quarta-feira, 23 de julho de 2008

Agonia Financeira de um Município (9)

Julgo que todos nós já observámos situações que nos indignam. Uma das situações que mais me indigna é saber que, numa família apresentando profundas dificuldades financeiras, o chefe dessa família tem comportamentos irresponsáveis. Em vez de se esforçar por eliminar os problemas financeiros da sua família, adopta uma postura de absoluta passividade e decide entregar tal tarefa à sorte ou à esmola alheia, ao mesmo tempo que adopta um tipo de vida diferente do seu agregado familiar, reservando a este a tarefa de carregar o fardo da desgraça. E é vê-los bem falantes enquanto “alimentam” um qualquer vício (ou vícios) que geralmente possuem.

A primeira experiência que tive oportunidade de observar foi em Moçambique (1963-1965)era eu um menino. O meu pai trabalhava numa cantina no mato, a 10 quilómetros de Marromeu. Enquanto o chefe de família negro “derretia” o seu salário na sua bicicleta, no seu rádio, no seu vestuário e nos seus vícios (tabaco, bebida e mulheres), a sua própria mulher tinha de alimentar toda a família à custa da força dos seus braços, empunhando uma enxada de Sol a Sol. Era ela que se incumbia de “pôr a comida na mesa” e de fazer autênticos milagres para que os seus filhos vestissem “qualquer coisa”. Ainda hoje nutro uma profunda admiração pela mulher negra moçambicana, especialmente as “Sena”.

À medida que fui crescendo e vivendo tive oportunidade de observar comportamentos similares protagonizados por alguns chefes de família, em outras paragens, outros continentes e em outros tempos. A indignação aumenta quando sentimos que o modo de vida que esses chefes de família têm se suporta na filosofia da cigarra. Enquanto “cantam”, os seus dependentes são obrigados a suportar a dor da impotência por sozinhos não poderem contrariar a condição da miséria para onde são lançados.

Julgo ser dispensável referir qual é, geralmente, o fim da maioria dessas famílias.

Depois desta introdução convido-vos a regressarem comigo ao tema do meu artigo.

O quarto exemplo que comprova a “Agonia Financeira” do meu Município assenta no facto do seu responsável máximo ser portador do “espírito da cigarra”. Diante de um cenário de crise financeira, tem um comportamento de um qualquer mau chefe de família. A sua preocupação incide no cultivar da sua imagem no dia de hoje. O dia de amanhã ainda vem muito longe….

Este comportamento em vez de aliviar a Agonia agrava-a ainda mais. Por certo alguns pensarão:

- Será que a irresponsabilidade advém do desconhecimento que tem sobre a realidade financeira do seu Município?

- É claro que não.

Sou dos que acreditam que embora o Presidente da Autarquia Sardoalense não conheça (porque não quer conhecer) a verdadeira extensão de todo o problema financeiro em que o seu Município se encontra mergulhado, o que sabe, seria mais do que suficiente para tomar medidas que a situação, há muito, exige.

Ele recusa-se a implementar qualquer tipo de medidas porque sabe que é um chefe de família a prazo. E se está a prazo, para quê preocupar-se em adoptar medidas que poderão “beliscar” a sua imagem de “tipo porreiro” e “gestor moderno”. Em 30 de Abril de 2003, dizia ao jornal regional “O Mirante” que não gostava de exposição pública, dispensava os discursos e procurava fugir do protagonismo. Segundo ele, “…Se eu pudesse ter à minha beira um presidente para fazer os discursos, participar em cerimónias e para receber as pessoas, seria o ideal. O outro presidente para trabalhar seria eu”. (Penso que diante desta afirmação, conhecendo nós a personagem, é de nos lavarmos em lágrimas de tanto rirmos)

Vamos a factos:

Facto 1 – Não há verbas para nada, mas … (nos próximos artigos abordarei algumas situações que merecem serem aqui registadas)

No entanto, para a Viagem (dita de estudo) ao estrangeiro, que se encontra neste momento a decorrer, para a constituição de um fundo de maneio que permita ao funcionário (com a categoria de Engenheiro Técnico de Restauro) que incorpora a comitiva e sobre quem recai a responsabilidade de proceder aos pagamentos das portagens, entradas dos parques de campismo, parque temático, etc (os jovens que se encarreguem de levar comida e algum dinheiro no bolso) foi aprovado em reunião de Câmara (com os votos contra dos Vereadores da Oposição), a verba de 7.500€.

Para pagamento das ajudas de custo a todos os funcionários e Presidente da Câmara que fazem parte da comitiva da Viagem foram também aprovados, em reunião do Executivo Municipal, reforços financeiros no valor aproximado de 9.000 €. Destes, 1.600€ ficarão reservados ao próprio Presidente da Câmara. (Para quem uma vez disse que não recebia ajudas de custo nas viagens de estudo ao estrangeiro, é caso para se pensar se quando o disse não estava a cruzar os dedos debaixo da mesa.)

Quanto aos custos globais desta viagem que anualmente rondam os 30 a 40 mil euros são, segundo o pensamento do Presidente da Câmara, um excelente investimento. Para quem? Para os jovens? Para uma “corte” que não se cansará de elogiar as vestes do rei que vai nu? Para quem será? Dá-se um rebuçado a quem acerte na resposta. (Mas um só. Dois rebuçados fariam, de certeza, um rombo muito sério nas minhas finanças, por isso, fico-me por apenas um só rebuçado.)

(No próximo artigo abordarei o caso do Reservatório de Valhascos que, por não haver 30 ou 40 Euros necessários para o arranjo da bóia reguladora da entrada de água, tem feito com que, desde 2006, milhares de metros cúbicos de águas tratadas, para abastecimento à população, sejam lançadas para a rua. Quando inquirido sobre a causa que pudesse estar na origem de tal desperdício de água, a justificação dada pelo Presidente da Câmara foi que a mesma se devia à lavagem de filtros. O mistério(?) dos filtros fica para o próximo artigo.)

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