terça-feira, 18 de novembro de 2008

A História de um Sonho - Parte 7

No último artigo convidei-vos para me acompanharem numa visita à Freguesia de Valhascos, acompanhem-me agora numa visita à Freguesia de Santiago de Montalegre.

Visitemos, então, a Freguesia de Santiago de Montalegre

Com uma superfície de 17 quilómetros quadrados, a Freguesia de Santiago de Montalegre dos 17 lugares habitados que apresentava em 1960, já só possui 12, encontrando-se os outros 5 numa situação de “lugares fantasma”.

O processo de desertificação nesta Freguesia tem sido tão acelerado que não encontro palavras que me permitem classificá-la. Dos 1032 habitantes que residiam na Freguesia em 1960, passaram para 794 em 1970, depois 539 no ano de 1980, depois 389 em 1991, depois 316 em 2001, para hoje o número já se situar claramente abaixo da fasquia das três centenas. A este propósito refira-se, ainda, que o número de eleitores inscritos passou de 365 em 2001, para 325 em 31 de Dezembro de 2007 (alguns destes eleitores, embora residindo noutras paragens, o seu amor àquela terra ainda os impede de alterar o seu lugar de recenseamento). Se a estes números juntarmos, ainda, que em 2001 a percentagem de jovens com uma idade inferior a 15 anos era de apenas 7,2% (23) e a percentagem dos menos jovens com uma idade superior a 64 anos era de 40% (316) penso que não restará dúvidas a ninguém que a situação desta Freguesia, no que concerne ao número dos seus habitantes é… DRAMÁTICA!

Para quem não conhece aquela Freguesia e a visita pela primeira vez, rapidamente conclui que, não fora a existência de algumas estradas ou alguns caminhos asfaltados, e as redes de abastecimento público de água e electricidade, quase que poderia perguntar, que mal aquela gente fez para a sociedade se ter esquecido dela? A sensação que se tem é que parou no tempo vai para muitos anos.

A única escola primária existente na Freguesia, há muito que já fechou.

Não existe um único lugar com rede pública de recolha e tratamento de esgotos. Quem necessitar de tal serviço, é obrigado a construir uma Fossa Séptica própria e esperar meses para que a Autarquia recolha os efluentes ali depositados. Nem com a adesão do Município do Sardoal ao Sistema Multimunicipal das “Águas do Centro, S.A.” houve qualquer vontade em se prever tal possibilidade para os próximos 30 anos. (A este propósito, ainda hoje não consigo perceber porque é que Deputados Municipais que residem naquela Freguesia foram capazes de aprovar tal adesão mesmo sabendo das lacunas que a mesma enfermava e que comprometiam seriamente o futuro da sua Freguesia.)

Os postos de trabalho quase que se podem contar com os dedos de uma mão. No que respeita a espaços de lazer ou desportivos, não existe um ringue, não existe um parque infantil, não existe… nada.

Da mesma maneira que no último artigo referi o jeito que não faria à Freguesia de Valhascos os equipamentos lúdicos e desportivos que tinha aquele bairro de 25 a 30 famílias, há 40-50 anos e perdido no centro de Moçambique, também sou capaz de agora afirmar que, possivelmente, de nada serviriam na Freguesia de Santiago de Montalegre.

A situação é tão grave que ainda hoje não percebo porque é que o sino da Igreja de Santiago de Montalegre ainda não tocou a rebate, chamando todos os Fregueses daquela Freguesia para que, em conjunto, possam encontrar uma saída para o problema que a desertificação a todos toca. Porque esperam?

Aquilo que a Freguesia, neste momento, pode oferecer a quem ali queira passar a residir é de tal forma escasso, que desconfio seriamente que mesmo que a terra fosse doada, dificilmente haveria quem, proveniente de outras paragens, estivesse disposto ali investir.

(No próximo artigo de “A História de um Sonho” convidá-los-ei para uma visita à Freguesia de Sardoal)

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