terça-feira, 29 de julho de 2008

Os Filtros de Água Invisíveis

Apresentei no meu último artigo (A agonia financeira de um Município (9)) o exemplo de como o responsável máximo da Autarquia Sardoalense vem cultivando o “espírito da cigarra”. Num cenário de crise financeira profunda em que o seu (e nosso) Município se encontra mergulhado, a sua única preocupação é viver o dia de hoje (o amanhã ainda vem muito longe e outros que se preocupem com ele) e cultivar a sua imagem de “tipo porreiro”, “gestor moderno” e “trabalhador incansável”.

A manta, que ao longo dos anos tem servido para encobrir a crise financeira, há muito que se revela pequena para tapar tamanha miséria. O que não é possível tapar-se com a manta, tapa-se com um truque de ilusionismo. O truque é simples: INVENTA-SE UMA JUSTIFICAÇÃO PARA A SUA EXISTÊNCIA.

E se alguém se aperceber que a justificação é um logro, o que pode fazer?
- Se estiver abrangido pela “Lei da rolha”, cala-se
(não o fazendo cairá sobre si, ou sobre os seus mais próximos, a ira do visado).
- Se não estiver abrangido por tal lei e ouse denunciar a farsa sujeita-se a outro truque de ilusionismo, porque: “O Presidente da Câmara não mente e é muito deselegante afirmar o contrário”. Invariavelmente, a culpa recai nos Serviços e nos Técnicos. (Digam-me lá se este comportamento não faz lembrar o tal mau “chefe de família” que é capaz de se escudar atrás da inocência de um filho para que lhe desculpem um acto por si cometido?)

Porque não estou, nem nunca estive, abrangido por qualquer “Lei da Rolha”, passo a descrever um dos seus truques de magia:

“ O mistério dos Filtros nos Reservatórios de Valhascos”

(No passado dia 2 de Julho de 2008, eu e o meu colega Pedro Duque pudemos finalmente visitar alguns equipamentos ligados ao tratamento e abastecimento domiciliário de água dispersos pelo Município do Sardoal. Tais visitas surgiram na sequência de um pedido formulado, para o efeito, ao Presidente da Câmara, e após o episódio da concentração de “tirame” nas águas da Barragem da Lapa”. Ainda que, por motivos temporais, não nos tenha sido possível visitar todas as infraestruturas, as visitadas mereceram da nossa parte uma intervenção na Reunião do Executivo Municipal no dia 16 de Julho de 2008, durante o período de Antes da Ordem dos Trabalhos. Incumbido de manifestar a nossa posição sobre o que nos foi possível observar, passo a transcrever o que proferi na altura sobre a visita ao interior dos Reservatórios de Valhascos)

“… Com excepção da Estação de Bombagem e Tratamento da Lapa existem alguns reparos que se julga pertinente efectuar.

Ponto 1 …

Ponto 8 – Os desperdícios de água nos Reservatórios de Valhascos pelo mau funcionamento da válvula/bóia são evidentes.

Em virtude se encontrar avariada a válvula que regula a entrada de água nos reservatórios (água já tratada e proveniente dos Reservatórios de Cabeça das Mós), não é vedada a entrada de água nos reservatórios quando estes se encontram cheios, implicando que a água seja descarregada através do tubo descarregador de superfície e seja lançada numa linha de água que termina na valeta revestida ao longo da Estrada Municipal que liga a Estrada Municipal (Pisco – Mouriscas) e junto ao Cemitério de Cabeça das Mós e a localidade de Valhascos.

Este facto permite aos Vereadores Fernando Morais e Pedro Duque recuar alguns meses atrás:

- No dia 2 de Outubro de 2007, durante a reunião da Assembleia Municipal um residente em Valhascos, no período de intervenção do público, voltou a trazer à Assembleia um assunto já por si anteriormente trazido em outras reuniões. Segundo aquele munícipe, em alguns dias pela manhã era possível observar-se um grande caudal de água a fluir ao longo da valeta da Estrada Municipal, água essa proveniente dos reservatórios de Valhascos. Como resposta o Senhor Presidente da Câmara repetiu o que antes afirmara: “… a água era resultado das lavagens dos filtros, lavagem essa efectuada pelos funcionários da Câmara”.

- No dia 3 de Outubro de 2007, na reunião do Executivo Municipal, e no Período de Antes da Ordem dos Trabalhos o Vereador Pedro Duque inquiriu o Senhor Presidente sobre o assunto, uma vez que tal denúncia por parte do Munícipe já era recorrente. Como resposta o Senhor Presidente “… informou que o desperdício de água se deve à lavagem dos filtros”. Mais referiu “…que este assunto se verifica mais no Verão porque o consumo é maior e como a conduta de Cabeça das Mós-Valhascos não é suficiente para abastecer Valhascos há a necessidade em situações pontuais, ligar alguns furos e os filtros existentes no depósito”. Perante tal esclarecimento o Vereador Fernando Morais interveio afirmando que também sabe o que é lavagem de filtros e questionou se às 7 horas da manhã se lavam filtros. Em resposta, o Senhor Presidente da Câmara respondeu afirmativamente dado que o funcionário responsável por vezes vai a essa hora. O funcionário tem ordens expressas que sempre que necessário deverá lavar os filtros. Na conclusão deste assunto interveio o Senhor Vice-Presidente admitindo que pontualmente o depósito poderia estar cheio de água e poder deitar por fora.

- Hoje sabe-se que a única apreciação verdadeira ao desperdício da água foi feita pelo Senhor Vice-Presidente da Câmara no dia 3 de Outubro de 2007. Da visita efectuada aos Reservatórios os Vereadores Fernando Morais e Pedro Duque não observaram a remota possibilidade do desperdício da água ser originária da lavagem de filtros, porque simplesmente não os viram.

- Hoje sabe-se que, por desleixo ou irresponsabilidade de alguém, a válvula de controle de admissão de água nos reservatórios que há largos meses (se calhar anos) se encontra avariada, não é arranjada nem substituída por uma torneira nova, implicando que logo que os reservatórios se encontrem cheios, têm vindo a ser desperdiçados e lançados à rua, centenas ou mesmo milhares de metros cúbicos de água tratada que poderiam ser evitadas com um investimento de 3 ou 4 dezenas de euros.

- Hoje sabe-se que os esclarecimentos efectuados pelo Senhor Presidente da Câmara quer em reunião da Assembleia Municipal no dia 2 de Outubro de 2007, quer em reunião do Executivo Municipal no dia 3 de Outubro de 2007, não foram verdadeiros.

Desse modo os Vereadores Fernando Morais e Pedro Duque lamentam a postura do Senhor Presidente em todo este caso, ao mesmo tempo que esperam que em futuras situações similares o Senhor Presidente reúna todas as informações necessárias antes de emitir a sua opinião sobre o assunto.

Para a conclusão deste ponto os Vereadores Fernando Morais e Pedro Duque solicitam ao Senhor Presidente que com carácter de urgência providencie para que o desperdício da água tratada a partir dos Reservatórios de Valhascos seja anulada, mandando reparar ou substituir a bóia reguladora da admissão da água.”

Diante desta intervenção a resposta do Presidente da Câmara foi o silêncio absoluto.


[Esclarecimento: Sei agora, que na intervenção que fiz durante a reunião do Executivo Municipal no dia 16 de Julho de 2008, não fui verdadeiro numa data, ao lembrar a reunião da Assembleia Municipal realizada no dia 2 de Outubro de 2007, durante a qual o Presidente da Câmara faltou à verdade ao esclarecer o Munícipe que os desperdícios de água se deviam à lavagem dos filtros. A reunião da Assembleia Municipal foi realizada sim, mas no dia 27 de Setembro de 2007 e não no dia 2 de Outubro conforme eu, erradamente, afirmara. Pelo facto apresento as minhas desculpas, é que, eu também erro.
Aquilo que eu deveria ter dito, e que consta das actas das reuniões da Assembleia Municipal, é que o Munícipe:
- No dia 18 de Abril de 2007 já questionara o Presidente da Câmara sobre “qual a razão para que, após um ano depois de ter trazido àquela Assembleia Municipal o caso, a água proveniente dos reservatórios continuava a correr pela valeta, implicando que nada havia sido feito para resolver o problema”;
- E no dia 27 de Setembro de 2007 voltou a questionar o Presidente da Câmara sobre o mesmo assunto.
- A resposta do Presidente da Câmara sobre o desperdício da água foi sempre a mesma: - O desperdício era devido à lavagem dos filtros!


Conforme se pode verificar, ao trocar a data da reunião da Assembleia Municipal de 27 de Setembro de 2007 para 2 de Outubro de 2007 e independentemente do assunto tratado ter sido aquele que descrevi, não fui rigoroso, pelo que manda o bom senso que peça desculpa pelo erro. Quanto ao mais mantenho tudo o que afirmei.
A propósito: será que caso eu tivesse afirmado o que aqui hoje revelo não teria sido mais “mauzinho” para com o chefe da família Sardoalense? Será fácil de ver, por isso, que não houve qualquer premeditação na troca das datas da reunião da Assembleia Municipal.]

Quanto às ilações que se podem tirar sobre “o mistério da lavagem dos filtros nos Reservatórios de Valhascos” deixo a cada um tal tarefa.

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