quarta-feira, 9 de abril de 2008

A (In) Disciplina na Escola

2008 – A disputa pela posse de um telemóvel, protagonizada por uma professora de Francês e uma aluna do 8º ano, no interior de uma sala de aulas, numa Escola no Porto, gerou um terramoto na sociedade Portuguesa. A cena entrou nas nossas casas através de uma caixa mágica à qual poucos resistem. Vá lá saber-se se foram as suas artes mágicas ou hipnóticas, de repente, um estado de amnésia invade-nos e ficamos todas a saber que existe indisciplina nas nossas escolas.
- O que é isso de indisciplina? Isso é bom ou é mau? (Perguntaram uns.)
- É mau! É muito mau! (Responderam de pronto outros.)
- Se é mau, a culpa é do Primeiro-ministro e da Ministra da Educação! Malandros! Rua! (Gritaram logo outros que há muito se encontravam calados).
Para mim existe uma profunda diferença quando interpreto comportamentos sociais no interior do espaço escolar e tipificados como Indisciplina ou Violência. A indisciplina é um caso para ser solucionado pelos pais e encarregados de educação, pelos alunos e pelos professores. A violência, o último estádio da indisciplina é um assunto de polícia. Por isso, a minha abordagem ao problema circunscreve-se apenas, e só, à indisciplina que sempre existiu e que sempre existirá no interior das nossas escolas. Quando ela surge, a primeira reacção que se tem é emitir juízos de valor sobre os pais que não dão às crianças a educação que deviam; sobre as crianças ou adolescentes que são muito mais insubordinados hoje do que no passado; sobre os professores; sobre os auxiliares de acção educativa, etc, etc. Porque será que raramente perguntamos a nós próprios o que poderia ter sido feito para que tal acto de indisciplina pudesse ter sido evitado e tomar essa resposta para prevenir que outros actos similares se venham a repetir?
A Idade da Informática em que hoje vivemos obriga-nos a estar permanentemente atentos. Esta Era nem sempre nos dá o tempo que às vezes precisamos para pensar, mas vamos pensar um pouco sobre o que pode estar na essência de um acto de indisciplina protagonizado por um qualquer adolescente numa nossa escola:
- Será que existem situações em que um professor no decurso de uma aula de uma hora é capaz de falar mais com um aluno do que os seus próprios pais nesse dia?
- Será que existem situações em que um aluno se pode sentir discriminado pelo professor só porque este entende dar mais atenção a outro colega do que a ele?
- Será que existem alunos que quando revelam o desconhecimento das matérias escolares chegam a ser ridicularizados pelos seus colegas e algumas vezes pelos seus próprios professores?
- Será que hoje já não existem professores que entendem que o seu papel é “descarregar matéria” no interior da sala de aulas deixando ao cuidado dos alunos de “apanharem” o que quiserem?
- Será que hoje já não existem pais que quando instados a reunirem com os professores dos seus filhos entendem faltar a essas reuniões por julgarem serem pura perda de tempo?
Muitas perguntas poderia formular, mas em nenhuma seria capaz de colocar o aluno como sendo ele o primeiro responsável por promover um acto de indisciplina. Subjacente a esse acto, qualquer psicólogo mais atento poderá encontrar num adulto a causa desse acto. E ao falarmos dos alunos de hoje, estamos a falar dos homens que amanhã zelarão por nós. É aqui que entronca todo o meu pensamento sobre esta matéria. Sabendo que a indisciplina sempre existirá, nomeadamente agora, quando os nossos jovens são influenciados por experiências que escapam aos seus tutores e provenientes do uso dos vídeo jogos e Internet, será da responsabilidade de todos nós enquanto Pais, Encarregados de Educação, Professores, Governantes e Sociedade Civil, contribuirmos activamente para que a indisciplina se reduza. Ao Professor deverá ser entregue a tarefa de assumir a maior cota parte de responsabilidade em todo este processo. Ser-se hoje professor dos ensinos básico e secundário não basta ser-se portador dos conhecimentos que os programas curriculares determinam. Deverá ser o espírito de missão que deverá guiar toda a sua conduta. No mundo que é uma sala de aulas existem portas à espera de serem abertas. No bolso do professor pode estar a chave que falta para que essas portas se abram. Porque esperam alguns professores para as abrir?

Sem comentários: