringue aceitável onde 2 balizas convidam ao futebol de 5, algumas “brincadeiras” e pouco mais (honra seja feita à Associação de Valhascos que pese todo o tipo de problemas que a assolam, desde a legalização dos espaços onde se encontra instalada, até aos problemas de liquidez financeira que condicionam a implementação dos seus projectos, e que têm vindo a “cansar” o espírito associativista e comunitário dos seus dirigentes, mesmo assim é capaz de gerar algumas sinergias sociais). Porque é que não existe uma piscina pública? Porque é que não existe um campo de ténis? Porque é que não existe um espaço destinado aos jovens onde estes para além de poderem conviver entre si, possam explorar em conjunto o mundo do “ciberespaço”?

- Agora eu que gosto de libertar o meu espírito através de conversas entre amigos ou “carregar baterias” através da prática de alguma actividade desportiva ou lúdica, onde encontraria um espaço sem que estivesse sujeito à influência da “cultura da cerveja”?

- Se entretanto levasse comigo os meus pais, em que as suas idades já aconselham a paz de um jardim e um espaço de convívio próprio entre as gentes das suas idades, espaço esse dotado de condições que pudessem responder às suas limitações físicas, o que Valhascos me poderia oferecer? Porque é que Valhascos não tem um Jardim público, por mais pequeno que seja? Porque é que as suas gentes mais velhas não têm um espaço público próprio sem ser aqueles bancos postados ao longo da sua praça central, espaço esse onde pudessem “viver melhor os seus dias”?

Valhascos tem condições para inverter o rumo da desertificação a que tem sido votado nos últimos 50 anos. Para tal apenas é preciso que os Valhasquenses se unam e criam as condições de vida que presentemente os limitam e condicionam. (Lembram-se das condições de vida que tinham aquelas 25 a 30 famílias há 40 anos num bairro perdido no centro de Moçambique e que já anteriormente referi? Que jeito fariam em Valhascos!)


(No próximo artigo de “A História de um Sonho” convidá-los-ei para uma visita à Freguesia de Santiago de Montalegre)

Sem comentários: