quinta-feira, 27 de novembro de 2008

A História de um Sonho - Fim

Chega hoje ao fim a História de um Sonho que tenho vindo a partilhar com todos aqueles que me vêm visitando ao longo destas últimas semanas.

Para o efeito, apenas falta acompanharem-me numa visita à Vila do Sardoal, que me acolheu enquanto seu residente em Agosto de 1992 e, por fim, a revelação do próprio sonho que jaz na raiz desta história.

Acompanhem-me numa visita à Vila do Sardoal.

Fazendo uma viagem no tempo, verificamos que dos 1076 habitantes que a Vila tinha no ano de 1960, passaram a 1042 no ano de 1970, depois para 1131 em 1981, depois para 1205 em 1991, depois 1246 para 2001 para, presentemente, se situarem, aproximadamente, entre 1100 e 1200.

Se bem se recordam do que escrevi no meu artigo anterior, quanto ao facto da Vila, nos últimos 50 anos, ter contrariado o fluxo da desertificação que tem ocorrido nos restantes lugares habitados do Município, os números revelados no parágrafo anterior confirmam a minha tese.

Mais referi que, para quem pretende “assentar a sua âncora”, a Vila do Sardoal, enquanto Sede do Município, possui serviços públicos e privados que funcionam como um “engodo” que os restantes lugares não conseguem rivalizar. Para além da existência daqueles serviços, sendo sede do Município, mal parecia se não tivesse uma rede pública de esgotos domésticos, infraestruturas desportivas, lúdicas e culturais, para além de uma malha empresarial que, embora frágil, é capaz de gerar alguns (poucos) postos de trabalho.

E porque a história deste sonho gira em torno da inter-relação entre um individuo e a comunidade onde o mesmo se insere e, ainda, num espaço temporal situado para além das fronteiras da sua casa, escola ou local de trabalho, incidamos a nossa viagem pelos caminhos da Vila que nos possam conduzir àqueles espaços.

Comecemos pelos Parques Infantis. Por incrível que possa parecer a Vila ainda não possui um espaço que possa ser classificado como tal. Porque demora? (Para aqueles dispostos a contrariar esta minha afirmação justificando-se com o Parque Infantil do Ribeiro Barato, aconselho que o visitem. Á entrada da porta e do seu lado direito uma placa designa aquele espaço de Parque Infantil destinado a crianças dos 4 aos 12 anos. Mais se pode ler que é proibida a entrada a animais. Ultrapassem a porta que abre para dentro (não deveria abrir para fora?) e que se encontra permanentemente aberta (não deveria ter uma mola para se manter permanentemente fechada?) e pisem aquele espaço com o chão coberto por carrasca de pinheiro ardido e que remonta à sua inauguração, há alguns anos. Pensem nos animais que por ali demandam e lembrem-se de uma família de javalis que há algumas semanas atrás entendeu visitar a relva junto àquele parque e efectuar “prospecções” naquele espaço. Diante tudo isto, digam-me, se será que se pode chamar àquele espaço de Parque Infantil? Eu creio que não.)

No que respeita a jardins e espaços verdes, o Jardim da Tapada da Torre, o Jardim da Praça Nova (ou das Tílias) e o Parque de Merendas, convidam a um momento de repouso, ainda que, qualquer deles, não deixe de apresentar algumas deficiências. Nos dois primeiros a sombra é uma excelente companhia no Verão. No último, a ausência de sombras convida o seu uso apenas no Inverno. Nos dois primeiros, a inexistência de Instalações Sanitárias públicas condiciona todos aqueles que necessitem de tais instalações. A alternativa é irem ao café mais próximo (a Instalação Sanitária pública em frente do Banco Millenium BCP pode ser opção ao Jardim da Praça Nova, mas… sinceramente… quem é que, depois de a conhecer, não opta preferencialmente pela instalação sanitária de um Café próximo? No Parque de Merendas, a Instalação Sanitária ali existente continua a responder positivamente a todos aqueles que a procuram, pese o facto do seu isolamento estar “à mão” de uns quantos actos de “selvajaria” (neste aspecto há que louvar a acção da Autarquia na manutenção continua da sua limpeza diária, mesmo durante os fins de semana).

No que concerne à existência de espaços de lazer e desportivos, as Piscinas Descoberta e Coberta são um excelente atractivo para quem pretenda ter um contacto directo e privilegiado com o elemento água, quer no Inverno ou no Verão. E se não me custa dar nota alta àquelas infraestruturas, já me custa valorizar as outras opções que restam. Com excepção do ringue que em boa hora a Junta de Freguesia de Sardoal construiu há alguns anos, junto ao Bairro da Santa Casa da Misericórdia, e onde duas balizas de futebol de 5 e uma tabela de basquetebol convidam à prática de alguns exercícios físicos sem se estar condicionado a ter de ultrapassar primeiro uma porta permanentemente fechada (é o que acontece com o ringue do Polidesportivo que leva muitas vezes os nossos jovens a terem de “trepar” por cima da porta para poderem aceder ao mesmo), a Vila do Sardoal quase que parou no tempo desde que foi construído o ringue e o campo de futebol (há quantos anos?). Agora que a Câmara Municipal de Sardoal se presta para colocar um tapete de relva sintética no campo de futebol parece estar de volta a vontade de se voltar a apostar em infraestruturas desportivas. O que, quer eu quer qualquer outro Sardoalense pede é que o entusiasmo não se perca e que, de entre as disponibilidades financeiras da Câmara se encontrem saídas para se dotar os espaços desportivos de condições de uso para todos os intervenientes, quer sejam praticantes ou assistentes. Com este investimento no Piso sintético é dado um passo significativo na melhoria das condições para a prática do futebol. É verdade que o Polidesportivo tem dois balneários/vestiários para os jogadores, uma cabina para os árbitros e umas bancadas para alguma assistência, mas só isto chega? É claro que não. Obrigar o público a sair do Polidesportivo e buscar a barreira dos troncos dos eucaliptos localizados no exterior ou ser obrigado a andar cerca de 200 metros para aceder às instalações sanitárias do Quartel dos Bombeiros, e desse modo poder responder a necessidades fisiológicas que o invada, é no mínimo desconfortável para quem vive neste século. O incómodo que tal situação por vezes promove, muitas vezes, é o bastante para desmotivar todo aquele que tenha vontade de ali se deslocar.

Para terminar a visita aos espaços desportivos uma palavra apenas para aqueles que não existem. Sou capaz de aceitar que a concretização do sonho em se construir um pavilhão gimnodesportivo venha sendo permanentemente adiado por motivos que se prendem com o seu custo não ser compatível com a liquidez financeira do Município. Porém custa-me a aceitar que até hoje ainda não se tenham construído dois campos de ténis, pese o facto de já ouvir tal vontade há anos. Que diabo, quanto custaria à Autarquia a construção de dois campos de ténis em terra batida (ou mesmo em cimento), uma parede de alvenaria e todo este conjunto cercado por rede com 4 a 6 metros de altura? Possivelmente ficaria mais económico que algumas actividades que aqui me dispenso de indicar e cuja existência tem como único propósito a valorização da imagem de alguém.

Quanto à existência de espaços culturais, a Vila está muito bem servida no que respeita a uma sala de espectáculos, mas mal servida no que concerne a espaços que designo de “oficinas de cultura”. Com a construção do Centro Cultural, a Autarquia Sardoalense conseguiu voltar a dinamizar algumas actividades culturais que o Município há muito desconhecia, por dependerem em exclusivo de uma casa de espectáculos e espaços nobres passíveis de serem utilizados por um significativo número de pessoas em simultâneo. Quando se sabe que tais actividades não geram receitas suficientes que permitam cobrir as suas despesas e quando se conhece as fortíssimas limitações financeiras da Autarquia há que aplaudir todos os “ginastas” que têm conseguido aliar a apresentação de bons produtos culturais com recurso a baixos investimentos. Só que se a nota que se pode atribuir à dinâmica do Centro Cultural é francamente positiva, já quanto às “oficinas de cultura”, a nota a atribuir à Autarquia deverá ser negativa. Há quem queira aprender e há quem esteja disposto a ensinar. Para quando espaços condignos para o GETAS e Filarmónica? Ainda pensei que o Antigo Lagar dos Paulinos pudesse responder às necessidades urgentes de, pelo menos, uma destas Associações, mas parece que o entusiasmo se desvaneceu ultimamente. Será que isso tem a ver com outras opções essenciais à afixação de uma cruz em boletins de voto?

Sobre a Vila do Sardoal, muito mais se poderia afirmar sobre as valências que possui ou que deveria possuir. Contudo, no panorama geral do Município, não restará dúvidas a ninguém que as condições de vida que patrocina a todos aqueles que nela residam são infinitamente superiores às condições disponíveis para além das suas fronteiras.

A revelação do Sonho

Para dar por concluída esta minha história apenas resta revelar o sonho. Ao longo destas semanas deixei escapar várias vezes o mesmo. É simples:

Um dos caminhos que pode conduzir à desertificação de um lugar é, para além da ausência de infraestruturas básicas e postos de trabalho, a não existência de condições que permitam aos seus residentes interagir saudavelmente entre si e com os outros.

Não é preciso inventar o que já há muito está inventado. “Que bom seria poder ver disseminado pelo Município do Sardoal, a reprodução daquelas infraestruturas de lazer e desportivas que um pequeno bairro de 25 a 30 famílias localizado no interior de Moçambique já possuía nos longínquos anos de 1960 e 1970, e que ainda hoje, alguns deles ainda são capazes de desafiar a acção do tempo!”

Durante algum tempo mantive viva a possibilidade de poder ser um agente decisor na transformação desse sonho em realidade. Porém, há algumas semanas atrás, quis o destino que essa possibilidade se tenha desvanecido por completo. Hoje, como o sonho ainda permanece, só me resta esperar que outros o materializem.

EU ACREDITO QUE É POSSÍVEL.

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